segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

POR QUE NÃO ENERGIA ELÉTRICA SOLAR?

Estive dois dias com um grupo de agentes sociais que trabalham em projetos sociais animados pela Cáritas em São José do Rio Preto. Os temas tratados neste Encontro de Formação foram: A Missão de Mística da Cáritas e a temática da Campanha da Fraternidade de 2011 (CF 2011): Fraternidade e a Vida no Planeta. A reflexão que segue tem a ver com o segundo tema.

Faz parte da reflexão crítica proposta pela CF 2011 o desafio da produção e uso cada vez maior da energia elétrica. É essa necessidade de mais energia para manter o ritmo de crescimento da economia brasileira que leva o governo a assumir a responsabilidade de liberar e construir hidrelétricas de pequeno, médio e grande porte em todas as regiões do país. Se todas as previstas forem construídas, tal é a quantidade que muitos rios deixarão de ser rigorosamente rios, passando a ser uma sequência de barragens interligadas por canais do que restou do rio original. Quais as consequências socioambientais delas? A Terra dá sinais claros de que está sentindo aumentar seu desequilíbrio...

A região mais atingida é a Amazônia, e com lagos imensos. Basta ter presente a Belo Monte, no Pará, que arrasará com uma das mais belas paisagens existentes no país, deslocará povos indígenas e comunidades ribeirinhas camponesas e urbanas, remexerá com solo mais do que aconteceu na construção do Canal do Panamá, cobrirá com um lago imenso grande quantidade de biodiversidade e material orgânico, tornando-se uma nova fonte de produção e emissão de metano, gás que causa mais efeito estufa do que o dióxido de carbono.

O grupo de São José do Rio Preto, como tantos outros com quem tive oportunidade de dialogar sobre este tema, ficaram surpresos diante da informação de que praticamente não há recursos do Orçamento Federal para pesquisa e implementação da produção de energia elétrica a partir do sol; e de que há recursos insignificantes também para a produção de energia elétrica a partir dos ventos e do movimento natural das águas. A pergunta surge expontânea: por que não se priorizam estas fontes, absolutamente mais limpas, com fontes naturais seguras e abundantes?

Não há como fugir aos desafios que a realidade apresenta. No caso, é preciso reconhecer que, até agora, venceram os interesses e os argumentos dos grandes grupos econômicos ligados a três tipos de "negócio" de altíssimo valor: o da construção dessas obras gigantescas - só em Belo Monte, elas levarão mais entre 19 e 30 bilhões de reais; o da venda da mercadoria energia elétrica; e o do controle sobre as águas doces dos rios brasileiros. Sua capacidade de pressão sobre os governos tem sido clara, fazendo-se presente também no financiamento de eleições...

Por isso, se desejarmos mudar as prioridades da política de geração de energia elétrica só nos resta um caminho: juntar forças favoráveis às alternativas da energia solar, eólica e dos movimentos naturais das águas e pressionar os governantes mais eficazmente do que os grupos econômicos, que, como sempre, estão ligados aos seus lucros acima de qualquer preocupação social e ambiental; que, aliás, só usam o ambiental quando se torna uma nova e vantajosa fonte de negócios. Cabe-nos, portanto, um desafio político, e que só avançará na medida em que os movimentos sociais e as pessoas que desejam mudanças qualitativas se convencerem de que, na democracia, é necessário fazer política todo o dia, todo o tempo, e usando os meios necessários para que os governos implementem as políticas que a cidadania preferir.

Difícil? Certamente. Mas não impossível. Basta ver, uma vez mais, como a cidadania mobilizada, que ocupa, se necessário, ruas e praças para exigir mudanças qualitativas, alcança resultados positivos mesmo em países tradicionalmente governados por ditaduras, como está sendo o caso da Tunísia, Iêmen e do Egito. A CF 2011 vem aí como mais uma oportunidade de informação, consciência crítica e animação para a prática da ação cidadã como fonte de democratização da sociedade em que vivemos.

KUNA YALA, REFUGIADOS DA MUDANÇA CLIMÁTICA

Amigos e amigas, começo a semana oferecendo um artigo sobre a situação do povo Kuna, que vive nas ilhas do Caribe próximas ao Panamá. Está sentindo a água do mar chegando às suas casas, por causa do aquecimento global. Começa a perceber que está chegando a hora de migrar, buscando onde viver no continente. Haverá lugar? Será bem acolhido? Ou a humanidade chegará a acordos mundiais sobre o que se deve mudar para diminuir as mudanças climáticas em tempo para que o mar não cubra as ilhas em que vivem muitos povos?

Vale a pena pensar nisto, e mais ainda em como podemos pressionar em favor destes acordos.

28.01.11 - Panamá
Kuna Yala, refugiados da mudança climática
Noticias Aliadas
Servicio Informativo sobre América Latina y el Caribe producido por Comunicaciones Aliadas
Adital

Por Leslie Josephs
desde Carti Mulatupu
Tradução: ADITAL


Os indígenas Kuna, do Panamá, não necessitam televisão para estar informados sobre o aquecimento global. Ele já chegou à sua porta e está a ponto de mudar suas vidas e para adaptar-se terão que fazer as malas e mudar-se.
O paraíso flutuante dos Kuna, um cinturão de ilhas de areia brancas, salpicadas de palmeiras que se estendem no norte do Panamá, encontra-se ameaçado. O aumento do nível das águas pode obrigar aos milhares de Kuna que habitam o arquipélago de San Blas a fugir para a costa continental, um deslocamento que mudará seu modo de vida tradicional e a essência de sua cultura.
"Tudo está inundado, até o tornozelo”, disse Helen Pérez, diretora da escola de Carti Mulatupu, ilha Kuna de uns 500 habitantes. Pérez se refere aos fortes ventos que atingiram a comunidade, inundando de repente o laberinto de ruas de areia que dividem as choças de madeira e palma, onde vivem os Kuna.
Segundo o Instituto Smithsonian de Investigações Tropicais, o nível do mar está aumentando 2.5 milímetros/ano, uma taxa que poderia por algumas das ilhas, que apenas aparecem acima do cristalino Caribe, sob a água em menos de um século. Algumas estimativas sobre aumentos do nível das águas são muito mais altas, situação que se vê exarcebada para os Kuna nas temporadas de fortes ventos e altas marés.
O tempo se acaba
Na XVI Conferência Internacional sobre Mudança Climática, realizada em Cancún (México), em dezembro passado, a Alianza de Pequeños Estados Insulares, integrada por países do Caribe, África, Oceania, ressaltou sua difícil situação, assinalando que para o Caribe um aumento de 1 metro nos níveis de água poderia causar danos acima de US$ 6 bilhões/ano.
"Vendo a realidade, o povo está se conscientizando sobre a necessidade de deslocar-se da ilha para o continente”, agregou Pérez.
A cadeia de ilhas de San Blas é parte de Kuna Ayala, uma comarca constituída por terras indígenas semiautônomas. 90% dos 35.000 Kuna vivem em aproximadamente 45 das mais de 350 ilhas que se estendem até a fronteira com a Colômbia.
No ano passado, líderes de algumas comunidades Kuna decidiram que era o momento de começar a buscar alternativas e decidiram trasladar-se para as verdes colinas da costa continental.
Os Kuna são, possivelmente, uma das comunidades indígenas mais autônomas, independentes e insulares da América Latina. Eles elaboram suas próprias políticas e têm certa autoridade sobre quem pode entrar em seu território. As mulheres vestem trajes tradicionais, incluídas as coloridas molas, têxteis costurados em panos de cores florescentes com os quais produzem blusas; lenços com desenhos em vermelho brilhante, pequenos aros de ouro no septo nasal e inúmeras contas que rodeiam as pernas do joelho até o tornozelo.
Rara vez se escuta conversas em castelhano nessas ilhas; aí se fala quase que exclusivamente o idioma Kuna nativo.
Porém, o grupo sente também uma grande desconfiança em relação ao governo do panamá, derivada de uma longa luta pela autonomia. O Congresso Kuna está buscando financiamento de países estrangeiros, entre eles a Grã-Bretanha, para que membros da comunidade possam ocupar novas áreas.
Carti Sugdub, com uma população de 5.000 habitantes, é a ilha mais povoada. Seus residentes poderiam ser os primeiros a ter que retirar-se, junto com os das ilhas menores, como Carti Mulatupu.
As comunidades vivem de maneira simples, da pequena agricultura, da pesca e do turismo. Poucas têm eletricidade, menos ainda aparelhos modernos como televisão ou computadores.
Há algum tempo, as comunidades indígenas se queixam de que contribuem pouco para a mudança climática, porém sofrem os impactos maiores: secas mortais, inundações e um rápido esgotamento dos recursos hídricos.
Quem é o culpado?
"Por isso, no ano passado, nós criticamos que, se não alteramos o meio ambiente, por qué temos que pagar?”, manifestou Ariel González, secretário do Congresso Kuna.
Seu argumento não é totalmente certo.
Os Kuna que vivem no arquipélago têm um problema de espaço: já não entram nas ilhas. E para aumentar os espaços, utilizam terra para fazer aterros, em particular de coral, que atua como uma barreira natural para proteger as ilhas das marés.
"Cada chefe de família tem que fazer sua parte”, diz Osvaldo Taylor, 34 anos, pai de dois estudantes, enquanto colocava cubos de coral recém coletado em um pequeno lote em frente à escola.
Os organismos que compõem o coral crescem a passo de tartaruga, somente uns milímetros ao ano, o que significa que os Kuna estão acelerando o processo de destruição dos recifes marinhos.
"Eu digo que não é correto responsabilizar 100% [ao aquecimento global]”, disse Héctor Guzmán, cientista do Instituto Smithsonian de Investigações Tropicais, que tem investigado amplamente o ecossistema de San Blas. "Eles são responsáveis pelos danos aos recifes e nesse caso não têm toda a razão”.
Assim que agora os Kuna enfrentam uma rápida conta regressiva antes de ver-se obrigados a deixar as ilhas onde têm vivido durante um século. E alguns não querem partir.
"Não posso obrigar as pessoas a mudar”, disse González. "Não é fácil dizer a alguém que nasceu, cresceu em uma ilha, que viveu toda sua vida perto do mar que se mude porque já é hora”. Os anciãos da aldeia, em particular, têm reservas sobre começar de novo.
"Com o tempo, tudo vai ficar inundado”, disse Orlando Paniza, 68 anos, pai de quatro filhos. "Depois, para onde irei?”.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A HISTÓRIA DE UM CRIME DE 20 TRILHÕES DE DÓLARES

