O pior, segundo a análise do Juca Kfuri que segue abaixo, é que quase a totalidade deles são recursos públicos. Por isso, a pergunta: por que faltam recursos para a qualidade de vida? A prática está gritando que para as empresas construtoras a torneira está sempre jorrando e de maneira muito generosa. Fica a pergunta no ar: as famílias que estão sendo removidas para dar lugar a estádios novos ou mais uma vez reformados terão apoio com recursos generosos para melhorar a qualidade de sua vida? E a população urbana terá melhores condições de vida e de transporte com a decisão de abandonar os projetos que tinham este objetivo?
Esporte é coisa muito boa. Quando ele passa a ser instrumentalizado para fins de especulação financeira e para a indústria do turismo internacional, porém, deixa de ser esporte para tornar-se una mercadoria a mais a contaminar e sobrecarregar o planeta.
Pensem nisso e apoiem as ações dos Atingidos pela Copa.
Análise de Juca Kfouri: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/1225849-analise.shtml
05/02/2013 - 03h00
Aquilo
que os pessimistas previram está mais uma vez demonstrado pela
reportagem de Bárbara Macri e Bernardo Itri: a Copa do Mundo no Brasil,
que foi anunciada como a da iniciativa privada pelo governo e pelo
comitê que a organiza, é pornograficamente pública.
Orlando Silva disse o que disse e Ricardo
Teixeira escreveu o que escreveu --e escreveu na página 2 desta Folha:
"Tenho dito e repetido inúmeras vezes que defendo um modelo para a Copa
do Mundo no Brasil com viés predominantemente privado".
Tudo bem que ambos tiveram que se demitir dos
respectivos postos e nem foi por mentir, mas por acusações, e provas,
ainda mais comprometedoras. Um virou suplente de vereador em São Paulo e
o outro vive na Flórida.
O que a reportagem revela cabalmente, com 97%
dos investimentos nos estádios via dinheiro público, além de 85,5% do
total empregado para a realização do megaevento, seria um escândalo em
qualquer país sério.
O dinheiro de todos financiará o lucro de
poucos, como aconteceu na África do Sul, que ficou com uma dívida de US$
4 bilhões, os mesmos US$ 4 bilhões que a Fifa anunciou de lucro. Mas
lembremos: a Fifa não pede a ninguém que sedie seu evento.
Sim, o Brasil terá novos estádios, como na
ditadura, ao menos quatro deles fadados a virar elefantes brancos, em
Cuiabá, Brasília, Natal e Manaus, sem se dizer que praças de esportes
nunca foram polos de progresso.
O pior é que já se anuncia a desistência de boa parte dos legados em infraestrutura e mobilidade urbana.
Mas
não há de ser nada: sempre haverá quem transforme espírito crítico e
cidadão em pessimismo ou em desprezível campanha publicitária.
Juca Kfouri é formado em ciências
sociais pela USP. Com mais de 40 anos de profissão, dirigiu as revistas
"Placar" e "Playboy". Escreve às segundas, quintas e domingos na versão
impressa de "Esporte".
Engraçado, um país que tem pouco mais de 95 anos de democracia, já era pra ter cidadão e cidadã com um pouco mais de esclarecimento, é uma pena que continuemos andando pra trás...credo, isso é o Brasil!
ResponderExcluir