segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

POR QUE NÃO ENERGIA ELÉTRICA SOLAR?

Estive dois dias com um grupo de agentes sociais que trabalham em projetos sociais animados pela Cáritas em São José do Rio Preto. Os temas tratados neste Encontro de Formação foram: A Missão de Mística da Cáritas e a temática da Campanha da Fraternidade de 2011 (CF 2011): Fraternidade e a Vida no Planeta. A reflexão que segue tem a ver com o segundo tema.

Faz parte da reflexão crítica proposta pela CF 2011 o desafio da produção e uso cada vez maior da energia elétrica. É essa necessidade de mais energia para manter o ritmo de crescimento da economia brasileira que leva o governo a assumir a responsabilidade de liberar e construir hidrelétricas de pequeno, médio e grande porte em todas as regiões do país. Se todas as previstas forem construídas, tal é a quantidade que muitos rios deixarão de ser rigorosamente rios, passando a ser uma sequência de barragens interligadas por canais do que restou do rio original. Quais as consequências socioambientais delas? A Terra dá sinais claros de que está sentindo aumentar seu desequilíbrio...

A região mais atingida é a Amazônia, e com lagos imensos. Basta ter presente a Belo Monte, no Pará, que arrasará com uma das mais belas paisagens existentes no país, deslocará povos indígenas e comunidades ribeirinhas camponesas e urbanas, remexerá com solo mais do que aconteceu na construção do Canal do Panamá, cobrirá com um lago imenso grande quantidade de biodiversidade e material orgânico, tornando-se uma nova fonte de produção e emissão de metano, gás que causa mais efeito estufa do que o dióxido de carbono.

O grupo de São José do Rio Preto, como tantos outros com quem tive oportunidade de dialogar sobre este tema, ficaram surpresos diante da informação de que praticamente não há recursos do Orçamento Federal para pesquisa e implementação da produção de energia elétrica a partir do sol; e de que há recursos insignificantes também para a produção de energia elétrica a partir dos ventos e do movimento natural das águas. A pergunta surge expontânea: por que não se priorizam estas fontes, absolutamente mais limpas, com fontes naturais seguras e abundantes?

Não há como fugir aos desafios que a realidade apresenta. No caso, é preciso reconhecer que, até agora, venceram os interesses e os argumentos dos grandes grupos econômicos ligados a três tipos de "negócio" de altíssimo valor: o da construção dessas obras gigantescas - só em Belo Monte, elas levarão mais entre 19 e 30 bilhões de reais; o da venda da mercadoria energia elétrica; e o do controle sobre as águas doces dos rios brasileiros. Sua capacidade de pressão sobre os governos tem sido clara, fazendo-se presente também no financiamento de eleições...

Por isso, se desejarmos mudar as prioridades da política de geração de energia elétrica só nos resta um caminho: juntar forças favoráveis às alternativas da energia solar, eólica e dos movimentos naturais das águas e pressionar os governantes mais eficazmente do que os grupos econômicos, que, como sempre, estão ligados aos seus lucros acima de qualquer preocupação social e ambiental; que, aliás, só usam o ambiental quando se torna uma nova e vantajosa fonte de negócios. Cabe-nos, portanto, um desafio político, e que só avançará na medida em que os movimentos sociais e as pessoas que desejam mudanças qualitativas se convencerem de que, na democracia, é necessário fazer política todo o dia, todo o tempo, e usando os meios necessários para que os governos implementem as políticas que a cidadania preferir.

Difícil? Certamente. Mas não impossível. Basta ver, uma vez mais, como a cidadania mobilizada, que ocupa, se necessário, ruas e praças para exigir mudanças qualitativas, alcança resultados positivos mesmo em países tradicionalmente governados por ditaduras, como está sendo o caso da Tunísia, Iêmen e do Egito. A CF 2011 vem aí como mais uma oportunidade de informação, consciência crítica e animação para a prática da ação cidadã como fonte de democratização da sociedade em que vivemos.

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