A cada novo noticiário dos meios de
comunicação, mudam os nomes e aumenta o número dos prováveis. Nos últimos dias, por exemplo, teria aumentado o
cacife de dois brasileiros, o cardeal de São Paulo, dom Odilo Sherer, e o
ex-arcebispo de Brasília, Dom João Braz de Aviz. Continuam ao lado de outros
candidatos, é claro, sendo um deles do Canadá...
Diante de tanto interesse da grande
mídia mundial e nacional, é justo levantar algumas perguntas e tecer alguns
comentários.
Quais seriam as fontes de informação
da mídia? Seriam fontes oficiais ou oficiosas do Vaticano? Ou seriam notícias
divulgadas e, talvez, patrocinadas por fontes ligadas a movimentos católicos
que cercam e promovem cardeais que os apóiam ou são membros deles?
É importante lembrar que nem sempre
as fontes são confiáveis. Os tais “especialistas” citados podem ser como os “economistas”
que, na véspera da explosão da crise do capital financeiro de 2008 nos Estados
Unidos, geravam notícias, citavam dados e pesquisas para garantir que os bancos
e financeiras estavam saudáveis e mereciam total confiança.
É preciso, então, verificar
criticamente a fonte das notícias. Sabe-se que os dois cardeais brasileiros
citados estão ligados e são promovidos por dois diferentes movimentos conservadores,
sendo que um deles, sediado em São Paulo, revela até em suas vestes, botas e
símbolos, que defende um catolicismo beligerante e inspirado e modelos vigentes
na Idade Média.
Por outro lado, qual seria o motivo
que leva a mídia a noticiar crescimento de papáveis de perfil claramente
conservador? É possível ou provável que não interessa ao capital que a financia
falar de cardeais que são críticos do neoliberalismo e que poderiam implementar
mudanças estruturais na gestão da igreja católica, já que isso reforçaria a
indignação das vítimas desse tipo de progresso econômico.
Na verdade, o debate provocado pela
renúncia, mais do que legítima, de Bento VI, está sendo muito mais profundo do
que o show dos noticiários fantásticos. Há muitos que se perguntam se o papa
será eleito ou nomeado? Afinal, quem são os eleitores
senão cardeais nomeados pelo papa?
Não há sequer consulta aos bispos nessas nomeações. Quando se têm presente as
últimas eleições da presidência da CNBB, por exemplo, a maioria dos bispos não
elegeu nenhum dos dois cardeais que a mídia anuncia estarem com chances de
serem nomeados papa.
Isso e muito mais leva à pergunta
mais desafiadora: afinal, o papa seria eleito
pelo Espírito Santo? Se esta questão for levantada por algum dos participantes
das reuniões prévias e do consistório, certamente a Igreja Católica terá que
esperar mais tempo para que Bento VI seja substituído por um novo papa. Afinal,
até que ponto o Espírito Santo estará de acordo que a eleição seja limitada a nomeados
segundo a preferência pessoal do papa em exercício – visto que renúncia demonstrou
que se trata de missão dada a uma pessoa humana, e que ela pode, legitimamente,
afirmar que não quer ou não tem mais condições de exercê-la? Não poderia
acontecer que o Espírito Santo, se ouvido, preferisse o caminho da
colegialidade episcopal aberto pelo Concílio Vaticano II, que, se levada a
sério, abriria para uma generalizada participação responsável dos católicos de
todo o mundo na definição do modo de promover e garantir a unidade e, por isso,
no modo de escolha das pessoas de fé que devem estar a serviço dela?
Como os católicos não são
consultados em nada que se refere à hierarquia clerical, resta-nos trabalhar
com seriedade no aprofundamento de uma opinião pública em relação à melhor
forma de a Igreja Católica ser e organizar-se para estar a serviço do Reino de
Deus; isto é, para atuar em favor de tudo que Deus deseja para toda a humanidade
a partir e com os que sofrem por causa da injustiça, da opressão e da
exploração praticadas pelos poderosos. Essa é, certamente, uma forma ativa de
orar para que o Espírito Santo fure os bloqueios e jogos de poder que
aprisionam a Igreja a formas de organização que atrapalham e até impedem seu
testemunho de fidelidade a Jesus de Nazaré.
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