BELO ANÚNCIO, PRESENTE NO ARTIGO QUE ENVIO: SERÁ LANÇADO UM DOCUMENTÁRIO QUE REVELA O QUE ACONTECEU NA CALADA DA NOITE - MAS DE FORMA MAIS VISÍVEL QUE O SOL - PARA QUE SE CHEGASSE À CRISE FINANCEIRA DE 2008 - E QUE CONTINUA ATUANDO NO MUNDO. ELA SIGNIFICOU UM CUSTO DE 20 TRILHÕES DE DÓLARES - QUE AGORA OS GOVERNOS, ASSOCIADOS AOS GRANDES BANQUEIROS, ESTÃO COBRANDO DA POPULAÇÃO DO MUNDO ATRAVÉS DE CORTES NOS DIREITOS SOCIAIS...

Veja treiller do Documentário em
http://www.youtube.com/watch?v=a_f_-LAsv88&feature=player_embedded


Carta Maior - 25/01/2011

A história de um crime de 20 trilhões de dólares

Documentário que será lançado em fevereiro no Brasil mostra o comportamento criminoso de agentes políticos e econômicos que conduziu à crise mundial de 2008. Essa conduta criminosa provocou a perda do emprego e da moradia para milhões de pessoas. "Inside Job" (que ganhou o título de "Trabalho interno" em português) conta um pouco da história que Wall Street e seus agentes pelo mundo querem que seja esquecida o mais rápido possível. Documentário resultou de uma extensa pesquisa e de uma série de entrevistas com políticos e jornalistas, revelando relações corrosivas e promíscuas entre autoridades, agentes reguladores e a Academia.

Marco Aurélio Weissheimer

Data: 23/01/2011


Como causar uma quebradeira de 20 trilhões de dólares, por meio de uma farra de negócios especulativos, e cobrar a conta de milhões de pobres mortais que não participaram da festa? O documentário Inside Job (“Trabalho interno”, em português) responde essa pergunta mostrando o comportamento criminoso de agentes políticos e econômicos que conduziu à crise econômica mundial de 2008. Essa conduta criminosa provocou a perda do emprego e da moradia para milhões de pessoas.

Dirigido por Charles Ferguson (mesmo diretor de No End in Sight) e narrado por Matt Damon, o documentário conta um pouco da história que Wall Street e seus agentes pelo mundo querem que seja esquecida o mais rápido possível. Para repeti-la, provavelmente.

O documentário resultou de uma extensa pesquisa e de uma série de entrevistas com políticos e jornalistas, revelando relações corrosivas e promíscuas entre autoridades, agentes reguladores e a Academia.

Em No End in Sight, Ferguson faz uma análise sobre o governo de George W, Bush e sua conduta em relação à Guerra do Iraque e a ocupação do país, questionando as mentiras utilizadas pelas autoridades norte-americanas para sustentar a ocupação. Agora, em Inside Job, mais uma vez o diretor expõe uma teia de mentiras e condutas criminosas que prejudicaram seriamente (e seguem prejudicando) a vida de milhões de pessoas. Agende-se: a estreia do documentário no Brasil está prevista para o dia 18 de fevereiro.

“Se você não ficar revoltado ao final do filme, você não estava prestando atenção” – diz uma das frases promocionais do documentário. Uma revolta necessária, pois, neste exato momento, muitos dos agentes causadores da crise (do roubo, seria melhor dizer) voltaram a dar “conselhos” para governos e sociedades. Algumas das mais novas vítimas são gregos, irlandeses, espanhóis, portugueses e outros povos europeus que estão sendo “convidados” a “aceitar a ajuda do FMI”.

Os arautos das privatizações e da desregulamentação seguem soltos como se nada tivesse ocorrido. Inside Job mostra as entranhas deste mundo de cobiça, cinismo e mentira. São estes criminosos, no frigir dos ovos, que seguem dando as cartas no planeta. Preparem o estômago, abram os olhos e ouvidos e não deixem de ver esse filme.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

PREVENÇÃO? ÓTIMO. MAS DE QUAIS DESASTRES?

Quantas serão, no total, as pessoas mortas no desastre socioambiental que atingiu a Região Serrana do Rio de Janeiro? Tudo indica que serão mais de mil, e muito provavelmente nunca se saberá ao certo o número, tendo presente que muitas pessoas não serão encontradas por causa das mudanças impressionantes da pasagem. E já estão em contagem, mais uma vez, os mortos em enchentes em Santa Catarina...

Frente a isso, é saudável que o governo federal esteja incluindo em suas reações a decisão de empenhar-se para implementar, nos próximos quatro anos, um sistema efetivo e eficaz de prevenção de desastres. Como já foi dito por assessora da ONU, o Brasil já podia estar muito melhor aparelhado para a prevenção, já que conta com recursos para o que decide fazer.

Vale a pena, por isso, colocar em debate o que se entende por prevenção de desastres, procurando colaborar como cidadãos com a vontade manifestada pelo governo. Será suficiente instalar computadores mais eficientes, que prevejam com maior exatidão e antecedência chuvas e outros fenômenos climáticos? Será suficiente elaborar mapas mais detalhados das áreas de risco, localizando quem nela está estabelecido? Será suficiente instalar sinais de alerta conhecidos por quem se encontra em locais que podem ser atingidos especialmente por enchentes?

Tudo isso é absolutamente necessário e deve ser realizado no mais curto espaço de tempo, de modo especial nas áreas que seguidamente são atingidas e sofrem com vítimas fatais. Cabe-nos, então, acompanhar a ação governamental para verificar o andamento destas medidas já anunciadas, e para exigir que sejam realizadas, no caso de entrarem no esquecimento uma vez passado o clima de comoção provocado pela morte de tantas pessoas e por todas as consequências das mudanças da paisagem das regiões atingidas.

Mas, há uma pergunta que não pode ser deixada de lado: as informações disponíveis sobre o clima não indicam com segurança que haverá eventos extremos cada vez mais intensos, provocando desastres cada vez mais significativos? Se sabemos disso, o trabalho de prevenção não deveria identificar e atacar as causas dos eventos climáticos extremos que provocam desastres socioambientais?

A resposta, no meu entendimento, assentando sobre o que se tem de mais seguro e sério sobre o que já aconteceu e sobre os cenários futuros das mudanças climáticas, deve ir na direção da busca e enfrentamento das causas. Sem isso, tudo que se fará, mesmo sendo necessário e urgente, apenas significará diminuição do impacto desses fenômenos climáticos que não são mais naturais, e sim provocados por ações humanas. Sabe-se que o agravamento crescente dos eventos climáticos extremos se deve a tudo que provoca crescente aquecimento no planeta Terra, em particular a tudo que emite gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso. Assim sendo, se empresários e governo teimarem na manutenção e expansão do tipo de indústria, de transporte, de agropecuária e de geração de energia dominantes, o Brasil estará aumentando sua contribuição na geração do aquecimento global, e será responsável pelo agravamento dos eventos climáticos, incluídas as mortes de pessoas e de outros seres vivos.

Uma política de prevenção de desastres socioambientais adequada ao século XXI deve incluir e privilegiar medidas de redefinição do desenvolvimento, deixando de centrá-lo na economia de mercado capitalista, que exige exploração intensiva ecrescente dos bens naturais, reduzidos a matéria-prima, e exploração mais profunda dos trabalhadores; e que exige expansão sem fim do consumismo como garantia da reprodução do sistema, voltado exclusivamente para a obtenção de lucros e mais lucros, mesmo se isso gera a injustiça presente na desigualdade socioeconômica e o desequilíbrio da Mãe Terra . O desenvolvimento, no século XXI, deve centrar-se na promoção e garantia do bem viver para todas as pessoas, relacionando-se com cuidado e carinho com as pessoas, com os demais seres vivos e com tudo que constitui o ambiente favorável à vida na e da Mãe Terra. Não há a mínima chance de a humanidade continuar vivendo na Terra se continuar concentrando riqueza, renda, poder, luxo e desperdício em tão poucas mãos, e transformando o necessário para manter vivos os demais seres humanos: alimentos, habitações, meios de transporte, empregos e tudo mais, em mercadorias, isto é, em fontes de mais lucros e concentração. Ela já está estressada e, mesmo sem querer, ver-se-á obrigada pelos seres humanos exploradores a agir de forma desequilibrada.

