Adital - 21/07/2014
A Rede de Solidariedade com Honduras, uma rede de mais de 30 organizações solidárias dos Estados Unidos e do Departamento 19, uma rede de hondurenhos que vivem nos EUA e Canadá, membros do FNRP (Frente Nacional de Resistência Popular) e do partido LIVRE divulgaram um comunicado no qual manifestam sua indignação diante da crise de refugiados na fronteira dos EUA. Esses meninos e meninas têm fugido dos militares e da polícia, narcotraficantes, da violência de empresas privadas e da pobreza extrema na América Central. Buscam se reunir com membros de suas famílias nos EUA. Portanto, não deveriam nem poderiam ser vistos como estrangeiros ilegais – são refugiados.
"Sentimos vergonha de que a resposta da classe governante e da administração de Obama [Barack Obama, presidente estadunidense] diante dessa crise é fazer um chamado a aumentar a militarização da fronteira e acelerar o processo de deportação, sem reconhecer a responsabilidade do governo estadunidense em criar essa crise em curto e longo prazo”, afirma a Rede.
O problema dos meninos e meninas refugiados seria em parte um resultado das políticas estadunidenses dos anos 1980, quando o governo hondurenho treinou e financiou os exércitos e polícia de El Salvador e da Guatemala para prevenirem revoluções populares, e, mais recentemente, quando os EUA apoiaram o golpe de Estado contra o presidente Manuel Zelaya em Honduras, em 2009. A política externa dos EUA, baseada na militarização da "guerra contra as drogas” e apoiada tanto por democratas como pelos republicanos, somente daria mais poder às forças policiais e militares corruptas, especialmente em Honduras e Guatemala.
As entidades denunciam que, com suas políticas do chamado livre comércio e de ajustes estruturais, os EUA têm obrigado os países da América Central e o México a limitarem serviços sociais e o crédito aos camponeses, enquanto aniquilam os produtores locais com uma inundação de produtos baratos da agroindústria estadunidense subsidiados pelos impostos. Estas políticas têm aumentado a pobreza e o desespero na América Central e México e criado terreno fértil para os narcotraficantes e as quadrilhas.
Segundo a Rede, a administração de Obama tem uma grande responsabilidade peo fluxo de refugiados de Honduras. Os EUA também fizeram vista grossa diante do golpe militar de 28 de junho de 2009, que derrocou o governo democraticamente eleito. Depois de brevemente suspender a ajuda, a administração de Obama se dispôs de seu peso diplomático para voltar a Honduras, ainda com um governo surgido do golpe, à OEA [Organização de Estados Americanos] e à ONU [Organização das Nações Unidas], apesar da oposição da maior parte dos países da América Latina. A embaixadora Lisa Kubiske, rapidamente, reconheceu a eleição do governo de fato do presidente Juan Orlando Hernández, no último mês de novembro, em meio a denúncias críveis de fraude massiva. "A administração de Obama tem gastado milhões de dólares desde o golpe para equipar e treinar as forças militares e policiais, corruptas e assassinas, resultando num aumento massivo massacres de camponeses, jornalistas, ativistas do partido LIVRE, defensores de direitos humanos, indígenas, sindicalistas, mulheres e ativistas LGBTI”.
"Estamos especialmente tristes e indignados pelo fato de que a solicitação de 3,7 bilhões de dólares do presidente Obama ao Congresso para fundos de emergência com o objetivo de enfrentar a crise de refugiados inclui quase 2 bilhões de dólares para incrementar o encarceramento e a deportação de refugiados menores de idade, sem respeitar o devido processo nem levar em conta as raízes da fuga desesperada de seus países de origem”, assinala o comunicado. Por certo, para acelerar essas deportações, ele propôs [Obama] a suspensão de uma lei de 2008, que requer que menores de idade sejam transferidos dos centros de detenção para centros onde possam localizar membros de suas famílias para cuidá-los.
A Rede faz, além disso, um chamado à administração de Obama e a todos os oficiais eleitos a que deixem de jogar politicamente com as vidas desses meninos meninas. Exigem: que a administração de Obama cumpra com suas responsabilidades sob os tratados internacionais e suas próprias leis a respeito do devido processo e tratamento dos refugiados que buscam asilo, e os menores de idade; que detenham todas as deportações até que haja uma reforma migratória integral, baseada em direitos humanos e na reunificação familiar, não na militarização da fronteira; e uma mudança profunda em suas políticas econômicas, militares, de drogas, e de comércio internacional para que essas políticas respeitem a autodeterminação dos povos da América Central e do México, além de criar alternativas ao deslocamento e a migração com trabalhos e salários dignos, comunidades prósperas e governos responsáveis e democráticos.
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