IHU - Sábado, 25 de outubro de 2014
A complexa teia
hídrica que brota do Cerrado está ameaçada.
“A questão atual do desaparecimento dos
pequenos cursos d’água, alimentadores dos maiores, é apenas a ponta de um
‘iceberg’ que tende a se tornar cada vez mais evidente”, adverte o antropólogo.
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Foto:
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O problema que gera as crises de
abastecimento de água que afetam o estado de São Paulo “jamais
será solucionado em sua totalidade”, alerta Altair Sales Barbosa, na entrevista a seguir, concedida
por e-mail à IHU On-Line.
Segundo ele, a dificuldade de
solucionar tais crises está relacionada a outros dois fenômenos: “o primeiro é
a estiagem prolongada provocada por fatores que independem da ação humana, como el Niño, por exemplo. O segundo é a vazão dos rios
alimentadores das represas, que não ostentam mais a quantidade de água de
tempos atrás. A consequência: com a normalização da precipitação pluviométrica
depois de certo tempo (uns quatro anos), os níveis das represas podem atingir a
plenitude. Entretanto, com o advento de outra estiagem cíclica, a situação
voltará a se repetir”.
Na entrevista a seguir, o pesquisador
explica que o Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de São Paulo, “é abastecido principalmente pelo rio Piracicaba, afluente
do rio Doce, que aparentemente nada tem a ver com a bacia do Paraná”, que é formada e alimentada pelas águas do Cerrado. Entretanto, esclarece, “se
penetrarmos além das aparências, iremos constatar que além das águas que fluem
da Serra do Mar, as águas do aquífero Guarani são as responsáveis pela
alimentação das nascentes da represa, basta ver a geotecnia das nascentes do rio Piracicaba, bacia dorio Doce, e suas relações com as nascentes do ribeirão Baguaçu, proveniente do aquífero Guarani e pertencente aBacia do Paraná”. Isso significa, pontua, que o “Sistema Biogeográfico do Cerrado, que ocupa desde a
aurora do Cenozoico até a parte central da América do Sul,
também é conhecido como o ‘berço das águas’ ou
a ‘cumeeira’ do continente, porque é distribuidor
das águas que alimentam as grandes bacias hidrográficas da América do Sul”.
Somente na abrangência do Cerrado, destaca, “encontram-se três grandes aquíferos
responsáveis pela formação e alimentação dos grandes rios continentais. Um
deles e o mais conhecido é o aquífero Guarani,
associado ao arenitoBotucatu e a outras formações
areníticas mais antigas. Esse aquífero é responsável pelas águas que alimentam
a bacia hidrográfica do Paraná, além de
alguns formadores que vertem para a bacia Amazônica. Os outros
dois são os aquíferosBambuí e Urucuia (...) Os aquíferos Bambuí e Urucuia são responsáveis pela formação e
alimentação dos rios que integram a bacia do São Francisco e
as sub-bacias hidrográficas do Tocantins, Araguaia, além de outras situadas na abrangência do Cerrado”. Isso significa que, “representada por uma
complexa teia, as águas que brotam do Cerrado são as
responsáveis pela alimentação e configuração das grandes bacias hidrográficas
da América do Sul”.
Fundador do Memorial do Cerrado, Goiânia-GO, o
antropólogo adverte que o Cerrado é uma
das matrizes ambientais mais antigas, e “já chegou ao seu clímax evolutivo, ou
seja, uma vez degradado, não se recupera jamais na plenitude de sua
biodiversidade”. A vegetação nativa do bioma é responsável pela alimentação dos
lençóis profundos, contudo, com a introdução da agricultura no Cerrado, parte da vegetação já foi extinta
e impacta diretamente no funcionamento dos corpos hídricos. “No caso específico
das plantas do cerrado, estas possuem um sistema radicular extremamente
profundo e complexo. Estas plantas existiam até bem pouco tempo, nas áreas de
recargas do aquífero Guarani,
responsáveis pelas águas da bacia do Paraná. Com a
introdução da monocultura, essas plantas foram substituídas por vegetais com
raízes subsuperficiais que não sugam as águas como as plantas nativas. A
consequência é que com o passar dos tempos as águas dos aquíferos vão
diminuindo. Num primeiro momento ocorre o fenômeno denominado migração de
nascentes das partes mais elevadas para as partes mais baixas. Num segundo
momento os cursos d’águas menores iniciam um processo de desaparecimento e
assim por diante, são veias menores que deixam de irrigar as maiores”, informa.
