sábado, 15 de janeiro de 2011

INCOERÊNCIAS

Muita gente está acompanhando o drama da população da região serrana do Rio de Janeiro. É principalmente através da televisão que entram na casa da gente imagens realmente perturbadoras. Certamente aumenta o número de pessoas que se pergunta: afinal, o que está acontecendo? Um menino, ouvido pela reportagem, excalamou: parece o fim do mundo.

Pois é sobre isso que ando refletindo e quero compartilhar. De fato, tudo que está acontecendo tem a ver com a intensidade das chuvas, no curto prazo, mas tem muito mais a ver com a forma de relação da humanidade com a natureza, com a Terra. Por que há pessoas que ocupam e vivem nas margens dos rios e córregos, roubando a eles o direito de terem a vegetação da mata ciliar? Por que se diminui ainda mais o que resta de Mata Atlântica, que cobre os morros da região? Por que construir em encostas, diminuindo a capacidade do solo que cobre os morros de manter-se firme sobre a rocha que lhe serve de base?

É evidente que a maioria das pessoas não está aí por gosto. Está aí porque não há lugar melhor e mais firme para elas; e não há lugar porque alguns poderosos são donos dos terrenos melhores, em geral os mesmos que são donos dos clubes e loteamentos de luxo, localizados em áreas de risco; e não há lugar porque estes poucos são donos também das prefeituras e ditam o que se deve ou pode fazer, favorecendo os de sua classe e deixando o povão no abandono.

Mas há outro ponto sobre o qual quero refletir: as mesmas empresas de televisão que transmitem imagens e notícias sobre o desastre socioambiental, estimulam, também, em seus horários de publicidade, as pessoas a comprarem carros e mais carros, cada um mais tentador. Da mesma forma, falseia a realidade ao transmitir propagandas da Vale, pois ela é apresentada como cuidadora do meio ambiente quando se sabe dos efeitos desastrosos de suas atividades de mineração para o ambiente da vida na Terra. E o que dizer da Petrobras e de tantas outras empresas?

De que adianta as televisões inistirem em favor de medidas preventivas, se elas próprias são mantidas por iniciativas empresariais que deveriam mudar profundamente para colaborar com a prevenção necessária? É preciso cobrar dos governantes políticas públicas e recursos para realizar as obras de prevenção aos desastres socioambientais, mas está chegando a hora de cobrar, com igual ou maior ênfase, que as empresas industruais, agropecuárias, de mineração, de construção de grandes hidrelétricas e outras grandes obras, bem como as comercais e bancárias, que levem a sério a situação do Planeta, que tem a ver com os eventos extremos que atingem o Sudeste brasileiro e outras diferentes regiões da Terra, e que percebam que a promoção do consumismo, especialmente dos produtos que emitem gases de efeito estufa, tem tudo a ver com os desatres socioambientais. Na verdade, se não houver mudanças profundas no modo de produção e de consumo, estas ações humanas aumentarão o desequilíbrio climático da Terra, e serão responsáveis pelas mortes causadas por estes eventos extremos.

Conclunido, quando agirão de forma coerente as grandes empresas que monopolizam a mídia? Sem buscar coerência entre o que se reclama e propõe ao poder público e o que se ajuda as empresas a venderem, essas empresas midáticas se tornam cada vez mais corresponsáveis pelos desastres sociambientais. Sem essa coerência, como diferenciar o que é atividade de informação, cumprindo a sua obrigação pública, e o que não passa de sensacionalismo e o oportunismo?

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