Muitos brasileiros ainda choram a derrota de 7 a 1 para a Alemanha
na Copa da FIFA. Mas eu quero perguntar: é possível o Brasil sofrer uma derrota
ainda maior do que essa? É possível, sim. Talvez não nos sentimos humilhados
porque ainda não temos consciência dela. Se duvidarem, acompanhem o que vou
contar.
Ricardo Baitelo, especialista em energia do Greenpeace, enviou
pela internet um artigo intitulado “Capacidade instalada solar no Brasil deve
ultrapassar 1 GW em 2016”. É o cálculo de uma empresa, e ela ainda lembra que
isso depende dos leilões especiais que o governo federal deve realizar até o
fim do ano.
Um leitor logo enviou o seguinte comentário: “é isso aí,
Baitelo, e vamos ter que nos satisfazer com esta timidez toda... já que, em
2016, a projeção é ter quase 300 GW instalados no mundo. Hoje já passa dos 120
GW. A China atualmente instala mais de 1 GW por mês...”
Baitelo respondeu: “Exato, a China tem a meta de 14 GW para
este ano, e 8 deles terão que vir de sistemas descentralizados”.
Aí, eu não me contive, e escrevi aos dois: nessa comparação
entre Brasil e China na produção de energia solar, a China nos humilha bem mais
do que a Alemanha na Copa da Fifa: ela ganha de nós, em 2014, de 14 a zero! E
se quisermos ir para 2016, a derrota será de 42 a um! É isso mesmo, enquanto o
Brasil tiver produzido seu primeiro GW, a China terá produzido mais 42 GW de
energia solar, e ela quer chegar, em 2017, a 70 GW, enquanto o Brasil estará
começando o seu segundo GW.
Para entender melhor o peso da derrota, basta lembrar que o
pico de consumo de energia no Brasil foi de 80 GW, em janeiro deste ano. Então,
a China está somando, com energia solar, a cada ano, a produção da hidrelétrica
de Itaipu, e em 2017, só faltarão 10 GW para produzir toda a energia que
consumimos no Brasil.
Como temos sol forte praticamente em todo o território
nacional, o sabor dessa derrota é ou deveria ser muito mais amargo do que a
derrota para a Alemanha. E por isso, em vez de teimar na construção de grandes
usinas hidrelétricas, termelétricas e nucleares, que poluem e geram grandes
desastres sociais e ambientais, bem que poderíamos seguir o exemplo da China e
produzir 14 GW de energia solar a cada ano, e a maior parte dela ser
descentralizada, nos telhados das nossas casas.
[texto de Ivo Poletto para programa radiofônico, que pode ser baixado em www.fmclimaticas.org.br]
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