Se a atual situação do Cerrado não for alterada, o futuro será ainda mais
catastrófico. De acordo com o diagnóstico deBarbosa, “o primeiro
aquífero a ter suas reservas diminuídas será o Urucuia,
até o quase total desaparecimento, seguido doaquífero Bambuí e do aquífero Guarani”. Posteriormente, frisa, “os fenômenos
ocorridos nos chapadões centrais do Brasil, em função do desaparecimento do
cerrado, afetarão, de forma direta, várias partes do continente” e a “floresta
equatorial deixará de existir na sua configuração original, sendo
paulatinamente substituída por uma vegetação rala do tipo caatinga, salpicada
em alguns locais por espécies de plantas adaptadas a um ambiente mais seco”.
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Altair Sales Barbosa é graduado em Antropologia pelaUniversidade Católica de Chile e doutor em
Arqueologia Pré-Histórica - Smithsonian Institution
National Museum Of Natural History (1991). É professor titular da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - O senhor está entre os
pesquisadores que já afirmam a extinção do Cerrado. Quais fatores levaram a
esse quadro? É possível revertê-lo?
Altair Sales Barbosa - Em primeiro
lugar, o Cerrado dos Chapadões Centrais do Brasil se nos
apresenta como um Sistema Biogeográfico, que envolve
vários subsistemas. Esses subsistemas se diferenciam por solos, fisionomia
vegetal, quantidade de água nos lençóis, comunidades animais, etc., e qualquer
modificação nos elementos dos subsistemas provoca modificações nos Sistema como
um todo.
Em segundo lugar, convém destacar que
o Cerrado é uma das matrizes ambientais mais antigas
da história recente do Planeta Terra, que tem seu início
no Cenozoico. Isto significa que este ambiente já chegou
ao seu clímax evolutivo, ou seja, uma vez degradado, não se recupera jamais na
plenitude de sua biodiversidade.
Em terceiro lugar, a maior parte das
plantas do cerrado tem um desenvolvimento lento, algumas levam séculos para
atingir a maior idade, fato que torna quase impossível um trabalho de
recomposição vegetal. Sem mencionar que estas plantas estão condicionadas a um
tipo de solo oligotrópico com balanço hídrico específico, fato hoje difícil de
ser encontrado em equilíbrio no Cerrado.
Não se mede a
degradação ambiental apenas pela ocorrência de uma ou outra planta. Há de se
considerar comunidades, tanto vegetais como animais, incluindo insetos
polinizadores, água, etc., tudo isto já não existe no cerrado de forma
contínua. O que há são fragmentos que não representam 10% da área total.
IHU On-Line - Qual a função do Cerrado
brasileiro enquanto elo para garantir o abastecimento da água tanto no Norte
quanto no Sul do país? Ainda nesse sentido, qual é a conexão existente entre o
Cerrado e os demais biomas brasileiros?
Altair Sales Barbosa - O Sistema Biogeográfico do Cerrado, que ocupa desde
a aurora do Cenozoico até a parte central
da América do Sul, também é conhecido como o “berço das
águas” ou a “cumeeira” do continente, porque é distribuidor das águas que
alimentam as grandes bacias hidrográficas da América do Sul.
Isso ocorre porque, na área de
abrangência do Cerrado, encontram-se três grandes
aquíferos responsáveis pela formação e alimentação dos grandes rios
continentais. Um deles e o mais conhecido é o aquífero Guarani,
associado ao arenitoBotucatu e a outras formações
areníticas mais antigas. Esse aquífero é responsável pelas águas que alimentam
a bacia hidrográfica do Paraná, além de
alguns formadores que vertem para a bacia Amazônica. Os outros
dois são os aquíferos Bambuí e Urucuia. O primeiro está associado às Formações
geológicas do Grupo Bambuí, e o segundo está associado à Formação arenítica
Urucuia, que em muitos locais está sobreposta à Formação Bambuí. Em certos
pontos, há até um contato entre os dois aquíferos, apesar de existir entre
ambos uma imensa diferença cronológica. Os aquíferos Bambuí e Urucuia são
responsáveis pela formação e alimentação dos rios que integram a bacia do São
Francisco e as sub-bacias hidrográficas do Tocantins, Araguaia, além de outras
situadas na abrangência do Cerrado.
Esses três grandes
aquíferos, armazenados nos lençóis artesianos, intercalam-se na parte central
dos chapadões do continente sul-americano, formando lagoas conhecidas como
águas emendadas, que tomam a direção norte, sul, leste e oeste do continente.
Essa direção está condicionada à estrutura geomorfológica que caracteriza cada
área, definindo e delimitando, dessa forma, as bacias e sub-bacias
hidrográficas.
Dos planaltos do centro da América do Sul brotam águas responsáveis pela
grande alimentação do rio Amazonas, pela sua margem direita. Das entranhas dos
arenitos de idades Mesozoicas brota a grande maioria das águas da imponente
bacia do Paraná, que verte para o sul do continente. Do alto da Serra da Canastra, juntando águas oriundas do arenito
da Formação Urucuia e águas retidas nas galerias do calcáreo Bambuí de idade
Proterozoica, correm em direção ao nordeste do Brasil as águas do São
Francisco.
