quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O SOL DO BRASIL NÃO PRESTA PARA GERAR ENERGIA ELÉTRICA?

Depois de ler os artigos que dão conta dos debates sobre energia elétrica promovidos pela revista Carta Capital, sinto a necessidade de buscar respostas a perguntas aparentemente absurdas, como a que serve de título: o sol do Brasil não presta para gerar energia elétrica? Junto em ela, caberia outra: seriam menos inteligentes do que o Brasil os países que priorizam pesquisas e avançam na produção de energia solar?

Ao se repetir que novas hidrelétricas seriam absolutamente necessárias para gerar os megawats exigidos pelo crescimento do PIB dos próximos anos, e que, sem novas hidrelétricas, a matriz elétrica brasileira se tornaria mais suja porque dependeria do aumento de termoelétricas, resta ao cidadão perguntar-se: o que leva tantas pessoas aparentemente bem informadas a não incluir entre as alternativas, no Brasil, pelo menos três fontes abundantes: o sol, os ventos e o movimento das águas, especialmente as do Atlântico?

A primeira hipótese é a de que os responsáveis pela definição da política energética nacional estão cegos, e não se dão conta da abundância de sol que se derrama sobre o território praticamente durante todos dias do ano, especialmente nos quase um milhão de quilômetros quadrados da Caatinga semi-árida e no Cerrado. Ou que não conhecem o seu país, pois não sabem que haveria ventos para produzir o dobro da energia elétrica hoje disponível, e que se dispõe de sete mil quilômetros de movimento natural de ondas do mar. Nada disso conta para eles e para muitos considerados "especialistas" no assunto. Nem mesmo a informação de que estas são fontes muitíssimo menos agressivas e poluentes, menos geradoras de gases de efeito estufa.

Por que a obstinação de só enxergar os recursos hídricos, agora localizados na Amazônia, e de continuar destinando 90% dos recursos públicos disponíveis à construção de enormes barragens para gerar hidroeletricidade?

De duas, uma: ou os países sempre citados como avançados, desenvolvidos, estão se tornando atrasados e mal orientados, ou o Brasil, mais uma vez, teima em manter-se preso a tecnologias superadas, candidatando-se a depender, num futuro próximo - se houver futuro! -, das novas tecnologias desenvolvidas por eles. Com um agravante: pagará royalties por tecnologias ligadas a fontes que o Brasil possui em larga escala.

Não é fácil demonstrar que Alemanha, Japão e China, entre outros, seriam países mal orientados em suas opções de desenvolvimento tecnológico e de uso de fontes alternativas de energia. Não serve nem o argumento de que as fontes alternativas exigem processos mais caros, pois os preços dos componentes já estão próximos aos tilizados na hidroeletricidade.

Tudo indica que estão certos os analistas que localizam no controle do Ministério de Minas e Energia pelo grupo ligado a José Sarney a causa da teimosa manutenção do represamento de água dos rios como fonte quase exclusiva para a produção de energia elétrica. Seu poder sobre a definição da política energética está assentado no poder financeiro e, por isso, de lobby, da grandes empreiteiras nacionais, que são as reais interessadas nas grandes obras que este tipo de energia exige, e das distribuidoras de energia, interessadas em manter o modelo de produção centralizada em grandes usinas, transformando a energia em uma mercadoria de valor estratégico, vendida a preço de ouro.

Por isso, a luta pela mudança de fontes prioritárias, passando para o sol, o vento e o movimento das águas, depende da pressão da cidadania em favor de outra política energética, descentralizada, com uso das fontes mais vantajosas de cada região, com energia produzida com participação da comunidade, transformada em fonte de renda dos cidadãos. É assim porque a energia solar, por exemplo, pode ser produzida nos telhados das casas, servindo para uso dos moradores e para vender o que sobra aos grandes consumidores de energia, quase todos ligados a produtos de exportação. Também a energia eólica pode ser produzida com diferentes componentes, adequados às opções das famílias ou das comunidades, evitando os preferidos pelas centrais empresariais, do tipo "fazendas eólicas ou solares", que não ligam para as agressões ao ambiente ecológico, social, cultural, pois sua prioridade é o controle e a venda de um produto que gera lucros.

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