Não se diga que não existem alternativas em nosso país. Para dar dois exemplos, basta lembrar quanto sol aberto está disponível para ser fonte de energia elétrica; e basta ter presente que a maior parte da alimentação é fruto da agricultura camponesa, ainda tão pouco reconhecida e apoiada, e que já existem conhecimentos e técnicas para recuperar e revitalizar o solo para produzir alimentos agroecológicos, abandonando os venenos, produtos químicos e sementes trangênicas, tudo comprovadamente agressivo ao ambiente vital e fonte de doenças. Não seria necessário derrubar mais nada da floresta amazônica nem construir imensos lagos artificiais nesta e em outras regiões, causando desastres sociambientais e gerando e emitindo mais metano na atmosfera, aumentando o aquecimento global; uma vez democratizado o acesso ao solo e reorganizado seu uso, haverá muitos espaços para recriar, junto com as energias da Terra em cada um de seus biomas, extensas áreas de novas florestas - não essas de eucalipto ou pinus, que não passam de um dos processos da indústria, e que, como ela, desequilibram o ambiente vital.

Concluindo, uma política de prevenção de desastres sociamabientais deverá necessariamente ser parte de um programa de desenvolvimento que priorize o social e o ambiental, colocando a economia a serviço deste objetivo. Sem isso, por mais que se faça para prevenir, sempre se estará atrasado em relação ao agravamento e à multiplicação dos eventos climáticos extremos.

DEGELO ACELERADO DOS ANDES AMEAÇA AMÉRICA DO SUL

Muito importantes as informações e as reflexões que seguem, abordando os desafios que nascem do acelerado processo de degelo dos Andes. Precisamos agir com urgência, e ir fundo nas decisões sobre o que fazer.

18/01/2011

DEGELO ACELERADO DOS ANDES AMEAÇA AMÉRICA DO SUL

Por Fabiano Ávila, da Carbono Brasil

Desaparecimento das geleiras em países como o Peru, que dependem delas para o fornecimento de água, já preocupa e pode resultar em milhões de refugiados climáticos e na desestabilização de todo o continente.

O Peru possui 70% de todas as geleiras existentes na zona tropical do planeta, que são fundamentais para o fornecimento de água e para o próprio clima de diversos países. Porém o aumento da temperatura está provocando o degelo dessas regiões em um ritmo mais rápido que o previsto por cientistas e existe o risco de que nos próximos 10 anos geleiras inteiras deixem de existir.

Se esse cenário se confirmar, uma grande crise econômica e social pode desestabilizar todo o continente, fazendo surgir mais conflitos entre os países.

“Imagine o que pode acontecer se as geleiras andinas se forem e milhões de pessoas famintas tiverem que migrar para outras regiões”, explicou ao jornal Washington Post o ex-diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), James Woolsey.

Dados dos últimos 40 anos do governo peruano já mostram o impacto do degelo na agricultura e no modo de vida das pessoas que moram nas zonas mais próximas às geleiras.

“Antes eu caminhava duas horas e já alcançava a geleira. Mas agora, eu ando cinco, seis horas para chegar à ela. Nós pegamos toda a nossa água de lá, se o gelo desaparecer simplesmente não teremos mais água”, disse Maximo Juan Malpaso Carranza, agricultor da comunidade andina de Utupampa.

Mais de dois milhões de peruanos dependem diretamente da água coletada na chamada Cordilheira Branca. Porém, pesquisadores afirmam que essas montanhas já perderam 30% de suas geleiras desde 1970.

O próprio governo do país reconhece que precisa de ajuda para lidar com a situação, seja com a construção de reservatórios e represas ou  com investimentos que melhorem a produção agrícola.

“Se o Peru e seus aliados não criarem projetos para conservar água, melhorar a infraestrutura e controlar o degelo nos próximos cinco anos, o desaparecimento das geleiras podem levar a um desastre social e econômico”, afirmou Alberto Hart, conselheiro de mudanças climáticas do Ministério de Relações Exteriores do Peru.

Para minimizar esse quadro, o governo peruano está tentando arrecadar junto à comunidade internacional US$ 350 milhões por ano até 2030.

No ano passado, o Peru recebeu US$ 30 milhões dos Estados Unidos em ajuda para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Porém, a maior parte desses recursos acabou destinada para as áreas de florestas do país.

O Banco Mundial já vem trabalhando com o Peru para monitorar o suprimento de água e implementar modificações na agricultura. Japão, Austrália e Suiça também ofereceram ajuda.

Mas o degelo dos Andes não afetará apenas o Peru, pois terá sérias consequências de forma direta na Bolívia e no Equador, onde cidades já convivem com a ameaça de enchentes relâmpago e seca. Os rios que formam a Bacia Amazônica também deverão sofrer, já que nascem na cordilheira.  Todos os impactos do degelo ainda não estão claros e mais estudos deveriam ser incentivados pelos governos sul-americanos.

A Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC) identifica a América do Sul como uma das áreas mais vulneráveis às mudanças climáticas. Além do degelo dos Andes, praticamente todo o litoral do continente está sujeito a fortes tempestades e enchentes, fenômenos extremos que põe em risco milhões de pessoas devido à densidade populacional e a ocupação desordenada nas cidades.


(Envolverde/Carbono Brasil)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

PARA QUE A PRESIDENTA DILMA FAÇA UM BOM GOVERNO

Faço minhas as reflexões de Roberto Malvezzi sobre a relação entre os desastres socioambientais acontecidos neste verão no Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo e a responsabilidade da presidenta Dilma. Leiam o artigo e assumam atitude de cidadania ativa para exigir que o gaverno Dilma esteja à altura das necessidades atuais.

Um Verão para Dilma.

Roberto Malvezzi (Gogó)

A presidente Dilma visitou as áreas devastadas pelas chuvas. Pousou no lugar. Conversou com os prefeitos e o governador. Não riu das pererecas, dos bagres, nem criticou os ambientalistas, o ministério público, os indígenas e os quilombolas. Humildemente disse que era também um momento de aprender.

Dilma tem aparência dura, mas muitas vezes chora em público. Chorar e sorrir são atitudes exclusivas do ser humano, sinais de inteligência e sensibilidade.

Portanto, esperamos da presidente atitudes coerentes com seu procedimento e com suas palavras. O primeiro passo do poder público é mesmo socorrer com o melhor essas populações. Em segundo, é preciso o mapeamento imediato das áreas de risco no Brasil e o investimento prioritário para remover essas populações. Será um custo econômico astronômico, mas ainda é melhor prevenir que remediar, porque muito além do econômico está a vida da população. Essa tragédia, ao soterrar condomínios de luxo, prova mais uma vez que diante do que o mundo vem atravessando e vai atravessar, a natureza não distingue classe social.

Muitos especialistas comparam o que aconteceu no Brasil agora com o que acontece na Austrália e outros países, como Bélgica. Oras, não se pode avaliar essas tragédias apenas pelas mortes, mas por todos os prejuízos e transtornos físicos e psicológicos que eles causam. Quem passa por essa situação, a cada chuva, revive a tensão emocional de situações do passado. 

O que acontece no mundo é muito mais grave que fortes chuvas de verão. O fracasso de Copenhague, Cancun, o avanço progressivo das cidades e agricultura sobre as florestas, desaba em fenômenos que agora presenciamos.

Dilma precisa, enfim, vetar qualquer mudança no Código Florestal que venha aumentar o desmatamento nas encostas e às margens dos rios. A força econômica e política do agronegócio não pode sobrepor-se aos direitos da esmagadora maioria do povo brasileiro. Sua racionalidade econômica é irracional para o bem do conjunto da nação.

Sobretudo, a presidente precisa entender que ela tem um papel histórico infinitamente maior que ser uma gerente dos interesses do capital. Precisamos ser um país melhor e equilibrado, não necessariamente a 5ª  economia do mundo. A história lhe deu gratuitamente o papel de conduzir o país para um novo paradigma civilizacional, justamente nesse momento que atravessamos uma mudança de época. Tomara que ela compreenda a magnitude da tarefa que lhe cabe e não se abespinhe diante de interesses poderosos, mas profundamente mesquinhos.

Lembremo-nos sempre: hoje foi na casa do vizinho, amanhã poderá ser na nossa.

sábado, 15 de janeiro de 2011

INCOERÊNCIAS

Muita gente está acompanhando o drama da população da região serrana do Rio de Janeiro. É principalmente através da televisão que entram na casa da gente imagens realmente perturbadoras. Certamente aumenta o número de pessoas que se pergunta: afinal, o que está acontecendo? Um menino, ouvido pela reportagem, excalamou: parece o fim do mundo.

Pois é sobre isso que ando refletindo e quero compartilhar. De fato, tudo que está acontecendo tem a ver com a intensidade das chuvas, no curto prazo, mas tem muito mais a ver com a forma de relação da humanidade com a natureza, com a Terra. Por que há pessoas que ocupam e vivem nas margens dos rios e córregos, roubando a eles o direito de terem a vegetação da mata ciliar? Por que se diminui ainda mais o que resta de Mata Atlântica, que cobre os morros da região? Por que construir em encostas, diminuindo a capacidade do solo que cobre os morros de manter-se firme sobre a rocha que lhe serve de base?

É evidente que a maioria das pessoas não está aí por gosto. Está aí porque não há lugar melhor e mais firme para elas; e não há lugar porque alguns poderosos são donos dos terrenos melhores, em geral os mesmos que são donos dos clubes e loteamentos de luxo, localizados em áreas de risco; e não há lugar porque estes poucos são donos também das prefeituras e ditam o que se deve ou pode fazer, favorecendo os de sua classe e deixando o povão no abandono.