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“No início do século XXI, encontra-se
em suspenso o destino do Cerrado”
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Bacias
hidrográficas independentes
Além dessas imponentes bacias
hidrográficas de dimensões continentais, no cerrado, ainda brotam águas que dão
origem a bacias hidrográficas independentes de grande importância regional.
Algumas são tão fenomenais que formam acidentes únicos. É o caso da bacia do
Parnaíba, que nasce naChapada das Mangabeiras, alimentada
com águas oriundas do arenito Urucuia, situado no cerrado do Jalapão, estado do Tocantins. A bacia do rio Parnaíba, apesar de as
dimensões serem bem menores que as anteriores, está associada a um grande
transporte de sedimentos, que são distribuídos por vasta área do litoral norte
do Brasil, formando dunas, lagoas, os lençóis maranhenses, os lençóis
piauienses, estendendo até as dunas de Jericoacoara, no Ceará. No seu encontro
com o oceano Atlântico, forma o Delta do Parnaíba,
tão complexo e ao mesmo tempo impressionante que está entre os maiores do
Planeta.
Outro exemplo importante refere-se à
sub-bacia do rio Gurgeia, oriunda do cerrado
piauiense, responsável pela irrigação de uma vasta área e pela formação dos
poços jorrantes com águas que brotam com tanta pressão que, ao surgirem até a
superfície, atingem vários metros de altura.
O Cerrado e os rios do Amazonas
A Bacia Amazônica é considerada a maior rede hidrográfica
do Planeta. Para descrevê-la, um observador, mesmo do espaço, é incapaz de
avaliar sua complexidade em meio a ilhas, furos, paranás e igarapés.
A bacia hidrográfica do Amazonas tem sua gênese a partir de três
importantes regimes: águas de origem glacial, provenientes dos Andes; águas de
origem pluvial, que alimentam a bacia pela margem esquerda; e águas tanto de
origem pluvial como de lençóis profundos, que a alimentam pela margem direita.
Na realidade, são esses rios da margem direita que contribuem para os maiores
volumes de água na alimentação do Amazonas e também são responsáveis pela sua
regularidade e sua perenização, já que as águas pluviais e glaciares da sua
margem esquerda e nascentes, apesar de volumosas, possuem regimes irregulares.
Tomando a orientação de leste para
oeste, pode-se constatar quão extensos e volumosos são os afluentes da margem
direita do rio Amazonas, que brotam no coração do cerrado e cujas vertentes, qual artérias
interligadas, são bombeadas para irrigar e oxigenar o pai dos rios.
Tocantins ou Araguaia
As sub-bacias do Tocantins e Araguaia são
tão complexas e extensas que não se tem certeza de qual dos dois chega primeiro
ao Amazonas, ao sul de Marajó. Oficialmente
é o Tocantins, mas é ele que deságua no Araguaia, e
não o inverso. Porém a nomenclatura não é um fator relevante. O mais importante
é a quantidade de água e sedimentos que esses rios levam até a foz do Amazonas, transformando-a num ecossistema extremamente
complexo.
Tocantins, um rio de vários nomes
O rio Tocantins bem
poderia ser chamado de rio Uru, que nasce
nos contrafortes da Serra Dourada e
segue ao norte, ao passo que seus irmãos de nascentes tomam rumo oeste em
direção ao Araguaia ou rumo sul em
direção ao Paranaíba.
Entre as pedras, o Uru é Uruíta, mais abaixo
dialoga com dona Ana e se formou Uruana. Depois de tanto se encorpar, tornou-se Uruaçú ou Uru-grande, nos
vocábulos do Tupi. Ou o Tocantins seria o Rio das
Almas, proveniente dosPirineus, ou Maranhão ou ainda o Paranã, que vem do longínquo lugar onde as águas se
emendam? O fato é que o rioTocantins é
todos eles e muito mais. Inúmeros afluentes caudalosos o alimentam pela margem
direita e pela margem esquerda. Alguns da margem direita têm suas nascentes
emendadas com águas que correm para a bacia do São Francisco, como é o caso das águas provenientes do
Jalapão e as águas do Paranã, oriundas do atual município deFormosa, em Goiás.
O mesmo fenômeno
acontece em relação aos afluentes da margem esquerda, com aqueles da margem
direita do Araguaia. São as reentrâncias do interflúvio formado pela Serra do
Estrondo que os separam.
Rio Araguaia
O rio Araguaia nasce
em formações pertencentes à bacia geológica do Paraná,
mas integra a bacia hidrográfica doAmazonas. Seu berço
e seu curso superior são compostos por águas do Aquífero
Guarani. No seu nascedouro, esse aquífero se encontra nas formações Baurú e Botucatu. No mesmo
local nascem os rios Taquari, que corre no sentido
oeste integrando a sub-bacia do rio Paraguai no Pantanal Mato-grossense, e o Aporé, que corre para sudeste, desaguando no Paranaíba, formador do Paraná.
