terça-feira, 5 de abril de 2016

FRANÇA: DEPOIS DA GREVE GERAL, AS OCUPAÇÕES

SERÁ ESTE O ÚNICO CAMINHO EFETIVO PARA ENFRENTAR AS REFORMAS ULTRA LIBERAIS CONTRA OS DIREITOS DOS TRABALHADORES? 

VELE A PENA PENSAR COM SERIEDADE SOBRE ISSO. E PREPARAR-SE.

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“Ouça a cólera do povo”
Em guinada surpreendente, sindicatos articulam-se à juventude e feministas, cruzam os braços, tomam praças de dezenas de cidades e ensaiam alternativa ao governo e à extrema-direita
Poucas pessoas esperavam, mas parece que a França é o país/palco da vez em 2016 para grandes manifestações e mobilizações populares.
Diversas centrais sindicais — como a CGT, Força Operária e Solidários) — decretaram greve geral no dia 31 de março, continuando uma mobilização que teve início semanas atrás, alcançando seu ápice nos dias de hoje. Só no dia 31, mais de 250 cidades contaram com manifestações de rua contra a nova lei trabalhista proposta pela ministra do Trabalho, El Khomri.
Essa lei incluía medidas como o recurso facilitado ao trabalho a tempo parcial, o aumento do número de semanas consecutivas nas quais os trabalhadores podem trabalhar por 44 ou 46 horas, o aumento da duração máxima do trabalho noturno, a duração da licença por falecimento de um parente próximo deixar de estar garantida por lei, entre outros aspectos polêmicos. Porém, por conta da mobilização ocorrida anteriormente, todas as características da lei citada acima foram retiradas.
Mas isso não significa que o governo francês recuou. A nova lei trabalhista ainda conta com polêmicas como: deixar de haver um valor mínimo de indenização em caso de demissão sem justa causa; por acordo, os trabalhadores poderem passar a trabalhar o máximo de 44 a 46 horas por semana e de 10 a 12 horas por dia; os acordos coletivos de trabalho com negociação anual passam a ser negociados a cada três anos, a duração máxima de acordos coletivos será de 5 anos, sem garantia de retenção dos direitos adquiridos, entre outros.
Além dos movimentos sindicais, a lei trabalhista do governo francês tem mobilizado um novo protagonismo: as feministas. A militante Caroline De Haas lançou uma petição que em poucos dias reuniu centenas de milhares de assinaturas. Ela faz parte de uma organização encabeçada por mulheres trabalhadoras na França.
 
Além da greve geral e da mobilização online, manifestações ocorreram no dia 31 e continuam a ganhar força.
Inspirados pelo movimento dos “Indignados” na Espanha, onde centenas de milhares de pessoas ocuparam a Plaza Del Sol em 2011, os franceses organizam uma ocupação permanente na Praça da República, em Paris, desde o dia 31 do mês passado. Com a hashtag #NuitDebout (nome dado ao movimento), franceses têm ocupado não apenas Paris como também outras cidades contra a nova lei trabalhista.

A pressão contra o governo do social-democrata moderado François Hollande não é um assunto novo.
O primeiro-ministro francês tem aplicado de forma moderada políticas de austeridade contra a população de seu país desde que assumiu seu mandato. Parte do fortalecimento da extrema-direita nas urnas teve como culpa a política econômica do “socialista” Hollande, que tem seguido o programa da União Européia e do FMI com corte de gastos, colocando em risco benefícios sociais e os direitos trabalhistas, que são um verdadeiro “tesouro” da democracia francesa.
Mas o que podemos esperar da primavera francesa?
O favoritismo da Frente Nacional, da ultra-direitista Le Pen, é um reflexo da política de austeridade e seus efeitos na classe trabalhadora. Seu discurso nacionalista e protecionista tem como objetivo garantir muitos direitos trabalhistas que estão em risco na França.
Porém, seu favoritismo na classe média se deve ao fato de suas políticas em relação aos imigrantes no país. Considerada uma “cartada do medo”, a Frente Nacional defende que a França feche sua fronteira para a entrada de imigrantes ilegais, que geralmente saem de países como Síria e Iraque. Os ataques terroristas no país ocorridos no ano passado fortaleceram seu posicionamento. Outro fator que relaciona os imigrantes com o país é o desemprego. A classe média francesa, em partes, coloca a culpa do desemprego no colo dos imigrantes, que viriam ao país “roubar trabalho” dos franceses medianos, por salários muito mais baixos.
A mobilização nesta primavera francesa deve servir para a esquerda se posicionar de forma agressiva diante do cenário político do país. Marcar território e resgatar o protagonismo dos indignados com a política de austeridade e o desamparo social.
Assim como ocorre hoje na Espanha, se a mobilização vencer a nova lei trabalhista de Hollande, a esquerda tem em suas mãos a possibilidade de se institucionalizar politicamente, com uma plataforma anti-austeridade e transformadora nas próximas eleições.
http://outras-palavras.net/outrasmidias/?p=292383 

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