quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O CAPITAL FINANCEIRO AGORA QUER AS CIDADES

Já se falou bastante sobre a proposta capitalista neoliberal de "economia verde": eles querem estabelecer preços para tudo que até agora tem sido considerado bem comum. Até mesmo os serviços ambientais das abelhas teriam preço, e seus detentores teriam direito a títulos de serviços ambientais - parecidos com os títulos de crédito de carbono - que serão negociados nas bolsas de valores, ou numa bolsa especial, a tal "bolsa verde".

A Cúpula dos Povos, realizada em junho deste ano nos dias da Rio+20 no Rio de Janeiro, construiu consciência e posição unânimes em relação a esse absurdo do capitalismo neoliberal hegemonizado pelo capital financeiro. Mesmo com todo o esforço de reflexão crítica feita pelos 14 mil participantes, uma das suas estratégias de "recuperação de ativos" não foi identificada. Trata-se da privatização de cidades  - tema bem fundamentado no artigo de Michael Hudson, publicado por Carta Maior no dia 9 de setembro com o título A guerra entre Wall Street e as Cidades nos USA.

É isso mesmo: o capital financeiro está exigindo a entrega total de cidades, a começar com o poder administrativo, nomeado por ele - como já fez na Grécia e na Itália, nomeando seus tecnocratas para o cargo de primeiro ministro de Estados cada vez mais endividados e sem perspectivas de capacidade de honrar suas dívidas. Como os banqueiros sabem que não há luz no fim desse túnel criado por eles, estão agora exigindo "ativos" das cidades endividadas, e que já não podem ser socorridas pelas autoridades superiores. Depois de impor seus tecnocratas no lugar dos políticos eleitos, estão exigindo a entrega das avenidas e ruas, da praças, das cadeias, dos espaços públicos destinados ao esporte e ao lazer, para cobrar da população taxas de acesso e uso de tudo. Trata-se de mais uma estratégia de privatização de tudo que até agora era considerado "público", "bem comum".

O que mais será necessário para que a população perceba os absurdos e as imposições do capital financeiro? Para dar-se conta de que a transformação dos bens comuns do campo e da cidade em mercadoria só completa sua estratégia de destruição das políticas sociais públicas, do estado de bem estar social, no caso da Europa, de diminuição dos salários e aposentadorias, de geração de mais desemprego? Em resumo, quanto tempo será ainda necessário para que a população se dê conta de que os banqueiros são criminosos por gerar desemprego, pobreza, miséria, por reservar saúde e educação só para os que podem pagar os preços estabelecidos por eles para esses direitos privatizados, por decidir quem vai e quem não vai ter acesso aos alimentos, todos igualmente transformados em mercadorias, com preços cada vez mais altos em função igualmente da especulação financeira?´

Essa imposição dos banqueiros não se limita aos Estados Unidos. Foi noticiado nos últimos dias que o presidente ilegítimo de Honduras está encaminhando a privatização de algumas cidades de seu país - processo elaborado na Embaixada estadunidense. E o faz porque elas se tornarão autônomas em relação a outras instâncias do Estado, liberadas para negociações locais e internacionais. Em outras palavras, deixarão de ser instâncias locais da cidadania hondurenha para serem transformadas em empresas privadas...

Esse absolutismo privatizador do capital financeiro só avança, e com aparência de "legalidade", por contar com a conivência de governos, que dizem decidir em nome do poder que receberam do povo através de processos eleitorais - ou de golpes legislativos, como o perpetrado em Honduras. Na verdade, esses governantes teriam sido eleitos pelo povo para favorecer e entregar tudo aos bancos, bem como para sacrificar os direitos de praticamente toda a população?

Os espanhóis estão dizendo que não. Para demonstrar isso nas ruas, estão se mobilizando para cercar o Congresso espanhol no próximo dia 25, para declarar pública e pacificamente que não aceitam nem os sacrifícios impostos ao povo nem os privilégios dos banqueiros, e que exigem, como porta de saída da crise civilizatória, uma Constituinte. Em outras palavras, estão dizendo que a saída da crise só acontecerá quando o poder soberano do povo decidir em quê e como reorganizar a forma de convivência entre as pessoas e das pessoas com a Mãe Terra.


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