Mas há outro ponto sobre o qual quero refletir: as mesmas empresas de televisão que transmitem imagens e notícias sobre o desastre socioambiental, estimulam, também, em seus horários de publicidade, as pessoas a comprarem carros e mais carros, cada um mais tentador. Da mesma forma, falseia a realidade ao transmitir propagandas da Vale, pois ela é apresentada como cuidadora do meio ambiente quando se sabe dos efeitos desastrosos de suas atividades de mineração para o ambiente da vida na Terra. E o que dizer da Petrobras e de tantas outras empresas?

De que adianta as televisões inistirem em favor de medidas preventivas, se elas próprias são mantidas por iniciativas empresariais que deveriam mudar profundamente para colaborar com a prevenção necessária? É preciso cobrar dos governantes políticas públicas e recursos para realizar as obras de prevenção aos desastres socioambientais, mas está chegando a hora de cobrar, com igual ou maior ênfase, que as empresas industruais, agropecuárias, de mineração, de construção de grandes hidrelétricas e outras grandes obras, bem como as comercais e bancárias, que levem a sério a situação do Planeta, que tem a ver com os eventos extremos que atingem o Sudeste brasileiro e outras diferentes regiões da Terra, e que percebam que a promoção do consumismo, especialmente dos produtos que emitem gases de efeito estufa, tem tudo a ver com os desatres socioambientais. Na verdade, se não houver mudanças profundas no modo de produção e de consumo, estas ações humanas aumentarão o desequilíbrio climático da Terra, e serão responsáveis pelas mortes causadas por estes eventos extremos.

Conclunido, quando agirão de forma coerente as grandes empresas que monopolizam a mídia? Sem buscar coerência entre o que se reclama e propõe ao poder público e o que se ajuda as empresas a venderem, essas empresas midáticas se tornam cada vez mais corresponsáveis pelos desastres sociambientais. Sem essa coerência, como diferenciar o que é atividade de informação, cumprindo a sua obrigação pública, e o que não passa de sensacionalismo e o oportunismo?

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

AJUDE A IMPEDIR A CONTRUÇÃO DA BELO MONTE

Segue uma oportunidade para fazer valer sua cidadania, pressionando democraticamente para que o projeto da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, seja abandonado pelo governo federal. Além de todas as razões apresentadas a seguir, ela não é necessária simplesmente porque o Brasil dispõe de sol à vontade para produzir energia elétrica mais limpa a quantidade que desejar; basta mudar as prioridades da política energética do governo e conseguir que ele a defina sem depender dos imensos interesses das grandes construtoras, especialmente o de ir privatizando a água doce do Brasil.

Assine, como eu fiz, e reforce rapidamente o abaixo-assinado.



Obrigado por assinar a petição para parar a mega usina de Belo Monte. Nós temos pouco tempo para fazer tudo ao nosso alcance para impedir este projeto desastroso.

Somente um chamado massivo da sociedade conseguirá convencer a Presidente Dilma Rousseff, então vamos conseguir o máximo possível de assinaturas para que as nossas vozes surtam efeito quando a petição for entregue em Brasília. Divulgue, encaminhe o link abaixo:

http://www.avaaz.org/po/pare_belo_monte/97.php

Obrigado pela ajuda,

Ben, Graziela, Alice, Iain, Ben, Ricken, Milena e toda a equipe da Avaaz

PS. Aqui está o alerta original para você encaminhar para os seus amigos:

Caros amigos,

O Presidente do IBAMA se demitiu ontem devido à pressão para autorizar a licença ambiental de um projeto que especialistas consideram um completo desastre ecológico: o Complexo Hidrelétrico de Belo Monte.

A mega usina de Belo Monte iria cavar um buraco maior que o Canal do Panamá no coração da Amazônia, alagando uma área imensa de floresta e expulsando milhares de indígenas da região. As empresas que irão lucrar com a barragem estão tentando atropelar as leis ambientais para começar as obras em poucas semanas.

A mudança de Presidência do IBAMA poderá abrir caminho para a concessão da licença – ou, se nós nos manifestarmos urgentemente, poderá marcar uma virada nesta história. Vamos aproveitar a oportunidade para dar uma escolha para a Presidente Dilma no seu pouco tempo de Presidência: chegou a hora de colocar as pessoas e o planeta em primeiro lugar. Assine a petição de emergência para Dilma parar Belo Monte – ela será entregue em Brasília, quando conseguirmos 150.000 assinaturas:

http://www.avaaz.org/po/pare_belo_monte/97.php

Abelardo Bayama Azevedo, que renunciou à Presidência do IBAMA, não é a primeira renúncia causada pela pressão para construir Belo Monte. Seu antecessor, Roberto Messias, também renunciou pelo mesmo motivo ano passado, e a própria Marina Silva também renunciou ao Ministério do Meio Ambiente por desafiar Belo Monte.

A Eletronorte, empresa que mais irá lucrar com Belo Monte, está demandando que o IBAMA libere a licença ambiental para começar as obras mesmo com o projeto apresentando graves irregularidades. Porém, em uma democracia, os interesses financeiros não podem passar por cima das proteções ambientais legais – ao menos não sem comprarem uma briga.

A hidrelétrica iria inundar 100.000 hectares da floresta, impactar centenas de quilômetros do Rio Xingu e expulsar mais de 40.000 pessoas, incluindo comunidades indígenas de várias etnias que dependem do Xingu para sua sobrevivência. O projeto de R$30 bilhões é tão economicamente arriscado que o governo precisou usar fundos de pensão e financiamento público para pagar a maior parte do investimento. Apesar de ser a terceira maior hidrelétrica do mundo, ela seria a menos produtiva, gerando apenas 10% da sua capacidade no período da seca, de julho a outubro.

Os defensores da barragem justificam o projeto dizendo que ele irá suprir as demandas de energia do Brasil. Porém, uma fonte de energia muito maior, mais ecológica e barata está disponível: a eficiência energética. Um estudo do WWF demonstra que somente a eficiência poderia economizar o equivalente a 14 Belo Montes até 2020. Todos se beneficiariam de um planejamento genuinamente verde, ao invés de poucas empresas e empreiteiras. Porém, são as empreiteiras que contratam lobistas e tem força política – a não ser claro, que um número suficiente de nós da sociedade, nos dispormos a erguer nossas vozes e nos mobilizar.

A construção de Belo Monte pode começar ainda em fevereiro.O Ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, diz que a próxima licença será aprovada em breve, portanto temos pouco tempo para parar Belo Monte antes que as escavadeiras comecem a trabalhar. Vamos desafiar a Dilma no seu primeiro mês na presidência, com um chamado ensurdecedor para ela fazer a coisa certa: parar Belo Monte, assine agora:

http://www.avaaz.org/po/pare_belo_monte/97.php

Acreditamos em um Brasil do futuro, que trará progresso nas negociações climáticas e que irá unir países do norte e do sul, se tornando um mediador de bom senso e esperança na política global. Agora, esta esperança será depositada na Presidente Dilma. Vamos desafiá-la a rejeitar Belo Monte e buscar um caminho melhor. Nós a convidamos a honrar esta oportunidade, criando um futuro para todos nos, desde as tribos do Xingu às crianças dos centros urbanos, o qual todos nós podemos ter orgulho.

Com esperança

Ben, Graziela, Alice, Ricken, Rewan e toda a equipe da Avaaz

Fontes:

Belo Monte derruba presidente do Ibama:
http://colunas.epoca.globo.com/politico/2011/01/12/belo-monte-derruba-presidente-do-ibama/

Belo Monte será hidrelétrica menos produtiva e mais cara, dizem técnicos:
http://g1.globo.com/economia-e-negocios/noticia/2010/04/belo-monte-sera-hidreletrica-menos-produtiva-e-mais-cara-dizem-tecnicos.html

Vídeo sobre impacto de Belo Monte:
http://www.youtube.com/watch?v=4k0X1bHjf3E

Uma discussão para nos iluminar:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101224/not_imp657702,0.php

Dilma: desenvolvimento com preservação do meio ambiente é "missão sagrada":
http://www.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=20110101161250&assunto=27&onde=Politica

Em nota, 56 entidades chamam concessão de Belo Monte de 'sentença de morte do Xingu':
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2010/08/26/em-nota-56-entidades-chamam-concessao-de-belo-monte-de-sentenca-de-morte-do-xingu-917481377.asp

Marina Silva considera 'graves' as pressões sobre o Ibama:
http://www.estadao.com.br/noticias/economia,marina-silva-considera-graves-as-pressoes-sobre-o-ibama,475782,0.htm

Segurança energética, alternativas e visão do WWF-Brasil:
http://assets.wwfbr.panda.org/downloads/posicao_barragens_wwf_brasil.pdf




A Avaaz é uma rede de campanhas globais de 5,6 milhões de pessoas
que se mobiliza para garantir que os valores e visões da sociedade civil global influenciem questões políticas internacionais. ("Avaaz" significa "voz" e "canção" em várias línguas). Membros da Avaaz vivem em todos os países do planeta e a nossa equipe está espalhada em 13 países de 4 continentes, operando em 14 línguas. Saiba mais sobre as nossas campanhas aqui, nos siga no Facebook ou Twitter.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

SUDESTE BRASILEIRO: EVENTOS EXTREMOS DE FENÔMENOS NATURAIS

A impressão é a de que passou por aqui um tsunami, reflete o reporter; parece que o mundo está acabando, exclama um menino; moro aqui há trinta anos, mas nunca vi uma enchente como esta, atesta um senhor, visvelmente atordoado; perdi minha família, sussura um sobrevivente.