Entretanto o Araguaia segue sereno para o norte, recebendo a
todo instante portentosos afluentes tanto pela margem direita quanto pela
esquerda. Alguns desses afluentes são tão extensos e complexos que delimitam,
no tempo e no espaço, histórias próprias. Esse é o caso do rio das Mortes, cuja nascente brota das reentrâncias da Serra do Roncador, a pouca distância, onde ao sul
nascem os rios do Pantanal Norte, sub-bacia
do Paraguai. No seu curso intermediário, o Araguaia abraça
a Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo. Na realidade,
trata-se de um grande território com rios próprios, lagos e uma diversidade
biótica impressionante. Em meio a essa complexidade, segue o Araguaia, até encontrar-se com oTocantins ou vice-versa, como já foi dito.
Bem próximo à nascente do Rio das Mortes, emergem também das reentrâncias da Serra do Roncador os grandes afluentes do Xingu. Aí também se situam as nascentes do caudaloso Teles Pires. Na borda oeste dessa Serra, surgem as águas do rio Arinos, que mais abaixo se une com as águas do Juruena, formado por uma complexa rede de
nascentes oriundas da borda norte da chapada dos Parecis, toda coberta por
cerrado. Teles Pires, Arinos e Juruena se juntam para formar o Tapajós, que
deságua no Amazonas na cidade de Santarém.
Guaporé, Mamoré e Madeira
têm suas nascentes situadas nos limites oeste do Cerrado, desde a depressão
relativa do Pantanal Mato-Grossense até as águas provenientes das ilhas de
cerrado situadas nos longínquos planaltos de Alta Lídia, Serra dos
Pakaás-Novos. Daí, então, descambam águas do Jamarí que vão engrossar o já
grandioso Ji-Paraná, que deságua no Madeira.
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“O
que se pode afirmar é que enquanto o desejo de explorar o Cerrado tiver
raízes estrangeiras, a possibilidade de um programa racional de desenvolvimento
será nula”
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O Cerrado e a Bacia hidrográfica do São
Francisco
O rio São Francisco e toda sua bacia hidrográfica
correm por inúmeras terras do território brasileiro. O São Francisco tem sua
nascente situada em áreas de cerrado, na Serra da Canastra, estado de Minas
Gerais. É alimentado especialmente pelas águas acumuladas no aquífero Urucuia e
no aquífero Bambuí. Seu regime é marcado por diferenciações básicas. A grande
totalidade dos afluentes da margem direita que recebe suas águas principalmente
das chuvas sofre influência direta de climas semiáridos, conduzidos até o curso
médio superior do grande vale, pelos eixos de expansão de semiaridez. Esses
rios são classificados como rios temporários, que desaparecem na estação seca.
Portanto, a perenização do São Francisco está na dependência direta dos seus
afluentes que o alimentam pela margem esquerda.
Esses rios
caudalosos e outrora cristalinos correm encaixados e paralelos na formação
geológica Urucuia. A grande maioria provém dos contrafortes leste da Serra
Geral ou Espigão Mestre, como é o caso dos rios Carinhanha, Pratudinho,
Pratudão, Formoso, Arrojado, Correntina, do Meio, Guará, Santo Antonio,
Corrente e Grande.
Outros que o
alimentam na porção superior têm suas nascentes nas águas emendadas próximas ao
Distrito Federal, como é o caso dos rios Preto e Urucuia. Este dá nome à
formação geológica que abriga o aquífero Urucuia, responsável por quase 80% das
águas que alimentam o São Francisco.
O rio Paracatu é o
responsável pela junção das águas dos aquíferos Bambuí e Urucuia. E tem suas
nascentes situadas numa mancha isolada da formação Urucuia. Ainda pela margem
direita, o rio das Velhas contribui com o São Francisco, no seu curso superior,
com águas oriundas, quase em sua totalidade, do aquífero Bambuí.
A última grande
nascente ao norte se constitui no nascedouro do rio Preto, afluente do rio
Grande. As nascentes do rio Preto estão em áreas aflorantes do arenito Urucuia,
na região do Jalapão, um pouco ao sul da nascente do Parnaíba, com água quase
emendada com o rio do Sono, afluente do Tocantins.
O Cerrado e as Águas do Paraná
A Bacia hidrográfica do Paraná é
outra formada e alimentada pelas águas do Cerrado. Apenas em sua porção
inferior, após receber o rio Uruguai, esse fenômeno não é tão evidente.
