A volta da chuva aos sertões
Roberto Malvezzi (Gogó)
Depois de longos anos com chuvas abaixo da média, agora chove por todo
sertão do Semiárido Brasileiro. Como cantava Gonzaga: “rios correndo, as
cachoeiras tão zoando, terra molhada, mato verde que riqueza e a asa
branca à tarde canta, ai que beleza, ai, ai
o povo alegre, mais alegre a natureza”.
Os grandes reservatórios ainda estão secos ou muito baixos, mas os
reservatórios médios, pequenos e micros, como as cisternas, já estão
todos cheios. São eles que importam realmente no cotidiano de nosso
povo. As grandes obras têm pouca serventia à população
difusa do Semiárido. Por isso, o problema da água hoje é mais grave no
meio urbano que no meio rural Nordestino.
O ciclo das águas é fundamental para todos os mananciais de superfície e
subterrâneos. São as chuvas que repões os rios, lagos e aquíferos. Sem a
renovação constante do ciclo a vida se interrompe.
É esse alerta dramático que pessoas sábias, cientistas e movimentos
sociais fazem ao mundo predador do capitalismo, particularmente ao agro e
hidronegócios. Sem Amazônia e sem Cerrado o ciclo de nossas águas
estará interrompido, com a extinção dos grandes aquíferos
que se localizam no Cerrado e abastecem perenemente rios como o São
Francisco, Araguaia e Tocantins.
A Oligarquia Internacional da Água, rótulo que lhe atribui Ricardo
Petrella, vai se reunir em Brasília no mês de março. São as grandes
transnacionais da água, que querem sua privatização geral, sua
mercantilização e sua transformação em um produto comercial
qualquer. Essas empresas elaboraram o novo discurso da água, com sua
teoria de escassez, valor econômico, privatização e mercantilização como
soluções para os problemas hídricos do mundo inteiro.
Ao mesmo tempo se reunirá o Fórum Mundial Alternativo da Água (FAMA)
para contrapor ao discurso do capital os valores da água como o
biológico, social, ambiental, paisagísticos, etc., recusando a sua
privatização e garantindo a água como direito fundamental
de toda pessoa humana e de todos os seres vivos.
Essa é uma das guerras mais insanas da humanidade. Num país caoticamente
político como o nosso, Temer está realizando a entrega de nossos
aquíferos, particularmente o Guarani, para grandes empresas como a
Coca-Cola, Nestlé e outras transnacionais da água. Uma
tragédia cruel e anunciada.
O golpe chegou também na água.
OBS: Viva a politizada Tuiuti! Nem toda consciência dorme.
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