quarta-feira, 22 de novembro de 2017
Guilherme Carvalho
https://macareuamazonico.blogspot.com.br/
As direitas brasileiras assumiram o protagonismo da luta
político-ideológica no nosso país. A bem da verdade esse protagonismo das
direitas se dá atualmente em escala global, tendo as esquerdas enormes
dificuldades para se contrapor a tal ofensiva de modo também global. É muito
importante ressaltarmos esse caráter plural tanto da direita quanto da
esquerda. Caso contrário, deixaremos de lado características relevantes de uma
e de outra. No Brasil, as direitas se unificaram em torno da derrubada do
governo capitaneado pelo PT e contra as políticas que bem ou mal minoraram o
terrível quadro de desigualdades sociais que atravessam nosso país, como as
cotas raciais e mesmo o Bolsa Família, entre outras, pois o PT não efetivou
realmente qualquer mudança estrutural que colocasse em xeque o poder das
elites.
Tudo parece indicar que há segmentos ultraconservadores, cujas bases
ideológicas são pré-Iluministas, a capitanear a disputa política global e que
são profundamente comprometidos com a globalização hegemonizada pelo capital
financeiro ao mesmo tempo em que, do ponto de vista social, buscam nos remeter
ao século XVIII. Uma tentativa de cruzar elementos dos séculos XXI e XVIII na
construção de uma nova (des)ordem social.
Os pactos que foram construídos
historicamente a partir do Iluminismo e que resultaram na Declaração Universal
dos Direitos Humanos, na ideia de universalização de direitos, entre outras
conquistas, vêm sendo sistematicamente desconstruídos por essa direita. Sua
mensagem é clara: Cada um por si, nada de Estado de bem estar social ou algo do
tipo, quem quiser algum benefício que busque no mercado.
Daí a violência dos
ataques a qualquer forma de solidariedade ou de políticas públicas includentes.
No lugar da solidariedade a adoção de práticas assistencialistas, de
preferência de caráter individual e compensatórias. No campo ambiental, nada de
amarras legais à livre expropriação de territórios e de seus povos pelos
grandes conglomerados econômicos transnacionais; no máximo, medida mitigatórias
que em nada diminuem os sofrimentos das pessoas atingidas. No campo político, a
"construção de heróis" supostamente capazes de salvar a nós todos de
nós mesmos (Sergio Moro, Bolsonaro, Luciano Huck e outros), a partir de pautas
calcadas num falso moralismo, sexista, homofóbica, racista, com uso inteligente
do medo para angariar simpatia de amplas camadas da população, da promoção de
medidas criminosas para a resolução de conflitos (assassinatos, uso da
"justiça" para combater adversários (lawfare), perseguição,
campanhas de calúnia e destruição de biografias através das redes sociais e
mídia corporativa etc.) e de suposta defesa da família para galgar postos de
comando no aparelho dos Estados. Tudo para garantir a captura da democracia
pelo neoliberalismo e suas corporações.
É isto o que representa o governo
golpista de Michel Temer e seus asseclas. É o governo da cleptocracia[1] a serviço do capital financeiro
internacional. Some-se a isto tudo a implementação de uma
consistente estratégia voltada à criminalização da política, a sua
despolitização, diuturnamente martelada por veículos de comunicação como a
Globo e seus pares; a adoção de políticas regressivas capazes de reconduzir
milhões de pessoas ao mapa da fome, a pactuação com o crime organizado (em
especial o tráfico de drogas) e o desmantelamento do aparelho do Estado.
O conservadorismo aprofunda suas raízes. Evidentemente, tudo isto tende
a resultar no recrudescimento dos conflitos em larga escala. As elites não
deixarão de ser cobradas. A que ponto e a escala de tais cobranças dependem de
muitas condicionantes. Tal como afirmam diversas análises, o Brasil parece
ter se convertido num laboratório global de uma nova fase neoliberal,
assim como o Chile o foi na década de 1970 antes de Reagan e Thatcher assumirem
o comando desse processo. Nossa capacidade resistir e de impor derrotas a este
projeto está sendo testada e isto servirá de lição para novos experimentos em
outros países. As direitas já deram mostras de que se preparam para a convulsão
social. A ditadura é uma escolha plausível para elas, pois não possuem qualquer
compromisso com a democracia.
[1] A palavra “cleptocracia” significa
“Estado governado por ladrões”, literalmente. O termo se refere a um tipo de
governo no qual as decisões são tomadas com extrema parcialidade, indo
totalmente ao encontro de interesses pessoais dos detentores do poder político.
Postado por Guilherme Carvalho às 17:16
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