Movimento Sem Terra estima colher mais de
27 mil toneladas do alimento na safra 2016-2017
Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST
Da Página do MST
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Rio Grande do Sul realiza, na próxima sexta-feira (17), a 14ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz Agroecológico. O evento será realizado na sede comunitária da Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita, localizada no Assentamento Capela, no município de Nova Santa Rita, a 40 quilômetros de Porto Alegre.
Conforme o dirigente estadual do MST, Cedenir de Oliveira, para além de celebrar a produção de arroz livre de venenos, o evento é uma oportunidade para discutir com as famílias assentadas os modelos de desenvolvimento da agricultura e de apresentar à sociedade os resultados da reforma agrária.
"A cadeia produtiva do arroz orgânico representa o modo de produção que defendemos para o campo. Ela mostra que a democratização da terra dá certo e que é possível produzir alimentos saudáveis", explica.
As atividades começam às 9 horas, com abertura oficial da colheita na lavoura. Após, o coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, e o filósofo Leonardo Boff farão análise de conjuntura política e apresentarão modos sustentáveis de desenvolver a agricultura. A programação se estende à tarde, quando acontece ato político com autoridades e lideranças.
MST é o maior produtor de arroz sem veneno
O MST é considerado o maior produtor de arroz orgânico da América Latina. Para a safra 2016-2017, a estimativa é colher quase 550 mil sacas (mais de 27 mil toneladas) do grão, numa área plantada de mais de 5 mil hectares. O cultivo é realizado por 616 famílias, em 22 assentamentos e 16 municípios gaúchos. Isto significa um aumento de quase 40% em relação à safra anterior, quando foram colhidas 393.600 mil sacas do alimento. Já na produção de sementes, que evolve 25 famílias em 9 assentamentos e 8 municípios, a estimativa é colher mais de 22 mil sacas.
A produção de grão ocorre nos municípios de Eldorado do Sul, Nova Santa Rita, Viamão, Guaíba, Santa Margarida, Canguçu, Charqueadas, Manoel Viana, Tapes, Camaquã, São Gabriel, Capivari, Sentinela, Arambaré, Taquari e São Jerônimo. Já as sementes são produzidas em Eldorado do Sul, Nova Santa Rita, Viamão, Guaiba, Santa Margarida, Canguçu, Charqueadas e São Jerônimo.
Produção limpa ocorre há 18 anos
As primeiras experiências do MST na produção orgânica de arroz foram desenvolvidas em 1999, nos assentamentos da Reforma Agrária na região Metropolitana de Porto Alegre. Todo o processo de produção, industrialização e comercialização é coordenado pela Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap), por meio da marca comercial Terra Livre.
Hoje, grande parte da produção é destinada ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), mas o grão também vai para São Paulo e a Venezuela, podendo ser adquirido no Mercado Público de Porto Alegre e em feiras ecológicas em Canoas e na Capital.
As famílias envolvidas no cultivo de grão e semente estão organizadas no Grupo Gestor do Arroz Agroecológico. Conforme o coordenador da iniciativa, Emerson Giacomelli, o sistema de produção utilizado pelos Sem Terra busca consolidar alternativas à agricultura do agronegócio, estabelecendo uma relação de integração e respeito entre os seres humanos e os recursos naturais.
"A produção do arroz é feita com técnicas que estimulam a fertilidade do solo e a produção de alimentos saudáveis, propiciando mais qualidade de vida aos produtores e consumidores, além de renda às famílias assentadas", complementa.
A certificação orgânica é realizada em todas as etapas da produção do arroz, com base em normas nacionais e internacionais, desde o ano de 2004. Ela ocorre por meio de dois procedimentos: certificação participativa (OPAC – Coceargs) e auditoria (IMO – Ceres).
História do Assentamento Capela
As famílias do Assentamento Capela, onde este ano ocorre a abertura oficial da colheita, iniciaram sua trajetória de luta por transformação social em 18 de setembro de 1989, com a ocupação da Fazenda Bacaraí, em Cruz Alta, no Noroeste do RS. Desde então, as histórias dos camponeses são cheias de resistência: oriundos de vários municípios gaúchos, eles enfrentaram a miséria, a morte, a opressão das forças policiais e as inúmeras falsas promessas de assentamento dos governos. Para encarar as dificuldades foi preciso muita união entre os acampados, que resultou em fortes valores de solidariedade e cooperação.
Por cerca de cinco anos, diversas mobilizações foram feitas pelos Sem Terra na luta por reforma agrária: greve de fome, marchas, ocupações e atos públicos para expor à sociedade a desigualdade existente no campo, além da importância da democratização da terra e de um modelo agrícola que contemplasse todas as pessoas.
Foi neste contexto que em 1993 ocorreu, pela terceira vez, a ocupação da Fazenda Capela, em Nova Santa Rita. O latifúndio estava penhorado, resultando na desapropriação de 2.170 hectares e na criação do assentamento em 5 de maio de 1994, marcando uma nova etapa de luta para cem famílias, que começaram a buscar por saúde, moradia, educação e bem-estar social.
Hoje, o Assentamento Capela está organizado em núcleos familiares, onde os assentados produzem, de forma coletiva ou individual, arroz orgânico e convencional, gado leiteiro e de corte, hortaliças e suínos para comercialização, além de diversos outros alimentos para o próprio consumo. Elas recebem assistência técnica da Cooperativa de Trabalho em Serviços Técnicos (Coptec), responsável por capacitar os camponeses em todas as etapas de trabalho.
COOPAN
A Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan) foi fundada pelos assentados em 30 de junho de 1995, mas sua origem se deu no processo do acampamento, onde as famílias já discutiam formas de se organizarem quando conquistassem um pedaço de terra. Foi assim que um grupo de acampados apostou no trabalho coletivo e concretizou, a partir do assentamento, toda a estrutura da cooperativa.
Ao todo, 29 famílias do Assentamento Capela estão inseridas na Coopan. Elas produzem variadas culturas para o autossustento e têm em suas principais atividades econômicas a produção, industrialização e comercialização de arroz orgânico, além da criação, abate e venda de carcaças de suínos. Os Sem Terra também investem em gado leiteiro.
Conforme o assentado Nilvo Bosa, um dos primeiros experimentos das famílias na área da produção foi o plantio de arroz convencional, mas desde o ano 2000 elas passaram a investir somente na produção orgânica. Atualmente, a Coopan produz cerca de 300 hectares do grão limpo, que é beneficiado e embalado em agroindústria própria. A maior parte do alimento é comercializada via Pnae e PAA.
"Optamos pela produção orgânica para preservarmos o meio ambiente e termos qualidade de vida e acesso a um alimento saudável. Entendemos que não adianta ganhar terra para depois estar se matando com o uso de veneno", argumenta Bosa.
Novo empreendimento
A Coopan está construindo, por meio do Programa Terra Forte, abatedouro e frigorífico de suínos e bovinos, para atender as necessidades dos assentamentos e de agricultores familiares da região. A liberação da estrutura para funcionamento deve ocorrer até o segundo semestre de 2018, garantindo, inicialmente, 40 postos de trabalho. A meta de produção das famílias é de 250 porcos e 50 cabeças de gado diariamente. O empreendimento vai possibilitar a comercialização em carcaças, cortes, embutidos e cozidos.
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