Em 2010, a enchente com desmoronamentos e muitas mortes de pessoas aconteceu em morros de Niteroi; em 2011, repete-se o fenômeno, só que na região serrana do Rio de Janeiro, atingindo especialmente as cidades de Teresópolis e Nova Friburgo. Até o momento, o número de pessoas mortas chega a 380, e provavelmente aumentará signitivamente. Ao lado dos estragos materiais, como casas e prédios derrubados, estradas e ruas, praças e espaços de lazer, é o número de pessoas mortas e desabrigadas que mais deve chamar atenção. Afinal, tudo que foi destruído foi construído pelas famílias e pela sociedade como espaço de qualidade de vida.

Por isso, vale a pena refletir sobre estas enchentes, que também atingem São Paulo, ligando-as com o que se vai conhecendo sobre o aquecimento do planeta e sua interferência na vida cotidiana. Seria equivocado simplificar a questão, afirmando que as enchentes atuais são provocadas diretamente pelo aquecimento da atomosfera e das águas dos mares. Na verdade, faz parte do clima da região Sudeste brasileiro a ocorrência de chuvas intensas no período do verão. Mas o que já se conhece sobre a influência do aquecimento sobre as mudanças climáticas pode ajudar a compreender melhor o que está acontecendo; isto é, entender porque as chuvas estão se tornando cada vez mais intensas.

O que está acontecendo é que aumenta cada dia mais a intensidade dos eventos extremos de fnômenos naturais. É o que as reportagens informam: choveu numa noite o que se esperava para uma semana; num dia, cheveu na região o equivalente ao que que chove, normalmente, num mês. Esse aumento, essa concentração das precipitações de chuva em algumas horas, num dia ou em poucos dias seguidos, é o que caracteriza o evento extremo em relação ao fenômeno natural da chuva. A mesma coisa pode acontecer em relação ao frio, com eventos extremos de nevascas; com as águas dos mares, que tem sua temperatura elevada num curto espaço de tempo; com os ventos, que aumentam a velocidade e se tornam mais destruidores; com os furacões, que se tornam mais intensos e mais destruidores...

Como isso já está mais do que estudade e demonstrado, vale a pena perguntar-se sobre o futuro: isso retornará ao normal ou a tendência é o agravamento dos eventos extremos? Os estudos sérios de cenários futuros, assentados no que aconteceu até agora como fruto do aquecimento já verificado do planeta e no que a humanidade continua fazendo, sinalizam o agravamento constante e crescente. Por isso, é fundamental pensar o que fazer agora tendo com base a informação de que os eventos extremos se agravarão nos próximos anos.

Se teimarmos e fazer mais do mesmo, procurando apenas reconstruir o que foi danificado, apostamos em novos e maiores problemas no futuro próximo. O que se apresenta como sabedoria humana é a busca da compreensão das causas profundas e geradoras dessas mudanças climáticas, que se manifestam em eventos extremos. E isso nos levará a corrigir o que tem fragilizado o solo nas cidadas atingidas, repensando tanto a ocupação dos territórios necessários para que os rios sejam rios e os morros sejam morros, como a estrutura da propriedade privada da terra urbana e rural, tendencialmente destinada à especulação, levando muitas famílias a não terem condições de moradia a não ser em encostas perigosas e em margens dos córregos e rios. Mais ainda: será necessário repensar a relação entre o que está aquecendo a Amazônia e as águas do mar, de onde vêm as correntes de ar úmido para a região... E isso nos leva a todas as atividades humanas que continuam aumentando a emissão de gases de efeito estufa, seja na queima de fontes fésseis de energia nas indústrias e no transporte; seja na construção de grandes lagos artificiais para produzir energia elétrica, que produzem igualmente grande quantidade de metano, gas poderoso no processo de aquecimento; seja no tipo de agropecuária padronizada pelo agronegócio, responsável pela emissão de metano e óxido nitroso, ambos geradores de aquecimento; seja no descuido irresponsável dos lixos e esgotos gerados nas cidades, bem como na teimosa mania de cobrir todo o solo com asfalto e cimento, impedindo que a água das chuvas penetre nele, forçando-as a escorrer por córregos e rios poluídos, sem vida, enjaulados, cimentados...

Seria demais querer indicar tudo que se deve fazer num simples artigo. Uma coisa é certa, contudo: se não entrarmos num acordo, como brasileiros e como humanidade, e não destinarmos recursos agora para prevenir o que acontecerá com certeza, choraremos mais pessoas mortas e queimaremos muito mais recursos para enfrentar os desastres socioambientais que se aprofundarão por causa dos eventos extremos de fenômenos naturais. Por isso, está cada vez mais clara a necessidade de definir uma política pública centrada em ações preventivas aos desastres socioambientais. Um mapeamento do que tem acontecido e do que os cenários indicam que acontecerá em todas as regiões do país será um ponto de partida para aplicar inteligentemente recursos de toda a sociedade em favor de mudanças que devem ser feitas para evitar sofrimentos de pessoas e perdas de toda ordem.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

ABAIXO-ASSINADO INTERNACIONAL

Esta mensagem tem o objetivo de difundir e sugerir que entrem no endereço abaixo e subscrevam o abaixo-assinado em defesa das abelhas, ameaçadas por agrotóxicos, como podem verificar no texto do AVAAZ.


Silenciosamente, bilhões de abelhas estão morrendo, colocando toda a nossa cadeia alimentar em perigo. Abelhas não fazem apenas mel, elas são uma força de trabalho gigante e humilde, polinizando 90% das plantas que produzimos.

Vários estudos científicos mencionam um tipo de agrotóxico que contribui para o extermínio das abelhas. Em quatro países Europeus que baniram estes produtos, algumas populações de abelhas já estão se recuperando. Mas empresas químicas poderosas estão fazendo um lobby pesado para continuar vendendo estes venenos. A única maneira de salvar as abelhas é pressionar os EUA e a União Europeia para eles aderirem à proibição destes produto letais - esta ação é fundamental e terá um efeito dominó no resto do mundo.

Não temos tempo a perder - o debate sobre o que fazer está esquentando. Não se trata apenas de salvar as abelhas, mas de uma questão de sobrevivência. Vamos gerar um zumbido global gigante de apelo à UE e aos EUA para proibir estes produtos letais e salvar as nossas abelhas e os nossos alimentos. Assine a petição de emergência agora, envie-a para todo mundo, nós a entregaremos aos governantes responsáveis:

https://secure.avaaz.org/po/save_the_bees/?cl=905473158&v=8149

As abelhas são vitais para a vida na Terra - a cada ano elas polinizam plantas e plantações com um valor estimado em US$40 bilhões, mais de um terço da produção de alimentos em muitos países. Sem ações imediatas para salvar as abelhas, muitas das nossas frutas, legumes e óleos preferidos poderão desaparecer das prateleiras.

Nos últimos anos, temos visto um declínio acentuado e preocupante a nível global das populações de abelhas - algumas espécies já estão extintas e semana passada ficamos sabendo que algumas espécies nos EUA chegaram a 4% da população normal. Cientistas vêm lutando para obter respostas. Alguns estudos afirmam que o declínio pode ser devido a uma combinação de fatores, incluindo doenças, perda de habitat e utilização de produtos químicos tóxicos. Mas cada vez mais novos estudos independentes produzem fortes evidências que os culpados são os agrotóxicos neonicotinóides. A França, Itália, Eslovênia, e até a Alemanha, sede do maior produtor do agrotóxico, a Bayer, baniram alguns destes produtos que matam abelhas. Porém, enquanto isto, a Bayer continua a exportar o seu veneno para o mundo inteiro.

Este debate está esquentando a medida que novos estudos confirmam a dimensão do problema. Se conseguirmos que os governantes europeus e dos EUA assumam medidas, outros países seguirão o exemplo. Não vai ser fácil. Um documento vazado mostra que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA já sabia sobre os perigos do agrotóxico, mas os ignorou. O documento diz que o produto da Bayer é "altamente tóxico" e representa um "grande risco para os insetos não-alvo (abelhas)".

Temos de fazer ouvir as nossas vozes para combater a influência da Bayer sobre governantes e cientistas, tanto nos EUA quanto na UE, onde eles financiam pesquisas e participam de conselhos de políticas agrícolas. Os reais peritos - apicultores e agricultores - querem que estes agrotóxicos letais sejam proibidos, a não ser que hajam evidências sólidas comprovando que eles são seguros. Vamos apoiá-los agora. Assine a petição abaixo e, em seguida, encaminhe este alerta:

https://secure.avaaz.org/po/save_the_bees/?cl=905473158&v=8149

Não podemos mais deixar a nossa cadeia alimentar delicada nas mãos de pesquisas patrocinadas por empresas químicas e os legisladores que eles pagam. Proibir este agrotóxico é um caminho necessário para um mundo mais seguro tanto para nós quanto para as outras espécies com as quais nos preocupamos e que dependem de nós.

Com esperança,

Alex, Alice, Iain, David e todos da Avaaz

Leia mais:

Itália proibe agrotóxicos neonicotinóides associados à morte de abelhas:
http://www.ecodebate.com.br/2008/09/22/italia-proibe-agrotoxicos-neonicotinoides-associados-a-morte-de-abelhas/

O desaparecimento das abelhas melíferas:
http://www.naturoverda.com.br/site/?p=180

Alemanha proíbe oito pesticidas neonicotinóides em razão da morte maciça de abelhas:
http://www.ecodebate.com.br/2008/08/30/alemanha-proibe-oito-pesticidas-neonicotinoides-em-razao-da-morte-macica-de-abelhas/

Campos silenciosos:
http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/campos_silenciosos_imprimir.html

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

POR UM PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL

Absolutamente necessária a guinada anunciada pelo novo governo federal: a de investir em portas de saída às sistuações de extrema miséria em que se encontram muitos brasileiros e brasileiras. Desde o início do Fome Zero, movimentos e pastorais sociais insistiram nesta perspectiva. Dentro do próprio espaço do primeiro mandato do governo Lula, a equipe formada pelo assessor especial Frei Betto lutou para que o Programa tomasse esta direção, e não a que foi assumida, o Bolsa Família, tendencialmente assistencialista.

