Acabo de receber uma notícia dando conta que continua muito alto o desperdício de alimentos no mundo: entre 30 e 40%. Há muitos motivos, mas eu quero destacar um deles: a predominância de políticas de concentração no armazenamento, industrialização e comercialização de alimentos.
De fato, se examinarmos a realidade, veremos que diminui o número e aumenta o tamanho das empresas que controlam a alimentação no planeta. Isso se deve ao domínio da livre iniciativa capitalista, nas últimas décadas marcada pela perspectiva da globalização neoliberal. E se deve à submissão das políticas públicas aos interesses desses grupos econômicos em todo o mundo. Tudo somado, cada país foi estimulado - e até forçado pelo FMI e pelo Banco Mundial - a só produzir o que fosse vantajoso no mercado mundializado, entregando sua produção às empresas, passando a importar tudo o mais, produzido com vantagens comparativas por outros países.
Vale destacar dois efeitos desse tipo de política: diminuição grave de soberania alimentar em muitos países, agravando sua dívida para importar o que deixaram de produzir; aumento estrondoso de meios de transporte, agravando o aquecimento do planeta com o aumento crescente de emissão de gases de efeito estufa na atmosfera.
Quem deseja enfrentar esta problemática, que implica perda de grandes quantidades de alimentos produzidos, geração de miséria e fome e agravamento das mudanças climáticas, deverá combater a política dominante, favorável e quase dependente da concentração em grandes empresas e da transformação de tudo em mercadoria com preço globalizado, imposto pelas empresas proprietárias.
E precisará ser favorável à construção de alternativas. O caminho a ser reconstruído é o da descentralização: produção de alimentos - e de outros bens - o mais próximo possível das pessoas, comunidades e cidades que deles necessitam. Com isso, recupera-se ou avança-se na direção da soberania alimentar de cada país, de cada povo, realizada em cada território, em cada bioma, com a diversidade característica da Terra e das culturas humanas. Com isso, melhorará a qualidade dos alimentos, o desperdício será menor, e diminuirá signitivamente a necessidade de transporte, diminuindo a contaminação da atmosfera com gases de efeito estufa.
Em outras palavras, ou a humanidade se liberta da dominação capitalista, com sua tendência centralizadora e padronizadora, e caminha para outras relações econômicas, descentralizadoras e democratizadoras, ou o aquecimento global agravará o que já é problemático por causa do desperdício de alimentos: ele desestabilizará a própria produção de alimentos na Terra.
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