O então ministro Gilberto Carvalho afirmou, numa entrevista
à BBC, em novembro de 2014, antes da aprovação do Estudo de Impacto Ambiental: “não
abriremos mão de construir Tapajós”. O Estudo de Impacto Ambiental, então, nada
tem a ver com a decisão em relação à obra; quando muito, pode servir para
definir que compensações deverão ser realizadas. Mas isso contraria a Constituição,
porque o Estudo pode indicar impactos que exigem abandonar o projeto, como é o
caso da entrada em territórios e a transferência de povos indígenas (Art. 231).
De toda forma, o Estudo foi feito por empresas interessadas
na construção da usina. Por mais que levante muitos dados, é algo suspeito
desde o início, sem valor científico, mas é ele que servirá de justificativa
para aprovar o que já estava decidido que devia ser construído.
Pois bem, os nove especialistas contratados pelo Greenpeace,
depois de analisar as 15 mil páginas do Estudo e de comparar com outras
pesquisas e com suas observações diretas em campo, chegaram à conclusão de que
o Estudo peca em seu principal objetivo: informar a viabilidade socioambiental
da obra. E o Relatório segue o mesmo caminho: é tendencioso, deixa de lado
dados fundamentais, e serve mais como peça de marketing. O mais grave de tudo,
porém, é que os impactos sobre a população afetada pela usina não fizeram parte
do Estudo, e só foram publicados depois, num anexo. É isso mesmo: os povos
indígenas e comunidades são algo anexo, sem importância.
Mesmo com um EIA/RIMA com essas falhas e omissões, o governo
marcou o leilão para sua construção para dezembro deste ano. A avaliação do
Greenpeace deixa claro que um bom e independente EIA/RIMA concluiria que a São
Luiz não deve ser construída, tantos são os impactos ambientais e sociais. Além
disso, ainda falta a palavra dos Munduruku e outros povos indígenas e
comunidades tradicionais que serão afetados, sabendo que eles têm direito de
serem bem informados sobre a obra e os impactos para decidirem livremente se
aceitam o não a usina em seus territórios.
Uma vez mais, o relatório do Greenpeace insiste: não há
necessidade de construir estas hidrelétricas na Amazônia, pois o Brasil pode
produzir a energia que precisa usando o sol, o vento e a biomassa.
Ivo Poletto
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