Desejando que o programa anunciado seja efetivado com sucesso, seguem algumas sugestões de quem está comprometido com esta perspectiva de justiça social há muitas décadas.

Não parece adequado denominá-lo PAC, mesmo se sua implementação significará crescimento econômico. Por que não denominá-lo Programa de Aceleração do Desenvolvimento Social? Afinal, a implementação correta e com caráter universal deste Programa implica necessariamente dar prioridade ao social em relação ao econômico, de modo especial ao brasileiro, sempre focado no crescimento de uma economia altamente concentrada em poucas e cada vez mais poderosas empresas. Se a presidente Dilma deseja que uma das marcas de seu governo seja a superação real da miséria, deverá olhar com carinho para as políticas que têm a ver com a distribuição ou concentração da riqueza e da renda nacional. Mesmo num país privilegiado como o nosso, não há natureza que aguente políticas de justiça e desenvolvimento social em favor de todas as pessoas, a começar das mais empobrecidas e, ao mesmo tempo, políticas que favorecem a concentração econômica na velocidade e proporção em que se dá no Brasil.

Por isso, uma medida necessária será a implementação de uma Política Tributária baseada na justiça, que tenha caráter contributivo progressivo: quem ganha muito e possui muita riqueza, contribui com taxas mais altas, quem ganha razoavelmente, contribui com um pouco mais, e quem ganha pouco, usa os recursos para suas necessidades. Não é difícil perceber que se trata de uma política contrária à praticada atualmente, pois ela cobra mais de quem ganha e possui pouco, e favorece os mais ricos. Não se trata de algo definido como socialismo, como costumam logo acusar os privilegiados; trata-se de seguir pelo menos o exemplo dos países capitalistas que conseguiram organizar sociedades mais justas e com ambiente social mais pacífico.

Mas isso não será suficiente. Será necessário avançar no reconhecimento da Economia Solidária, destinando a ela mais recursos, já que ela é uma das principais fontes de geração de oportunidade de trabalho e geração de renda, e com a vantagem de que faz isso na perspectiva de uma economia que busca avanços na convivência entre as pessoas e comunidades e na harmonia com a Mãe Terra. Ela já conta com uma Secretaria, até hoje no Ministério do Trabalho, mas deverá ter outro status e uma dotação orçamentária condizente com sua potencialidade.

Será preciso também avançar na democratização da terra agricultável. Todos os estudos sérios dessa questão política indicam que a estrutura da propridade da terra, e a lei que a justifica, são travas ao desenvolvimento social e são fonte de manutenção do caráter oligárquico do Estado brasileiro. Para avançar na direção de um real desenvolvimento social, e que seja ambientalmente equilibrado, é necessário definir o tamanho máximo de propriedade, recolhendo o que o ultrapassa para ser campo de oportunidade de trabalho agrícola que produz alimento de boa qualidade para toda a sociedade. Esta é, em nosso país, uma das portas de saída para as pessoas que foram jogadas e mantidas na miséria.

Este Programa não avançará se estiver assentado na falsa idéia de que o crescimento econômico realizado por grandes empresas ampliará oportunidades de emprego e distribuirá a renda e a riqueza. Uma vez mais, os estudiosos sérios dessa questão insistem: o mercado capitalista não tem compromisso e não gera superação da miséria; pelo contrário, continuará buscando oportunidades para aumentar sua fatia de lucro, seja substituindo trabalho humano por máquinas, robôs e tecnologias sofisticadas, seja reduzindo salários, seja aprofundando a instabilidade dos empregos; se houver descuido da sociedade, não terá nehum escrúpulo de recriar formas de trabalho escravo e de esgotar definitivamente a capacidade da Terra de manter um ambiente favorável à vida. Na verdade, têm razão os dirigentes da ONU quando afirmam que a miséria não é algo natural; ela é, na verdade, um processo gerado por um determinado tipo de sociedade, assentada sobre determinada economia, que cria, mantém e agrava a miséria; por isso, será preciso definir a miséria como um crime contra a humanidade, da mesma forma que se fez com a escravidão, para que, a partir daí, se possa identificar, processar e condenar os que o praticam.

Para que este Programa avance e produza os frutos desejados deverá assentar-se num amplo e profundo processo de educação popular. Mais uma vez o Brasil é um país privilegiado: já conta com a rica e comprovada eficácia do Método Paulo Freire de educação popular, que visa o resgate e promoção das pessoas e comunidades mantidas na meséria em todas as dimensões da sua vida: na valorização e crescimento da sua cultura, na prática livre e consciente da cidadania, na geração de trabalho que valorize sua capacidade criadora de bens, serviços e artes que geram vida e renda.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

MOVIMENTOS SOCIAIS EM CANCUN 02

De volta de alguns dias de recuperação de forças, estou disponibilizando os dois documentos publicados pelos movimentos sociais e entidades da sociedade civil que estiveram em Cancun, lutando em favor da vida no planeta Terra. Além de traduzir um deles, elaborei um rápida introdução, motivando uma leitura crítica. Espero estar contribuindo para que avance a unidade entre as forças que lutam por mudanças profundas, absolutamente necessárias e urgentes.

Por causa do tamanho dos documentos, seguem em duas postagens. Boa leitura!

Declarações de Cancun
Como já foi tornado público, houve dois espaços de atividades paralelas e duas manifestações públicas das forças alternativas em Cancun: uma denominada Fórum Internacional de Justiça Climática, articulada pelo Diálogo Climático - Espaço Mexicano, e outra denominada Fórum Alternativo Global pela Vida, Justiça Social Social e Ambiental, este articulado pela Via Campesina.
Estamos disponibilizando as duas Declarações, que expressam a reflexão, o posicinamento, os compromissos. É interessante observar se há e quais são as difrenças, examinando se são essenciais ou não. Afinal, é urgente perguntar-nos se não estamos caindo na velha prática das esquerdas de decidir caminhar separados porque se deseja garantir a justeza das próprias posições, revelando as inconsistências ou contradições das outras organizações. Até onde pode levar-nos esse tipo de prática?
O fato é que muitas pessoas do povo, participantes de movimentos populares, se perguntavam, tristes, nas ruas de Cancun: por que não estamos todos juntos na manifestação pública?
Quais os motivos para estarmos com duas, no mesmo dia e horário, em lugares diferentes? Não seríamos mais fortes se caminhássemos juntos?
Sempre gostei de não ser ingênuo, mas gostei mais ainda de buscar todas as formas possíveis de unir forças para enfrentar os poucos mas poderosos que exploram e agridem os direitos dos povos, das pessoas e da Terra.
Por isso, está feito o convite: leiam as duas Declarações e, a partir delas, provoquem diálogos nos movimentos e entidades para verificar se estamos unindo nossas forças ou se estamos facilitando o trabalho de quem deseja tudo para si, mesmo a vida da Terra.
Abraços.
Ivo Poletto
 
 
Declaração de Cancún: ‘Governos continuam indiferentes ao aquecimento do planeta’