As águas nascentes da bacia do Paraná se espalham como um leque a partir
do coração do Cerrado, correndo em direção ao sul do continente. Das escarpas
sul da Chapada dos Parecis e das escarpas oeste da Serra do Roncador fluem as águas formadoras da
sub-bacia do Paraguai. O rio Paraná é formado pela junção dos rios Paranaíba e Grande. As águas iniciais
do Paranaíba são originárias das águas emendadas que
viajam desde o norte do Distrito Federal, e
se juntam às que vertem da Serra das Divisões do
Centro-Sul de Goiás, até as que vêm das bordas leste e sul da Serra do Caiapó. As águas do rio Grande se precipitam
da borda oeste da Serra da Mantiqueira, numa área de Mata Atlântica, mas seu curso maior percorre de leste a
oeste o estado de Minas Gerais, e são as águas do Cerrado mineiro que lhes dão corpo.
Assim, representada
por uma complexa teia, as águas que brotam do Cerrado são as responsáveis pela
alimentação e configuração das grandes bacias hidrográficas da América do Sul.
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Foto:
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IHU On-Line - O senhor associa a
recente crise de abastecimento de água em São Paulo à condição ambiental do
Cerrado?
Altair Sales Barbosa - Para entender
este assunto, é necessário compreender que um aquífero possui sua área de
descarga e de recarga. A área de recarga de um aquífero se situa nos chapadões
ou em suas áreas mais planas. Quem exerce a função de alimentar os lençóis
profundos é a vegetação, especialmente a vegetação nativa.
No caso específico das plantas do
cerrado, estas possuem um sistema radicular extremamente profundo e complexo.
Estas plantas existiam até bem pouco tempo, nas áreas de recargas do aquífero Guarani, responsáveis pelas águas da bacia do Paraná.
Com a introdução da
monocultura, essas plantas foram substituídas por vegetais com raízes
subsuperficiais que não sugam as águas como as plantas nativas. A consequência
é que com o passar dos tempos as águas dos aquíferos vão diminuindo. Num
primeiro momento ocorre o fenômeno denominado migração de nascentes das partes
mais elevadas para as partes mais baixas. Num segundo momento os cursos d’águas
menores iniciam um processo de desaparecimento e assim por diante, são veias
menores que deixam de irrigar as maiores.
No caso específico das crises de abastecimento
de água que afetam o Estado de São Paulo,
por exemplo, o problema jamais será solucionado em sua totalidade. Isto porque
a situação está intimamente ligada a dois problemas: o primeiro é a estiagem
prolongada provocada por fatores que independem da ação humana, como el Niño,
por exemplo. O segundo é a vazão dos rios alimentadores das represas, que não
ostentam mais a quantidade de água de tempos atrás. Consequência: com a
normalização da precipitação pluviométrica depois de certo tempo (uns quatro
anos), os níveis das represas podem atingir a plenitude. Entretanto, com o
advento de outra estiagem cíclica, a situação voltará a se repetir. O Sistema Cantareira é abastecido principalmente pelo
rio Piracicaba, afluente do rio Doce, que
aparentemente nada tem a ver com a bacia do Paraná. Entretanto, se penetrarmos
além das aparências, iremos constatar que além das águas que fluem daSerra do Mar, as águas do aquífero Guarani são as
responsáveis pela alimentação das nascentes da represa, basta ver a geotecnia
das nascentes do rio Piracicaba, bacia do rio Doce, e suas relações com as
nascentes do ribeirão Baguaçu, proveniente do aquífero Guarani e pertencente à
Bacia do Paraná.
IHU On-Line - Qual é a atual situação
dos rios que nascem no Cerrado? É possível constatar alguma mudança no fluxo da
água deles ao longo dos últimos anos? O senhor mencionou recentemente que dez
pequenos rios do Cerrado desaparecem a cada ano. É possível estimar quantos
pequenos rios já desapareceram e o que isso significa num quadro geral acerca
dos recursos hídricos do cerrado?
Altair Sales Barbosa - A partir de
1970, uma nova matriz territorial foi implantada na área do Cerrado. Essa
matriz tem raízes e consequências predatórias. A partir desse momento foi só
uma questão de tempo para que os problemas ambientais viessem a aparecer e se
agravarem com o tempo.
A questão atual do desaparecimento
dos pequenos cursos d’água, alimentadores dos maiores, é apenas a ponta de um “iceberg” que tende a se tornar cada vez mais
evidente.
IHU On-Line - É possível avaliar qual a
situação ambiental do Aquífero Guarani?
Altair Sales Barbosa - É muito
difícil precisar esta situação em função da ausência de pesquisas. Entretanto,
se projetarmos as consequências advindas da degradação, podemos afirmar que se
não houver uma solução científica e tecnológica capaz de aumentar a recarga
deste aquífero, num tempo muito mais curto que possamos imaginar, suas reservas
desaparecerão quase que por completo. Veja o que já está acontecendo com o rio São Francisco, alimentado pelos aquíferos Urucuia e
Bambuí, que estão passando pelo mesmo processo de degradação.
