segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O DIREITO DE INDIGNAR-SE

Há motivos demais para muita gente indignar-se. Não vou falar, hoje, por exemplo, dos jovens europeus, sejam gregos, espanhóis ou italianos, que tem total direito de indignar-se com o que fazem seus governantes, apoiados pelos políticos em seu conjunto. Afinal, como não indignar-se com governos que se deixam enquadrar por banqueiros que foram apoiados com trilhões e trilhões de recursos públicos? Pior: e deixar-se enquadrar por dívidas que se agravaram justamente por causa do repasse desses mesmo trilhões! Realmente, a tal livre iniciativa capitalista, que melhor seria traduzida por cada um faz o que pode com seu poder, está levando a Europa aos limites do absurdo: deixando, por exemplo, quase a metade dos jovens espanhóis sem direito ao trabalho, desempregados!

Mas hoje quero falar do direito de indignar-se de muitos e muitos brasileiros. É verdade que está havendo alguma melhora nas condições de vida de muitos empobrecidos. Mas, se a gente olha tudo o que está acontecendo, é fácil chegar à conclusão de que a condição de vida da maioria dos brasileiros está profundamente marcada por injustiças. Como entender, por exemplo, que um estado que exporta um horror de minérios e commodities agrícolas, como é Minas Gerais, diga que não tem recursos para pagar sequer um salário mínimo aos professores? Pior: que conte com apoios institucionais, até mesmo de agentes da tal Justiça, para negar-se a atender às reivindicações dos professores em greve há mais de 111 dias! Isso só pode ser entendido quando se tem presente que os recursos mineiros são repassados a poucos membros de uma elite com poder cada dia aumentado de fazer o que pode com seu poder econômico; e que, entre o governantes, há os que são donos do negócio da escola, que usam seu livre poder econômico para sucatear cada vez mais a educação pública para fazer o que podem com seu poder. É preciso lembrar que educação é um direito universal e obrigação do Estado para sentir profunda indignação.


Quero falar, contudo, do direito de indignar-se dos atingidos por eventos climáticos extremos. Como não revoltar-se pelo abandono público em relação ao direito líquido e certo à habitação, à segurança alimentar, à educação, ao trabalho em que se encontram milhares de famílias em diferentes regiões do país? São famílias atingidas por enchentes ou secas, por vendavais ou deslizamentos de morros, e que, na maioria dos casos, perderam tudo que haviam conseguido construir para suas vidas. Mas são tratadas como se os eventos extremos fossem causados por elas, e parece que se exige delas que usem sua livre iniciativa para recuperar o que foi destruído. Não adianta dizer que estavam em lugar perigoso, em que não deviam estar, porque ali estavam, em geral, por motivo de pobreza e por falta total de políticas públicas de habitação. Mais ainda: por falta de fiscalização do poder público, pois cabe a ele impedir que famílias construam casas em áreas de risco e protegidas pela lei, oferecendo-lhes alternativas de terreno mais seguro e garantindo sua habitação.

O mais grave, porém, é que se sabe, e com segurança, que o agravamento desses eventos climáticos extremos se deve a causas em que as famílias atingidos têm pouca ou nenhuma participação. Não são elas que tocam negócios que multiplicam e emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, que causam aquecimento, que agrava os eventos climáticos extremos. Elas são, na verdade, duplamente vítimas do tipo de economia que provoca as mudanças climáticas: são por ela marginalizadas, levadas e mantidas na pobreza extrema, e são as que sofrem as consequências mais duras de tudo que é provocado pelo aquecimento global do planeta.

Tudo somado, como dizer que estas pessoas, famílias e comunidades que não têm direito de indignar-se? A insensibilidade dos governantes, somada à ganância fria e criminosa dos capitalistas que se apropriam de cada vez maior parte dos bens e da riqueza, indicam que a humanidade pode estar no início de um movimento que se tornará muito poderoso: o movimento dos indignados. É a luta dos que compreendem que, num mundo em que não há razão alguma para existir sequer um miserável, é preciso indignar-se e manifestar a indignação como prática política capaz de exigir as mudanças que devem ser feitas em favor da vida de todos os seres vivos e da própria Mãe Terra. Indignem-se, pois!

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