Vía Campesina *

Via Campesina - Declaração de Cancún
Fórum Global pela Vida, Justiça Social e Ambiental
4 a 10 de dezembro de 2010
Os membros da Via Campesina de mais de 30 países de todo o mundo juntamos milhares de lutas em Cancún para exigir da Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP 16) justiça ambiental e respeito à Mãe Terra, para denunciar as ambiciosas intenções dos governos, principalmente do Norte, de comercializar todos os elementos essenciais da vida em benefício das corporações transnacionais e para apresentar as milhares de soluções para esfriar o planeta e para frear a devastação ambiental que hoje ameaça muito seriamente a humanidade.
No Fórum Alternativo Global pela Vida, Justiça Social Social e Ambiental, o principal espaço de mobilização, celebramos oficinas, assembléias e reuniões com nossos aliados e uma ação global, chamamos os milhares de Cancún e tivemos repercussão em todo o planeta e até nas salas do Palácio da Lua da COP 16.
A ação do dia 7 de dezembro teve como expressão da nossa luta uma marcha de milhares de membros da Via Campesina, acompanhados por indígenas maias da península mexicana e milhares de aliados de organizações nacionais e internacionais.
A mobilização para Cancún começou desde o dia 28 de novembro, com três caravanas que saíram de São Luis Potosí, Guadalajara e Acapulco, que percorreram os territórios mais simbólicos da devastação ambiental, mas também de resistências e lutas das comunidades.
O esforço das caravanas foi um trabalho conjunto com a Assembléia Nacional de Afetados Ambientais, o Movimento de Libertação Nacional, o Sindicato Mexicano de Eletricistas e centenas de povos e pessoas que nos abriram as portas de sua generosidade e solidariedade. No dia 30 de novembro chegamos com nossas caravanas na Cidade do México, celebramos um Fórum Internacional e uma marcha, acompanhados de milhares de pessoas e centenas de organizações que também lutam pela justiça social e ambiental.
Na nossa jornada para Cancún, outras caravanas, uma de Chiapas, outra de Oaxaca e uma de Guatemala, depois de muitíssimas horas de viagem, se uniram em Mérida para celebrar uma cerimônia em Chichen Itza e finalmente chegar a Cancún no dia 3 de dezembro para instalar nosso acampamento para a Vida e a Justiça Social e Ambiental. No dia seguinte, 4 de dezembro, abrimos nosso fórum para assim darmos início a nossa luta em Cancún.
Por que chegamos a Cancún?
Os atuais modelos de consumo, produção e comércio têm causado uma destruição do meio ambiente, da qual os povos indígenas, camponeses e camponesas somos as principais vítimas. Assim nossa mobilização para Cancún e em Cancún é para dizer para dizer aos povos do mundo que necessitamos de uma mudança de paradigma de desenvolvimento e economia.
É necessário transcender o pensamento antropocêntrico. É necessário reconstituir a cosmovisão de nossos povos, que se baseia no pensamento holístico da relação com o cosmos, a mãe terra, o ar, a água e todos os seres viventes. O ser humano não é dono da natureza, mas faz parte do todo que tem vida.
Frente a essa necessidade de reconstituir o sistema, o clima, a Mãe Terra, denunciamos:
1. Os governos continuam indiferentes frente ao aquecimento do planeta e em vez de debater sobre as mudanças de políticas necessárias para o resfriamento, debatem sobre o negócio financeiro especulativo, a nova nova economia verde e a privatização dos bens comuns.
2. As falsas e perigosas soluções que o sistema capitalista neoliberal implementa, como a a iniciativa REDD+ (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação), o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Livre), a geoengenharia representam comercialização dos bens naturais, compra de permissões para contaminar com créditos de carbono, com a promessa de não cortar bosques e plantações no Sul.
3. A imposição da agricultura industrial através da implementação de produtos transgênicos e acumulação de terras que atentam contra a Soberania Alimentar
4. A energia nuclear, que é muito perigosa e que de nenhuma maneira é uma verdadeira solução.
5. O Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a Organização Mundial do Comércio por facilitar a intervenção de grandes transnacionais em nossos países.
6. Os impactos que ocasionam os tratados de livre comércio com países do Norte e da União Européia, que não são mais que acordos comerciais que abrem mais as portas de nossos países a empresas transnacionais para que se apossem de nossos bens naturais.
7. A exclusão dos camponeses e povos indígenas das discussões dos temas transcendentais da vida da humanidade e da Mãe Terra.
8. A expulsão dos companheiros e companheiras do espaço oficial da COP 16 por sua oposição aos planejamentos dos governos que apelam por um sistema depredador, que apostam por exterminar a Mãe Terra e a humanidade.
Não estamos de acordo com a simples idéia de "mitigar" ou "adaptar" à mudança climática.
Precisamos de justiça social, ecológica e climática, por isso exigimos:
1. Retomar os princípios dos acordos de Cochabamba de 22 de abril de 2010 com um processo que realmente nos leve à redução real da emissão de gases de carbono com efeitos estufa e para atingir a justiça social e ambiental.
2. A Soberania Alimentar com base na agricultura camponesa sustentável e agroecológica, dado que a crise alimentar e a crise climática são a mesma coisa, as duas são conseqüência do sistema capitalista.
3. É necessário mudar os estilos de vida e as relações destrutivas do meio ambiente. É necessário reconstituir a cosmovisão de nossos povos originários, que se baseia no pensamento holístico da relação com o cosmos, a Mãe Terra, o ar, a água e todos os seres viventes.
A Via Campesina, como articulação que representa milhares e milhares de famílias camponesas no mundo, e preocupada com a recuperação do equilíbrio climático, chama a:
1. Assumir a responsabilidade coletiva com a Mãe Terra, mudando os padrões de desenvolvimento das estruturas econômicas e acabando com as empresas transnacionais.
2. Reconhecemos governos como o da Bolívia, Tuvalu e alguns mais, que têm tido a valentia de resistir contra a imposição dos governos do Norte e corporações transnacionais e fazemos um chamado para que outros governos se somem à resistência dos povos frente a crise climática.
3. Fazer acordos obrigatórios de que todos os que contaminem o ambiente devem prestar contas pelos desastres e delitos cometidos contra a Mãe Natureza. Da mesma forma, obrigar a reduzir a emissão de gases de carbono onde elas são geradas. Aquele que contamina deve deixar de contaminar.
4. Alertamos aos movimentos sociais do mundo sobre o que acontece no planeta para defender a vida da Mãe Terra porque estamos defendendo o que será o modelo das futuras gerações.
5. Chamamos para ação e mobilização social as organizações urbanas e camponesas, para a inovação, para a recuperação das formais ancestrais de vida, a nos unirmos em uma grande luta para salvar a Mãe Terra, que é a casa todos e todas, contra o grande capital e os maus governantes. Isso é nossa responsabilidade histórica.
6. A que as políticas de proteção da biodiversidade, soberania alimentar, manejo e administração da água, que se baseiem nas experiências de participação plena das próprias comunidades.
7. A uma consulta mundial junto aos povos, para decidir as políticas e ações globais para parar a crise climática.
Hoje!, agora mesmo, chamamos a humanidade para atuar imediatamente para a reconstituição da vida de toda a Mãe Natureza, recorrendo à aplicação do "cosmoviver".
Por isso, desde as quatro esquinas do planeta, nos levantamos para dizer: Não mais dano a nossa Mãe Terra!, Não mais destruição do planeta!, Não mais despejo de nossos territórios!,Não mais morte dos filhos e filhas da Mãe Terra!, Não mais criminalização das nossas lutas!
Não ao entendimento de Copenhague.
Sim aos princípios de Cochabamba.
Redd não! Cochabamba sim!
A terra não se vende, se recupera e se defende!
Globalizemos a luta, globalizemos a esperança

* Movimento internacional de camponeses e camponesas, pequenos e médios produtores, mulheres rurais, indígenas, gente sem terra, jovens rurais e trabalhadores agrícolas

MOVIMENTOS SOCIAIS EM CANCUN

De volta de alguns dias de recuperação de forças, estou disponibilizando os dois documentos publicados pelos movimentos sociais e entidades da sociedade civil que estiveram em Cancun, lutando em favor da vida no planeta Terra. Além de traduzir um deles, elaborei um rápida introdução, motivando uma leitura crítica. Espero estar contribuindo para que avance a unidade entre as forças que lutam por mudanças profundas, absolutamente necessárias e urgentes.

Por causa do tamanho dos documentos, seguem em duas postagens. Boa leitura!

Declarações de Cancun
Como já foi tornado público, houve dois espaços de atividades paralelas e duas manifestações públicas das forças alternativas em Cancun: uma denominada Fórum Internacional de Justiça Climática, articulada pelo Diálogo Climático - Espaço Mexicano, e outra denominada Fórum Alternativo Global pela Vida, Justiça Social Social e Ambiental, este articulado pela Via Campesina.
Estamos disponibilizando as duas Declarações, que expressam a reflexão, o posicinamento, os compromissos. É interessante observar se há e quais são as difrenças, examinando se são essenciais ou não. Afinal, é urgente perguntar-nos se não estamos caindo na velha prática das esquerdas de decidir caminhar separados porque se deseja garantir a justeza das próprias posições, revelando as inconsistências ou contradições das outras organizações. Até onde pode levar-nos esse tipo de prática?
O fato é que muitas pessoas do povo, participantes de movimentos populares, se perguntavam, tristes, nas ruas de Cancun: por que não estamos todos juntos na manifestação pública?
Quais os motivos para estarmos com duas, no mesmo dia e horário, em lugares diferentes? Não seríamos mais fortes se caminhássemos juntos?
Sempre gostei de não ser ingênuo, mas gostei mais ainda de buscar todas as formas possíveis de unir forças para enfrentar os poucos mas poderosos que exploram e agridem os direitos dos povos, das pessoas e da Terra.
Por isso, está feito o convite: leiam as duas Declarações e, a partir delas, provoquem diálogos nos movimentos e entidades para verificar se estamos unindo nossas forças ou se estamos facilitando o trabalho de quem deseja tudo para si, mesmo a vida da Terra.
Abraços.
Ivo Poletto
Declaração de Cancun
Fórum Internacional de Justiça Climática

1. Convocada por centenas de organizações mexicanas e internacionais de todos os continentes, trabalhadores, camponeses, povos indígenas, organizações de mulheres, do movimento popular urbano, ambientalistas, ONGs, ativistas, intelectuais, nos reunimos em Cancun de 05-10 dezembro ao mesmo tempo em que se realizaram as negociações na COP 16. Chegamos em Cancun, como parte de um processo longo e intenso de educação popular, oficinas e debates, no México e com os nossos parceiros internacionais, para avançar na construção de um entendimento comum, consensos e propostas unitárias para ir conformando um grande sujeito nacional e internacional plurissetorial e unitário, capaz de exigir que os governos mundiais cheguem a acordos vinculativos, verificáveis, justos e com sanções para os não os cumpram; acordos que enfrentem as causas profundas e estruturais da crise climática, provocadas pelo modelo de produção consumo que concebe a naturezacomo fonte de recursos e lucros e não como a Pacha Mama, em que é necessário viver em harmonia, equilíbrio e justiça. A urgência de soluções frente à realidade e aos efeitos sociais e ambientais do aquecimento global não pode esperar o realismo político e o conformismo dos poderosos que colocaram em risco a sobrevivência do planeta.

