Muito provavelmente poucas pessoas conhecem o nome e a
localização da cidade de Humaitá. Da mesma forma, praticamente ninguém consegue
entender o que está acontecendo com o povo Tenharim, que tem seu território
neste município. Por isso, vale a pena falar um pouco sobre este conflito
noticiado pelos meios de comunicação.
Humaitá está no sul do Amazonas. Passa por ela a
Transamazônica, estrada construída duros tempos de ditadura. Ela é uma das
causas do conflito atual, pois corta ao meio o território dos Tenharim e foi
construída sem consultar este povo. Aliás, nunca se consulta os povos
indígenas, nem mesmo para definir quem vai cuidar da saúde deles. Recentemente,
ao estar com lideranças indígenas do município vizinho de Lábrea, apoiei ação
deles contra a nomeação de uma pessoa que nada entende de saúde para trabalhar
em toda essa região.
Em dezembro passado, o cacique Ivam Tenharim foi encontrado
morto na Transamazônica. Segundo a versão oficial, ele estava bêbado e teria
sido vítima de atropelamento. Mas outras fontes, como o CIMI, indicam que “o cacique Ivan Tenharim era um incansável opositor contra a pilhagem
praticada por madeireiros na terra indígena... e contribuiu para o fechamento de
serrarias ilegais na região”. Ele foi encontrado com
sinais de espancamento em todo o corpo e na cabeça, mas a polícia, como de
costume, não abriu inquérito para investigar a causa de sua morte.
Segundo líderes da cidade, os Tenharim seriam responsáveis
pelo sequestro de três homens, não encontrados até agora. Antes que se
comprovasse a acusação, revoltosos atacaram e queimaram a sede da Funai e a
Casa do Índio em Humaitá, e queimaram as guaritas que serviam para os Tenharim
cobrarem pedágio pelo uso da Transamazônica. Em outras palavras, para as elites
os Tenharim são responsáveis pelo conflito, mesmo se nada foi comprovado.
Estamos começando 2014, e precisamos exigir que os direitos
dos povos indígenas sejam garantidos. Eles são povos originários, que vivem na
região desde antes da chegada dos colonizadores. Por enquanto, são vítimas de
racismo, e as frentes de crescimento econômico das diferentes regiões do país –
madeireiros, agronegócio, mineração – invadem seus territórios e querem estas
terras livres para seus negócios. Não serão estes os causadores também do
conflito de Humaitá? E não estará a população local sendo instrumentalizada por
esses ricos capitalistas?
Nenhum comentário:
Postar um comentário