Tudo continua muito estranho no decantado assassinato de Osama Bin Laden. A falta de informações justifica o direito da dúvida; até mesmo em relação à sua morte. Afinal, quem tem um mínimo conhecimento da realidade sabe que a CIA não merece confiança como fonte de informação; pelo contrário, a mentira faz parte de suas artimanhas. Por isso, é melhor deixar para outra hora maiores considerações sobre as circunstâncias de sua morte. Por enquanto, é melhor restringir-se ao uso da informação sobre seu assassinato.
De fato, esse acontecimento está servindo como uma luva para as pretensões do presidente Obama: apresenta-o como o presidente que conseguiu caçar o pior terrorista da história. E com isso, conseguirá, com grande probabilidade, reeleger-se presidente dos Estados Unidos da América. Então, o anúncio desse assassinato podia acontecer em momento mais propício? É legítimo especular: não se sabia há mais tempo o paradeiro do "inimigo número um" e se esperou surpreendê-lo quando sua morte serviria melhor aos objetivos políticos de quem está no poder?
Vale, contudo, ter presente dois pontos de reflexão crítica: o assassinato de uma pessoa, por mais que seja terrorista, é caminho que leva para um aprofundamento real de democracia? E quando esta pessoa assassinada é criatura do executor, o que se deve pensar dele?
A democracia não pode firmar-se apenas nas leis, na imposição do respeito a ela: ela depende, para tornar-se caminho humano de convivência, que avance a confiança e a participação livre de todos os cidadãos e cidadãs nas decisões que dizem respeito aos direitos de todas as pessoas e da Terra. Por isso, um país que se apresenta como modelo de democracia deve, ao mesmo tempo, avançar no respeito às leis e na participação livre e confiante de seus cidadãos e cidadãs no governo de suas vidas.
Pois bem, o que fez a CIA e o presidente Obama? Segundo a notícia veiculada - que, por enquanto, é a versão estadunidense do fato -, a execução, via assassinato, e o enterro, via sumiço do corpo no mar, foi decisão pessoal do presidente. Nasce daí a dúvida: se havia a possibilidade da prisão - mesmo se através de discutível invasão num país soberano -, a democracia não avançaria com mais qualidade se ele fosse submetido a julgamento, respondendo por seus crimes e cumprindo sua condenação? A prática do assassinato, mesmo quando autorizado por um presidente dos Estados Unidos, não passa de um crime contra a vida de uma pessoa, e não é prática que favorece a confiança na justiça e a participação consciente da cidadania no governo de suas vidas; pelo contrário, favorece a alienação política, já tão profunda na sociedade estadunidense.
Mas há um fato que torna tudo isso muito mais complexo: Bim Laden é criatura da CIA, ou foi por ela promovido e utilizado enquanto seria aos seus objetivos. Por isso, pode-se pensar que a execução e o desaparecimento no mar tiveram como objetivo evitar que Bin Laden abrisse o jogo, destampando coisas que a CIA e o governo estadunidense não querem que se tornem públicas. Nasce daí o direito à pergunta: execuções de tipo mafioso, silenciando quem sabe demais sobre as formas de agir de determinado governo no mundo, não revelam que a democracia não passa de fachada para práticas de dominação imperial? A CIA não deveria ir ao banco dos réus junto com Bin Laden? Na falta dele, agora, por ação de seu criador, não se deveria encontrar uma forma de cobrar suas responsabilidades?
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