quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

SUDESTE BRASILEIRO: EVENTOS EXTREMOS DE FENÔMENOS NATURAIS

A impressão é a de que passou por aqui um tsunami, reflete o reporter; parece que o mundo está acabando, exclama um menino; moro aqui há trinta anos, mas nunca vi uma enchente como esta, atesta um senhor, visvelmente atordoado; perdi minha família, sussura um sobrevivente.

Em 2010, a enchente com desmoronamentos e muitas mortes de pessoas aconteceu em morros de Niteroi; em 2011, repete-se o fenômeno, só que na região serrana do Rio de Janeiro, atingindo especialmente as cidades de Teresópolis e Nova Friburgo. Até o momento, o número de pessoas mortas chega a 380, e provavelmente aumentará signitivamente. Ao lado dos estragos materiais, como casas e prédios derrubados, estradas e ruas, praças e espaços de lazer, é o número de pessoas mortas e desabrigadas que mais deve chamar atenção. Afinal, tudo que foi destruído foi construído pelas famílias e pela sociedade como espaço de qualidade de vida.

Por isso, vale a pena refletir sobre estas enchentes, que também atingem São Paulo, ligando-as com o que se vai conhecendo sobre o aquecimento do planeta e sua interferência na vida cotidiana. Seria equivocado simplificar a questão, afirmando que as enchentes atuais são provocadas diretamente pelo aquecimento da atomosfera e das águas dos mares. Na verdade, faz parte do clima da região Sudeste brasileiro a ocorrência de chuvas intensas no período do verão. Mas o que já se conhece sobre a influência do aquecimento sobre as mudanças climáticas pode ajudar a compreender melhor o que está acontecendo; isto é, entender porque as chuvas estão se tornando cada vez mais intensas.

O que está acontecendo é que aumenta cada dia mais a intensidade dos eventos extremos de fnômenos naturais. É o que as reportagens informam: choveu numa noite o que se esperava para uma semana; num dia, cheveu na região o equivalente ao que que chove, normalmente, num mês. Esse aumento, essa concentração das precipitações de chuva em algumas horas, num dia ou em poucos dias seguidos, é o que caracteriza o evento extremo em relação ao fenômeno natural da chuva. A mesma coisa pode acontecer em relação ao frio, com eventos extremos de nevascas; com as águas dos mares, que tem sua temperatura elevada num curto espaço de tempo; com os ventos, que aumentam a velocidade e se tornam mais destruidores; com os furacões, que se tornam mais intensos e mais destruidores...

Como isso já está mais do que estudade e demonstrado, vale a pena perguntar-se sobre o futuro: isso retornará ao normal ou a tendência é o agravamento dos eventos extremos? Os estudos sérios de cenários futuros, assentados no que aconteceu até agora como fruto do aquecimento já verificado do planeta e no que a humanidade continua fazendo, sinalizam o agravamento constante e crescente. Por isso, é fundamental pensar o que fazer agora tendo com base a informação de que os eventos extremos se agravarão nos próximos anos.

Se teimarmos e fazer mais do mesmo, procurando apenas reconstruir o que foi danificado, apostamos em novos e maiores problemas no futuro próximo. O que se apresenta como sabedoria humana é a busca da compreensão das causas profundas e geradoras dessas mudanças climáticas, que se manifestam em eventos extremos. E isso nos levará a corrigir o que tem fragilizado o solo nas cidadas atingidas, repensando tanto a ocupação dos territórios necessários para que os rios sejam rios e os morros sejam morros, como a estrutura da propriedade privada da terra urbana e rural, tendencialmente destinada à especulação, levando muitas famílias a não terem condições de moradia a não ser em encostas perigosas e em margens dos córregos e rios. Mais ainda: será necessário repensar a relação entre o que está aquecendo a Amazônia e as águas do mar, de onde vêm as correntes de ar úmido para a região... E isso nos leva a todas as atividades humanas que continuam aumentando a emissão de gases de efeito estufa, seja na queima de fontes fésseis de energia nas indústrias e no transporte; seja na construção de grandes lagos artificiais para produzir energia elétrica, que produzem igualmente grande quantidade de metano, gas poderoso no processo de aquecimento; seja no tipo de agropecuária padronizada pelo agronegócio, responsável pela emissão de metano e óxido nitroso, ambos geradores de aquecimento; seja no descuido irresponsável dos lixos e esgotos gerados nas cidades, bem como na teimosa mania de cobrir todo o solo com asfalto e cimento, impedindo que a água das chuvas penetre nele, forçando-as a escorrer por córregos e rios poluídos, sem vida, enjaulados, cimentados...

Seria demais querer indicar tudo que se deve fazer num simples artigo. Uma coisa é certa, contudo: se não entrarmos num acordo, como brasileiros e como humanidade, e não destinarmos recursos agora para prevenir o que acontecerá com certeza, choraremos mais pessoas mortas e queimaremos muito mais recursos para enfrentar os desastres socioambientais que se aprofundarão por causa dos eventos extremos de fenômenos naturais. Por isso, está cada vez mais clara a necessidade de definir uma política pública centrada em ações preventivas aos desastres socioambientais. Um mapeamento do que tem acontecido e do que os cenários indicam que acontecerá em todas as regiões do país será um ponto de partida para aplicar inteligentemente recursos de toda a sociedade em favor de mudanças que devem ser feitas para evitar sofrimentos de pessoas e perdas de toda ordem.

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