IHU On-Line - Com a crise de
abastecimento em São Paulo, fala-se em possíveis riscos de desertificação, como
de extermínio das reservas hídricas existentes no subsolo. Esse risco existe de
fato? Em que proporção no atual momento? Se o Cerrado já está extinto, como
reverter a crise hídrica? Por quais razões não se trata e não se menciona a
importância do Cerrado nas discussões acerca da crise de abastecimento da água?
Altair Sales Barbosa - O potencial
agrícola que o cerrado tem demonstrado o transformou em uma das últimas
reservas da terra capazes de suportar, de modo imediato, a produção de cereais
e a formação de pastagens. E o desenvolvimento das técnicas modernas de cultivo
tem atraído, recentemente, grandes investimentos e criado modificações
significativas do ponto de vista da infraestrutura de suporte. O fato da não
existência de uma política global para agricultura tem provocado o êxodo rural
e o crescimento desordenado dos núcleos urbanos. Todos esses fatores, no seu
conjunto, têm provocado situações nocivas ao meio ambiente, com perspectivas
preocupantes.
De todos os grandes Domínios Morfoclimáticos e Fitogeográficos Brasileiros,
para usar a linguagem do Prof. Ab’Saber, ou Sistemas Biogeográficos, o Cerrado tem sido o que mais transformações vem
sofrendo nos últimos anos. Porém, não só transformações das técnicas de
produção, mas outras muito mais profundas, isto é, transformações culturais,
que têm afetado o próprio modo de vida das populações, desestruturando os
valores e, muitas vezes, provocando um vazio, não repondo algo que venha a
preencher o espaço deixado pelos elementos que foram ou estão sendo subtraídos.
Os antigos núcleos
urbanos, quase todos originados em torno de atividades mineradoras,
principalmente os do início do século XVIII, veem-se de repente transformados
em polos regionais de inovações e agenciadores de “mudanças radicais” nos
sistemas de relações, com seus inúmeros serviços, quase todos voltados para
atividades agroindustriais e com preocupações imediatistas.
A criação de Goiânia, posteriormente Brasília,
juntamente com o desenvolvimento do sistema viário e o processo de modernização
da agricultura, veio contribuir com certa radicalização nas modificações dos
fatores até então estruturados, rompendo em estilhaços seus traços mais
tradicionais.
Até bem pouco tempo, as áreas do Sistema Biogeográfico do Cerrado não eram muito
valorizadas, nem procuradas para implantação de grandes atividades
agropastoris. As suas partes mais intensamente ocupadas eram restritas ao
Subsistema de Matas, ou seja, áreas florestadas que existem dentro do Sistema e
que estão sempre associadas a solos de boa fertilidade natural. Por isso essas
áreas, também denominadas de “terras de cultura”, foram as primeiras a receber
o impacto de uma degradação maior. Ao seu lado, em escala menor, podem ser
citadas as áreas que compõem oSubsistema Cerradão e
as Matas-Galerias.
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“Não
se mede a degradação ambiental apenas pela ocorrência de uma ou outra planta.
Há de se considerar comunidades, tanto vegetais como animais, incluindo
insetos polinizadores, água, etc., tudo isto já não existe no cerrado de
forma contínua. O que há são fragmentos que não representam 10% da área
total”
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As demais áreas, que constituem as
maiores superfícies do Sistema, como os Subsistemas do Cerrado, do Campo, dasVeredas e Ambientes Alagadiços,
em virtude das características dos seus solos, não favorecem de imediato uma
ocupação intensiva, não tiveram tanto impacto no início maciço da ocupação
humana. Essas áreas, outrora ocupadas pelo criatório extensivo, tinham como
suporte uma pastagem nativa, cujo teor alimentício estava condicionado à
sazonalidade climática, fato que obrigava os rebanhos a migrações longas. E
durante a estação seca eram conduzidos para as “veredas”, onde a umidade
mantinha o capim verdejante, mesmo no auge da seca. Entretanto, essas áreas de
veredas não ocupam grande extensão e, na época da estação chuvosa, em função de
muitos fatores, não é propícia a sua ocupação por rebanhos. Nessa época
chuvosa, o rebanho pode ser transportado para as áreas mais elevadas (campos e
cerrado). Esse fator das migrações sazonárias é responsável por um sistema
pastoril que exige grandes extensões de terras, que poderiam ser compradas,
arrendadas ou simplesmente ocupadas na forma de posse ou “fechos”.
A utilização do
calcário para a correção da acidez do solo e do adubo para aumento da sua
fertilidade, a introdução do arado e de sistemas mecânicos de desmatamento e a
facilidade de irrigação transformaram essas áreas, anteriormente impróprias
para atividades agrícolas, em terras produtivas. Outrossim, a substituição das
pastagens nativas por espécies estrangeiras modificou radicalmente o quadro
pastoril.
