sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

POR QUE FALTAM RECURSOS PARA A QUALIDADE DE VIDA?

Aparentemente, o assunto de hoje é o futebol; ou melhor, a Copa do Mundo. Na verdade, contudo,  a reflexão está ligada aos custos financeiros e sociais dos projetos da FIFA a que o Brasil se submeteu de forma, mais uma vez, colonial. Como resultado final, tudo indica que a Fifa terá altos lucros e o Brasil, prejuízos. Afinal, como serão recuperados os 26,5 bilhões de reais, segundo notícia publicada na Folha de S. Paulo?!

O pior, segundo a análise do Juca Kfuri que segue abaixo, é que quase a totalidade deles são recursos públicos. Por isso, a pergunta: por que faltam recursos para a qualidade de vida? A prática está gritando que para as empresas construtoras a torneira está sempre jorrando e de maneira muito generosa. Fica a pergunta no ar: as famílias que estão sendo removidas para dar lugar a estádios novos ou mais uma vez reformados terão apoio com recursos generosos para melhorar a qualidade de sua vida? E a população urbana terá melhores condições de vida e de transporte com a decisão de abandonar os projetos que tinham este objetivo?

Esporte é coisa muito boa. Quando ele passa a ser instrumentalizado para fins de especulação financeira e para a indústria do turismo internacional, porém, deixa de ser esporte para tornar-se una mercadoria a mais a contaminar e sobrecarregar o planeta.

Pensem nisso e apoiem as ações dos Atingidos pela Copa.





05/02/2013 - 03h00

Aquilo que os pessimistas previram está mais uma vez demonstrado pela reportagem de Bárbara Macri e Bernardo Itri: a Copa do Mundo no Brasil, que foi anunciada como a da iniciativa privada pelo governo e pelo comitê que a organiza, é pornograficamente pública.

Orlando Silva disse o que disse e Ricardo Teixeira escreveu o que escreveu --e escreveu na página 2 desta Folha: "Tenho dito e repetido inúmeras vezes que defendo um modelo para a Copa do Mundo no Brasil com viés predominantemente privado".

Tudo bem que ambos tiveram que se demitir dos respectivos postos e nem foi por mentir, mas por acusações, e provas, ainda mais comprometedoras. Um virou suplente de vereador em São Paulo e o outro vive na Flórida.

O que a reportagem revela cabalmente, com 97% dos investimentos nos estádios via dinheiro público, além de 85,5% do total empregado para a realização do megaevento, seria um escândalo em qualquer país sério.

O dinheiro de todos financiará o lucro de poucos, como aconteceu na África do Sul, que ficou com uma dívida de US$ 4 bilhões, os mesmos US$ 4 bilhões que a Fifa anunciou de lucro. Mas lembremos: a Fifa não pede a ninguém que sedie seu evento.

Sim, o Brasil terá novos estádios, como na ditadura, ao menos quatro deles fadados a virar elefantes brancos, em Cuiabá, Brasília, Natal e Manaus, sem se dizer que praças de esportes nunca foram polos de progresso.

O pior é que já se anuncia a desistência de boa parte dos legados em infraestrutura e mobilidade urbana.

Mas não há de ser nada: sempre haverá quem transforme espírito crítico e cidadão em pessimismo ou em desprezível campanha publicitária.

Juca Kfouri é formado em ciências sociais pela USP. Com mais de 40 anos de profissão, dirigiu as revistas "Placar" e "Playboy". Escreve às segundas, quintas e domingos na versão impressa de "Esporte".

Um comentário:

  1. Engraçado, um país que tem pouco mais de 95 anos de democracia, já era pra ter cidadão e cidadã com um pouco mais de esclarecimento, é uma pena que continuemos andando pra trás...credo, isso é o Brasil!

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