Mais uma vez a população mundial se vê diante de um dilema: confiar nos USA como fonte de informação, ou manter-se na dúvida em relação à morte de Osama Bin Laden?
Fala-se muito que a humanidade vive na era da comunicação. Mas, em que consiste a comunicação? As empresas privadas que investem nesse tipo de mercadoria entendem que comunicação é o que elas passam aos ouvintes, telespectadores, cibernautas, em troca de publicidade e/ou de mensalidades. Como saber, contudo, se a informação corresponde à verdade? Como não se tem meios para verificar, o jeito é deixar-se levar pelo que é apresentado ou manter-se na dúvida. Um dos direitos universais ligados à comunicação é o de haver fonte declarada, ou seja, possibilidade de verificar se a notícia merece credibilidade. Em outras palavras, cada vez mais o sistema de comunicação depende da confiança em relação às fontes.
Como os USA negam-se a apresentar evidências da morte de Bin Laden, cabe a pergunta: o governo estadunidense merece confiança? Ou melhor, seu sistema de inteligência, a CIA, merece confiança? Como se sabe pela história que a mentira, a criação de intrigas, a geração de instabilidade política, são mediações utilizadas para alcançar os objetivos de poder estadunidense, a resposta à pergunta só pode ser essa: confia neles só quem aceita e defende seus objetivos cegamente. Para os demais, justifica-se o direito da dúvida.
De toda forma, tendo fundamento, a notícia deu conta de um assassinato. De uma pessoa que havia assumido o terror como estratégia, mas que, como pessoa, mantinha o direito de optar entre entregar-se e submeter-se a um julgamento ou de reagir com armas e tornar-se vítima de um enfrentamento. Pelo que foi dito, ele estava desarmado e podia, por isso, ser preso, especialmente pelos soldados ultra profissionais destacados para a tarefa. Tudo indica que eles agiram com uma só ordem: matar. E, em seguida, dar sumisso ao corpo, jogando-o no mar. Por isso, quem aceita a informação sabe unicamente que houve um assassinato.
Assassinato de quem? Do Bin Laden que se transformou no inimigo número um dos USA. O correto é dizer que se transformou ou que foi transformado? É difícil saber, mas parece que a segunda perspectiva é a mais provável. Afinal, não se pode esquecer que a relação da família Bin Laden com comerciantes estadunidenses, como por exemplo a família Bush, é muito antiga, e que Osama entrou na guerra contra a presença da União Soviética no Afeganistão através da CIA, patrocinado por ela; aliás, foi com apoio da CIA que firmou-se o Taleban, uma organização que, como Bin Ladem, revolta-se contra os USA num segundo momento e é redefinida como terrorista.
Terrorista contra a União Soviética é coisa aceitável, desejável, promovida, e quando é contra os USA é crime contra a humanidade? Para quem é contra qualquer tipo de presença e dominação imperial, a reflexão crítica começa pela clara definição da agressão imperial como uma forma de terrorismo. Por outro lado, se um grupo e uma pessoa foram treinados e incentivados a agirem como terroristas contra um império e, uma vez derrotado, sentem-se no direito de continuar agindo como terroristas contra o outro império, que os havia treinado e apoiado, alguma coisa deve ter provocado a decisão. Seria porque se trata de pessoas e povos essencialmente maus? Ou se deram conta que não havia diferenças significativas entre os dois impérios? Ou pior, deram-se conta que o segundo império cobrava ainda maior submissão e entrega de todas as riquezas naturais do país?
Por isso tudo, cabe a pergunta: quando, em que fase da história, os USA foram justos com Bin Laden: quando o usaram como uma das armas para liberar o Afganistão da dominação soviética para submetê-lo à sua própria dominação, ou agora, quando o executam como seu inimigo número um? Penso que seria melhor não falar em justiça; no máximo, houve vingança em relação a um aliado que mudou de posição, sem conceder-lhe o direito de julgamento, em que poderia tentar justificar sua opção. O assassinato e o desaparecimento do corpo não teria a ver com o medo de que toda essa história viesse a tona?
O mundo, mais do que nunca, anseia por paz, por convivência entre povos soberanos, entre culturas diferentes, entre religiões diferentes. E precisa disso para enfrentar os desequilíbrios causados à Terra, que podem levá-la a dispensar a presença humana em seu ambiente vital em pouco tempo. Mas todos sabem que o caminho para alcançar este objetivo não é o terrorismo, feito por a ou por b, por ações de dominação imperial ou como resposta a elas. Nesse sentido, está mais do que na hora de a humanidade exigir dos USA que respeitem a consciência humana e deixem de agir como império, também na hora de comunicar-se sobre a morte de um ex-aliado como Bin Laden.
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