QUANDO CONSEGUIREMOS UMA INDIGNAÇÃO E UMA REVOLTA CAPAZ DE MUDAR PROFUNDAMENTE O PODER POLÍTICO E ECONÔMICO NO BRASIL?
E NINGUÉM PODE DIZER QUE NÃO SABE. AFINAL, TEMOS ATÉ CALCULADAS AS DIFERENÇAS ENTRE O BRASIL E A EUROPA. POR AQUI, IRRESPONSABILIDADE, CRIME DE LESA HUMANIDADE.
Lançado na Europa mapa do envenenamento de alimentos no Brasil
Em exposição crônica aos agrotóxicos, brasileiro corre mais risco de morte e desenvolvimento de doenças
Por Ciências Ambientais - URL Curta:
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O
atlas de envenenamento foi lançado em Berlim, Alemanha, país que sedia
as maiores empresas agroquímicas do mundo: a Bayer/Monsanto (incorporada
pelo grupo Bayer) e a Basf, que dominam a produção de toda a cadeia
alimentar – sementes, fertilizantes e agrotóxicos – Fotomontagem: Moisés
Dorado
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Um
ousado trabalho de geografia que mapeou o nível de envenenamento dos
alimentos produzidos no Brasil foi lançado em maio, em Berlim, na
Alemanha, país que contraditoriamente sedia as maiores empresas
agroquímicas do mundo. Quem estava presente no lançamento do atlas Geografia do uso de agrotóxicos no Brasil e conexões com a União Europeia ficou
perplexo com a informação sobre o elevado índice de resíduos
agrotóxicos permitidos em alimentos, na água potável, e que,
potencialmente, contamina o solo, provoca doenças e mata pessoas. A
obra, que já foi publicada no Brasil, é de autoria da geógrafa Larissa
Mies Bombardi, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH) da USP.
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O Brasil é campeão mundial no uso de
pesticidas na agricultura, alternando a posição dependendo da ocasião
apenas com os Estados Unidos. O feijão, a base da alimentação
brasileira, tem um nível permitido de resíduo de malationa (inseticida)
que é 400 vezes maior do que aquele permitido pela União Europeia; na
água potável brasileira permite-se 5 mil vezes mais resíduo de glifosato
(herbicida); na soja, 200 vezes mais resíduos de glifosato, de acordo
com o estudo, que é rico em imagens, gráficos e infográficos. “E como se
não bastasse o Brasil liderar este perverso ranking, tramita no
Congresso nacional leis que flexibilizam as atuais regras para registro,
produção, comercialização e utilização de agrotóxicos”, relata Larissa.
A pesquisadora explica que o lançamento do
atlas na Europa se deu pelo fato de a Alemanha sediar a Bayer/Monsanto e
a Basf, indústrias agroquímicas que respondem por cerca de 34% do
mercado mundial de agrotóxicos. A Monsanto, recentemente incorporada ao
grupo Bayer, é a líder mundial de vendas do glifosato, cujos subprodutos
têm sido associados a inúmeras doenças, incluindo o câncer e o
Alzheimer. “Queríamos promover discussão sobre a contradição de sediarem
indústrias que controlam toda a cadeia alimentar agrícola – das
sementes, agrotóxicos e fertilizantes – e serem rigorosos quanto ao uso
de mais de um terço dos pesticidas que são permitidos no Brasil. Eles
são corresponsáveis pelos problemas gerados à população porque vendem e
exportam substâncias sabidamente perigosas, porém, proibidas em seu
território”, diz.
Intoxicação e suicídios
Segundo a geógrafa, as perdas não se
limitam à contaminação de alimentos e dos cursos d’água. O atlas traz
informações de que, depois de extensa exposição aos agrotóxicos, ocorrem
também casos de mortes e suicídios associados ao contato ou à ingestão
dessas substâncias.
Entre 2007 e 2014, o Ministério da Saúde
teve cerca de 25 mil ocorrências de intoxicações por agrotóxicos. O
atlas mapeia as regiões mais afetadas: dos Estados brasileiros, durante o
período da pesquisa, o Paraná ficou em primeiro lugar, com mais de
3.700 casos de intoxicação. São Paulo e Minas Gerais ficaram na segunda
colocação, com 2 mil. Das 3.723 intoxicações registradas no Paraná,
1.631 casos eram de tentativas de suicídio, ou seja, 40% do total. Em
São Paulo e Minas gerais o porcentual foi o mesmo. No Ceará, houve 1.086
casos notificados, dos quais 861 correspondiam a tentativas de
suicídio, cerca de 79,2%. Os mapas de faixa etária mostram que 20% da
população afetada era composta de crianças e jovens com idade até 19
anos. Segundo Larissa, no Brasil, há relação direta entre o uso de
agrotóxicos e o agronegócio. Em 2015, soja, milho e cana de açúcar
consumiram 72% dos pesticidas comercializados no País.
O atlas Geografia do uso de agrotóxicos no Brasil e conexões com a União Europeia,
em português, foi lançado no Brasil em 2017 e traz um conjunto de mais
de 150 imagens entre mapas, gráficos e infográficos que abordam a
realidade do uso de agrotóxicos no Brasil e os impactos diretos deste
uso no País. A pesquisa que deu origem à publicação teve o financiamento
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Em Berlim, o lançamento aconteceu na sede
do ENSSER (European Network of Scientists for Social and Environmental
Responsability), rede europeia sem fins lucrativos que reúne cientistas
ativistas responsáveis ambiental e socialmente, em Glasgow, Escócia. O
suporte financeiro para o lançamento do atlas na Europa foi da FFLCH e
da Pró-Reitoria de Pesquisa da USP.
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Mais informações: Larissa Mies Bombardi, larissab@usp.br ou pelo telefone (11) 3091-3769. Atlas versão em português – Atlas versão inglês.
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