Há contradições nas falas dos governantes responsáveis pela
política energética. Nos documentos da Empresa de Planejamento Energético, do
Ministério de Minas e Energia encontramos sempre a mesma afirmação: a energia
solar é cara e por isso não consegue concorrer de modo especial com a energia
hídrica. Mas, em entrevistas, e certamente para justificar o pouco que está
sendo feito pelo governo, afirma-se: a energia solar já é vantajosa nas casas,
porque os investimentos podem ser recuperados em poucos anos.
Afinal, quando a energia solar é cara, então? Ela é cara
para a produção de energia no modelo seguido em nosso país: produção em grandes
usinas, linhas de transmissão quase infinitas e venda de energia nos locais de
consumo. Então, ainda não tem preço vantajoso para estas empresas a produção de
energia solar em fazendas de módulos fotovoltaicos. E como as empresas
declaram: esta fonte é cara, o governo, submisso, repete: não é vantajoso
investir nessa fonte.
Mas, e se é já vantajosa a produção nos telhados das casas,
pois o investimento é recuperado em poucos anos, qual o motivo para que o
governo não incentive este tipo de produção? Por que não desvia parte ou todos
os bilhões oferecidos às empresas para construírem grandes usinas
hidrelétricas, alterando a função dos rios amazônicos e gerando graves crimes
socioambientais, ou usinas térmicas e nucleares, todas poluentes e ameaçadoras?
É esquisito o que se diz: as famílias podem tornar-se microprodutoras
de energia, e podem trocar esta energia com as distribuidoras, mas não merecem
nenhum estímulo: não se dispensa impostos dos componentes, não se facilita financiamentos
e não se leva informação ao povo. Não se diga que é porque a produção é pequena
e para uso individualizado. Afinal, se 40 milhões de residências do país
produzissem, digamos, 200 kW cada uma, quanta energia seria produzida? E
quantos bilhões de reais seriam necessários para estimular as famílias a se
tornarem microprodutores de energia, sabendo que, ao ser anunciada esta
prioridade, os preços dos componentes podem cair em torno de 40%?
Nosso país continua colonizado, pois aceita ser governado em
favor de empresas que usam aqui tecnologias que elas estão abandonando nos
países centrais. Precisamos exigir mudanças nas políticas para que vivamos melhor
usando as abundantes fontes mais limpas de energia que o país tem.
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