Os impactos
causados sobre o ambiente por esse novo modelo de ocupação são visíveis e podem
ser caracterizados pelos itens seguintes:
·
empobrecimento genético;
·
empobrecimento dos ecossistemas;
·
destruição da vegetação nativa;
·
propagação de ervas exóticas;
·
extinção da fauna nativa;
·
diminuição e poluição dos mananciais hídricos;
·
compactação e erosão dos solos;
·
contaminação química das águas e da biota;
·
proliferação de doenças desconhecidas, etc.
Exploração do cerrado
Esses fatores em
conjunto geram inúmeros outros que, por sua vez, funcionam como agentes de
atração populacional e de modificações significativas do ambiente. Como
exemplo, podemos citar a demanda de energia que exige a formação de grandes
reservatórios e usinas geradoras que criam inúmeras frentes de trabalho,
diretas e indiretas, acarretando entropias de grande alcance natural e social.
Assim é que, no início do século XXI, encontra-se em suspenso o destino do Cerrado. Se as próximas décadas trarão sua ruína ou
salvação, ainda não se pode dizer. Embora sejam grandes as lacunas no nosso
conhecimento, dispomos de informações suficientes para impedirmos que ocorra
uma degradação irreversível.
O que se pode afirmar é que enquanto
o desejo de explorar o Cerrado tiver
raízes estrangeiras, a possibilidade de um programa racional de desenvolvimento
será nula.
O cerrado está incluído no Planejamento Político Brasileiro como região de expansão da fronteira agrícola, orientada por práticas predatórias, causando um cenário estarrecedor.
O cerrado está incluído no Planejamento Político Brasileiro como região de expansão da fronteira agrícola, orientada por práticas predatórias, causando um cenário estarrecedor.
A retirada total da
cobertura vegetal afetará, de forma decisiva, a já reduzida recarga dos
aquíferos, cujas reservas chegarão a um nível crítico, pois as águas pluviais
que conseguirem penetrar através do solo serão de imediato absorvidas por
estes, dado seus estados de aridez em função da insolação. A pouca umidade
retida se evaporará de forma rápida pelas mesmas causas. No início, os problemas
oriundos dessa situação tentarão ser contornados com a construção de
barramentos, através de curvas de níveis e pequenos açudes, para reter as águas
das chuvas. Entretanto, os ambientes que surgem desse processo têm caráter
bêntico, fato que origina a argilicificação e a consequente impermeabilização
do fundo dos poços, que, associada à forte insolação, resultará numa ação de
nula eficácia.
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Foto:
cmbbc.cpac.embrapa.br
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Aquíferos
O primeiro aquífero a ter suas
reservas diminuídas será oUrucuia, até o quase
total desaparecimento, seguido doaquífero Bambuí e
do aquífero Guarani.
Com o
desaparecimento do lençol freático, seguido da diminuição drástica da reserva
dos aquíferos, os rios iniciarão um processo de diminuição da perenidade,
oscilando sempre para menos, entre uma estação chuvosa e outra, e desaparecendo
quase por completo na estação seca. Esse fato afetará primeiro os pequenos
cursos d’água, depois os de médio porte e, em seguida, os grandes rios.
Os fenômenos ocorridos nos chapadões
centrais do Brasil, em função do
desaparecimento do cerrado, afetarão, de forma direta, várias partes do
continente.
A parte sul da calha do rio Amazonas, representada pelos baixos chapadões, terá
uma rede de drenagem insignificante no que diz respeito ao volume d’água, uma
vez que os grandes afluentes da margem direita, que têm suas nascentes e seus
alimentadores situados no cerrado, deixarão de existir ou terão seus volumes
diminuídos de forma significativa nos cursos superiores e médios. Os grandes
afluentes do rio Amazonas, pela sua margem
direita, serão alimentados apenas nos seus cursos inferiores, fato que reduzirá
em mais de 80% suas vazões.
A floresta
equatorial deixará de existir na sua configuração original, sendo
paulatinamente substituída por uma vegetação rala do tipo caatinga, salpicada
em alguns locais por espécies de plantas adaptadas a um ambiente mais seco.
O vale do Parnaíba, englobando a bacia geológica Parnaíba-Maranhão, será invadido na direção
sul/norte por dunas arenosas secas provenientes da Formação Urucuia, existentes no Jalapão e na Chapada das Mangabeiras.
E, na direção norte/sul, será invadido por sedimentos arenosos litorâneos que
caracterizam os Lençóis Maranhenses e Piauienses, que, em virtude de condições
favoráveis, terão facilidade de transporte eólico em direção ao interior. Os
atuais poços jorrantes do vale do Gurgueia deixarão
de ser fluentes.