Neste processo, organizamos o Diálogo Climático – Espaço Mexicano e um amplo comitê internacional que busca a unidade com aqueles que lutam para salvar este planeta, e nós acreditamos que é prioritário e necessário promover transformações sistêmicas.
2. Diante de um modelo de civilização capitalista e patriarcal, que coloca no centro do lucro privado acima de qualquer coisa, nós promovemos uma nova civilização em que o centro seja a vida em todas as suas formas. A crise climática é o fruto da civilização do lucro e do esgotamento dos recursos naturais. Suas verdadeiras e profundas soluções estão na promoção da civilização da vida e não no mercado. Muitos governos ainda acham que só se pode parar a crise climática se houver lucros, e promovem, por isso, "soluções de mercado", que são apenas negócios para tentar resolver o que provocaram com seus próprios negócios predadores. Nós, como parte do povo que desejamos mobilizar, não temos negócios a faze com o clima; queremos mudar o sistema como única forma de superar a crise climática e continuar vivendo sob o abrigo da nossa Pacha Mama, para as gerações vindouras
3. Exigimos dos governos para parem de ficar dando voltas e cheguem a compromissos vinculativos de redução das emissões de gases de efeito estufa nas quantidades necessárias (50%), para estabilizar o aumento da temperatura global em um máximo de 1,5 ° C. Isto exige a adoção de um 2 º período de compromissos do Protocolo de Quioto. O volume de redução de emissões deve ser definido pela ciência, tendo como critério a salvação do planeta, e não o que cada país esteja disposto a oferecer. Este volume necessário deve ser assumido pelos que mais emitiram, como estabelece o Acordo-Quadro entre as partes e o operacionaliza o protocolo de Quioto. As responsabilidades e os compromissos devem ser proporcionais às emissões acumuladas.

4. O nível necessário de reduções de emissões não pode ser colocado em prática sem uma transição justa para uma profunda mudança no padrão de produção e consumo, que inclui uma mudança na matriz energética rumo às energias limpas, mas sem ocupação de territórios indígenas ou os essenciais para a agricultura , a segurança e a soberania alimentar. A transição também deve ser justa para os trabalhadores e não destruir empregos sem a criação de mais postos de trabalho decente e políticas públicas para inserir novamente antigos trabalhadores no novo tipo de trabalho decente hoje necessário.

5. Exigimos justiça climática. O que mais agrediu a Mãe Terra tem obrigação de reduzir mais suas emissões, reparar os danos e transferir apoios financeiros e tecnológicos aos países do Sul, para enfrentar o problema. Os apoios financeiros e tecnológicos não devem ser empréstimos, e sim reparações e reconhecimento da dívida ambiental. Nem devem ter outra condicionalidade além do uso para mitigar a mudança do clima, para adaptar-se e enfrentar os problemas sociais, econômicos e ambientais causados por este. Estes recursos não devem ser administrados pelo Banco Mundial nem por quaisquer instituições financeiras internacionais e bancos privados, que promoveram o modelo neoliberal e predador.

6. A crise climática não só tem causas claras; ela tem responsáveis evidentes: os países altamente industrializados e suas corporações transnacionais. Ninguém deve fugir à sua responsabilidade, mas deve ser ratificado o princípio da Convenção: "todos somos responsáveis, mas essas responsabilidades são diferentes."

7. Opomo-nos às falsas soluções: mercados de carbono e da biodiversidade, biocombustíveis, represas, captação e armazenamento de carbono e biochar. Somos contra a mercantilização da vida. A solução está no enfrentamento das causas sistêmicas na forma de produzir e consumir.

É preciso
reflorestar com plantas nativas, utilizando práticas tradicionais das comunidades indígenas, camponesas e das mulheres, evitar o desmatamento e a degradação do solo, gerada pela mesma exploração das florestas e pela extração de seus recursos naturais; é ncessário o pleno respeito aos direitos das comunidades que as habitam, respeitando a Convenção das Nações Unidas para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW) e a Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas (UNDRIPs); especialmente em relação aos povos indígenas e populações tradicionais, que nos dão um exemplo de gestão sustentável das suas florestas, deve-se respeitar a consulta livre, prévia e informada para qualquer ação em seus territórios.

a) O programa REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) não garante estes requisitos, mesmo se lhe forem acrescentadas versões que o dissimulam. Seu objetivo é garantir os direitos dos "investidores", por cima dos direitos dos povos que moram e vivem nesses territórios. Enquanto os direitos do detentor dos bonos são decididos em tribunais criminais ou de negócios que têm reais e efetivos mecanismos para exigir que sejam cumpridos, não acontece a mesma coisa com os direitos humanos.

b) O REED visa incorporar ao mercado terras férteis, ricas em água e recursos naturais, e para isso elaboram acordos comerciais destinados a buscar o controle do território por parte daqueles que fornecem fundos, violando a soberania territorial e impedino que as comunidades que os habitam os usem para sua vidas cotidiana, apesar de todos sabem que os que os desflorestam e degradam não são as comunidades o povos indígenas, mas as empresas mineradoras, madeireiras, agroindustriais e petroleiras. Em suma, é uma anti-reforma agrária em escala global. Por todas estas razões, consideramos o REDD como mais uma das falsas soluções e rechaçamos sua implementação.

c) Os Bonos de Carbono não reduzem as emissões, têm sido um mecanismo para compensar a não-cumprimento dos compromissos de redução de emissões pelos países do Norte com a compra de direitos de emissões de outros países.

8. Vemos com profunda indignação as tácticas dos países industrializados que pretendem acabar com o Protocolo de Quioto e da Convenção e que utilizam as promessas de financiamento para quebrar vontades, dividir grupos como o G 77 + China, isolar a Bolívia e os países da ALBA, culpando-os pelo fracasso da COP16. Os verdadeiros culpados por este fracasso são os países que continuam promovendo falsas soluções.

A única coisa que interessa do Protocolo de Quito para alguns países do Norte é a base jurídica dos mercados de carbono. Por isso, eles querem passar essa base ao texto de negociação do grupo de Ação Cooperativa de Longo Prazo (AWG-LCA). Esta é mais uma prova da tentativa de alguns países de fugir dos compromissos de redução das emissões, garantindo simultaneamente a continuidade e a expansão dos mecanismos de mercado, mesmo depois de acabarem com o Protocolo de Quioto.

Nós nos opomos às tentativas de não implementar o segundo período de compromissos do Protocolo de Quioto. Corremos o risco de uma reversão do que foi alcançado em 18 anos de negociações, em particular a perda de princípios de justiça que havia sido ganha na Convenção. Mais ainda, de que se destrua o marco de negociações multilaterais sobre a mudança climática na ONU e fiquemos à mercê das grandes corporações e seus governos. Com a aprovação do acordo de Copenhaguen se aceitam os mecanismos excludentes de negociação. O processo de Cancún tem sido antidemocrático, excludente e pouco transparente, tanto com os governos como com os povos; exemplo disso foi a expulsão de observadores e observadores da sociedade civil das negociações por expressarem sua rejeição às falsas soluções.
9. Temos propostas de fundo e viáveis, presentes no Acordo dos Povos. Nós as apresentamos à opinião pública e aos governos, mas muitos governos estão presos no discurso de compromissos viáveis, isto é, que sejam aceitáveis para aqueles que pensam em seus negócios, ou mais ainda, em fazer novos negócios. O enfoque dos movimentos sociais é outro: é a evidência do drama que já se vive em alguns lugares pela crise climática, que tende a aprofundar-se rapidamente e a se espalhar. Exigimos soluções reais, que não podem ser deixadas nas mãos do mercado, mas que, pelo contrário, são da responsabilidade dos governos.
 10. Conseguir a sobrevivência de nossa Mãe Terra e a vida nela implica reduzir drasticamente as emissões adotando compromissos vinculantes e criando um tribunal para puna fortemente os que não os cumprirem. Isso, a partir da perspectiva de Justiça Climática, implica responsabilidades diferenciadas, fundos de apoio público nacionais e estrangeiros (não crédito) como pagamento dos  danos causados e não geridos pelo Banco Mundial.

 * Transitar com a justiça para um novo modelo de produção e consumo não desenvolvimentista;

* Com limites crescentes a todas as formas de depredação da natureza;

* Transição para uma nova matriz energética;

* Privilegiar os mercados locais, que evitam uma grande liberação de gases de efeito estufa associados à importação e exportação. O livre mercado global diz que torna os produtos de consumo mais baratos, mas se forem  internalizados os custos ambientais, ver-se-ia que o barato sai caro.

* Um novo, ou melhor, um ancestral modelo de produção agrícola, silvícula e de pecuária baseado na produção ecológica e orgânica familiar para mercados locais e que busque a segurança e soberania alimentar, com sementes crioulas. Com políticas e apoios adequados, os camponeses não só pode alimentar a huamnidade, mas também ajudar a diminuir as emissões significativamente.

* Todas as verdadeiras soluções incluem o respeito integral a todos os direitos civis, políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais, dos povos indígenas e de gênero.

Nossas demandas são parte da torrente de lutas contra o livre comércio e o modelo neoliberal realizadas em escala mundial através de mobilizações paralelas às reuniões do G-20, da OMC e das negociações de Tratados de Livre Comércio.

Nós nos comprometemos a:
- Continuar avançando na construção de um forte movimento multissetorial e unificado em defesa da natureza através da conscientização, da educação e da organização a partir da base.
- Aprofundar-nos em nossas propostas, refletidas no Acordo de Cochabamba.
- Avaliar as possibilidades e as modalidades de uma consulta popualr referendo, a conveniência de uma nova Cúpula dos Povos, bem como de outras formas de envolvimento de outros setores populares.
- Aumentar a organização e capacidade de pressão sobre os governos nacionais e em âmbito mundial
Mudemos o Sistema, não o Clima!
 Fora o Banco Mundial do Clima!
Cancun, 10 de dezembro de 2010.