segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

AGRONEGÓCIO E POVOS INDÍGENAS



Muito provavelmente poucas pessoas conhecem o nome e a localização da cidade de Humaitá. Da mesma forma, praticamente ninguém consegue entender o que está acontecendo com o povo Tenharim, que tem seu território neste município. Por isso, vale a pena falar um pouco sobre este conflito noticiado pelos meios de comunicação.

Humaitá está no sul do Amazonas. Passa por ela a Transamazônica, estrada construída duros tempos de ditadura. Ela é uma das causas do conflito atual, pois corta ao meio o território dos Tenharim e foi construída sem consultar este povo. Aliás, nunca se consulta os povos indígenas, nem mesmo para definir quem vai cuidar da saúde deles. Recentemente, ao estar com lideranças indígenas do município vizinho de Lábrea, apoiei ação deles contra a nomeação de uma pessoa que nada entende de saúde para trabalhar em toda essa região.

Em dezembro passado, o cacique Ivam Tenharim foi encontrado morto na Transamazônica. Segundo a versão oficial, ele estava bêbado e teria sido vítima de atropelamento. Mas outras fontes, como o CIMI, indicam que “o cacique Ivan Tenharim era um incansável opositor contra a pilhagem praticada por madeireiros na terra indígena... e contribuiu para o fechamento de serrarias ilegais na região”.  Ele foi encontrado com sinais de espancamento em todo o corpo e na cabeça, mas a polícia, como de costume, não abriu inquérito para investigar a causa de sua morte.

Segundo líderes da cidade, os Tenharim seriam responsáveis pelo sequestro de três homens, não encontrados até agora. Antes que se comprovasse a acusação, revoltosos atacaram e queimaram a sede da Funai e a Casa do Índio em Humaitá, e queimaram as guaritas que serviam para os Tenharim cobrarem pedágio pelo uso da Transamazônica. Em outras palavras, para as elites os Tenharim são responsáveis pelo conflito, mesmo se nada foi comprovado.

Estamos começando 2014, e precisamos exigir que os direitos dos povos indígenas sejam garantidos. Eles são povos originários, que vivem na região desde antes da chegada dos colonizadores. Por enquanto, são vítimas de racismo, e as frentes de crescimento econômico das diferentes regiões do país – madeireiros, agronegócio, mineração – invadem seus territórios e querem estas terras livres para seus negócios. Não serão estes os causadores também do conflito de Humaitá? E não estará a população local sendo instrumentalizada por esses ricos capitalistas?



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