Com o desaparecimento dos principais
afluentes do rio São Francisco, pela sua margem
esquerda, que cortam o arenitoUrucuia, a ausência
de alimentação constante e o assoreamento contribuirão para o desaparecimento
do grande rio, nos seus aspectos originais. Permanecerão algumas lagoas e
cacimbas, onde o terreno tiver característica argilosa, ou outra rocha
impermeabilizante originária da metaformose do calcário Bambuí.
A Caatinga, que já
caracteriza parte do curso inferior do rio São Francisco,
avançará um pouco mais em direção ao norte, transicionando paulatinamente para
a formação de uma grande área desértica que certamente abrangerá o centro, o
oeste, o sul da Bahia e norte e centro de Minas Gerais.
A região da Serra da Canastra permanecerá com alguns elementos
originais, como uma espécie de enclave geoecológico, com clima subúmido.
Nas áreas correspondentes aos
formadores e às bordas da Bacia Hidrográfica do
Paraná, as desintegrações intensas dos arenitos Botucatu e Bauru –
que já formaram na região, durante os períodos Triássico e Cretáceo, grandes desertos, acordarão de um sono
profundo, expandindo seus grãos de areia em várias direções, provocando erosões
colossais, assoreamento e acúmulos de sedimentos na configuração de dunas. Do
curso médio da Bacia do Paraná até a parte superior de seus afluentes, haverá
muitas áreas desérticas separadas por formações rochosas ostentando vegetação
de características áridas e semiáridas.
A sub-bacia do rio Paraguai, alimentada pelo aquífero Guarani, sofrerá as mesmas consequências das
demais regiões hidrográficas do Cerrado,
transformando o atual Pantanal Mato-Grossense numa área de desertos
arenosos, tal como já ocorreu na região durante o Pleistoceno Superior, onde ali existia o deserto do Grande Pantanal.
Logo após o
desaparecimento por completo das comunidades vegetais nativas, a agroindústria
terá seus dias de grande apogeu em termos de produtividade.
Grave processo de modificação
Os núcleos urbanos
criados ou dinamizados como suportes dessas atividades atingirão também seu
apogeu em termos de aumento demográfico e em termos de ofertas e oportunidades
de serviços de natureza diversa.
Passado certo
tempo, contado em alguns poucos anos, essa realidade experimentará um grave
processo de modificação. A produtividade agrícola começará a diminuir
assustadoramente, causando ondas de demissões nas empresas estabelecidas. Isso
acontecerá porque a água dos lençóis subterrâneos não será mais suficiente para
sustentar a produção no sistema de rotatividade de antes. Não haverá água para
fazer funcionarem os pivôs centrais. A atividade agrícola sobrevivente se
restringirá à época da estação chuvosa, que já se manifestará com
instabilidades sazonais.
Os solos, outrora
preparados intensivamente para os cultivos, serão ocupados em pequenas
parcelas, deixando exposta uma grande superfície desnudada. Da mesma forma as
pastagens que sustentavam a pecuária serão afetadas, provocando a redução
paulatina dos rebanhos.
Essa situação começará a refletir de
forma visível nos polos urbanos. Haverá racionamento de água, em função da diminuição da vazão dos
rios, que, por sua vez, provocará a redução do nível dos reservatórios. O racionamento
de energia elétrica também será imposto pelas mesmas causas. O desemprego e os
serviços, antes fartos e variados, afundarão numa crise sem precedentes.
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“O cerrado está incluído no
Planejamento Político Brasileiro como região de expansão da fronteira
agrícola, orientada por práticas predatórias, causando um cenário
estarrecedor”
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Isso provocará o aumento de pessoas ociosas e vadias nas cidades,
situação que criará enormes embaraços sociais desagradáveis. Haverá a
intensificação da criminalidade de todas as espécies, desde pequenos furtos,
saques, assaltos e assassinatos. A prostituição se generalizará, trazendo
consequências consideráveis para a saúde pública, que se apresenta cada vez
mais decadente. Os serviços públicos, incluindo a educação, por falta de
arrecadação e manutenção, começarão a beirar o caos.
Depois de certo
tempo a ausência de água nos rios criará uma paisagem desoladora. Áreas outrora
ocupadas pelas lavouras serão caracterizadas por formas vegetacionais rasteiras
e exóticas, típicas de formações desérticas, com um ciclo vegetativo muito
curto.
Grande parte dos
campos agrícolas abandonados, sem a cobertura vegetal necessária para fixar o
solo, passará, durante algumas épocas do ano, a ser assolada por ventos e
tempestades fortes, que criarão uma atmosfera escura carregada de grãos finos
de poeira em extensões quilométricas.
Os polos urbanos
serão assolados por diversas epidemias, que provocarão índices alarmantes de
mortalidade. A maioria da população sucumbirá diante da miséria crescente.
(Patricia Fachin)
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