PODE NÃO SER A SOLUÇÃO, E NEM DEVE SER, PORQUE NÃO COLOCA EM QUESTÃO O PODER ABSURDO DE MEIO DÚZIA DE BANQUEIROS E DA CUMPLICIDADE E SUBMISSÃO DOS GOVERNOS A ELES. MAS VALE COMO DEMONSTRAÇÃO DE QUE JÁ CHEGOU A HORA E QUE DEVEMOS ENFRENTAR OS PROBLEMAS DIRETAMENTE, COMO FAREMOS, NA DATA OPORTUNA, TAMBÉM EM RELAÇÃO AOS GOVERNOS QUE SÓ SERVEM AOS BANQUEIROS. QUE RENASÇA A DEMPCRACIA!
Contra aristocracia financeira, mais democracia, humor e crowdfunding
Publicado em 30 de junho de 2015 por Caue Seigne Ameni
Jovem inglês dá um tapa na cara dos mercados globais ao abrir, em site de crowdfunding, campanha para pagar coletivamente dívida grega
Por Cauê Seignemartin Ameni
Em meio a pressões cada vez mais intensas dos credores contra a Grécia, um jovem inglês que “trabalha numa loja de sapato”, Thom Feeney, teve a sensibilidade que falta à maioria dos políticos da União Europeia: enfrentar com solidariedade o problema que estrangula o país há 6 anos. Na mesma linha do primeiro ministro Alexis Tsipras, de combater austeridade com mais democracia, Feeney criou uma campanha de financiamento colaborativo (crowdfunding) para arrecadar dinheiro e pagar uma parcela da dívida.
Feeney fez o seguitne cálculo: se cada cidadão da União Europeia (503 milhões de pessoas) doar 3 euros, a Grécia terá um outro destino. A parcela da dívida que deveria ser paga hoje (30 de junho) ao FMI é de 1,6 bilhões de euros (equivalente a 5,8 bilhões de reais). O governo aguarda o resultado do referendo no próximo domingo (5 de julho) para decidir se pagará ou não.
Em entrevista ao The Independent, o jovem de 29 anos mostrou ter mais responsabilidade que os credores: “Parece que os políticos, primeiros-ministros e chanceleres estão esquecendo quem é realmente afetado por esta crise: o povo grego. Se os governos não querem ajudar os gregos, talvez as pessoas que vivem na Europa queiram”.
Os prêmios oferecidos pela campanha são igualmente provocadores: vão de um cartão postal do Alex (sic) Tsipras para quem doar 3 euros; uma garrafa de Ouzo (aguardente grega) para quem doar 10 euros; azeite e queijo feta para salada para 6 euros e uma garrafa de vinho grego para quem doar 25 euros; até uma viagem à Grécia por dois dias para quem contribuir com 5 mil euros. “Na verdade, todo mundo na União Europeia poderia ajudar a levantar o dinheiro apenas tendo uma garrafa de azeite e queijo feta na salada do almoço. Então, por que não fazer isso? Escapamos dos políticos e dos credores europeus, ficamos com um saboroso almoço e a Grécia obtém estabilidade”.
Com a colaboração de 16 mil pessoas nos dois primeiros dias, a campanha já arrecadou 247 mil euros. O site, que opera o sistema de crowdfunding Indiegogo, encontra-se completamente congestionado, saindo frequentemente do ar. “Estou confiante que o povo da Europa irá se engajar nessa campanha e em breve estaremos levantando um copo de Ouzo numa grande festa!”, diz Thom. Para acompanhar o financiamento siga a pagina da campanha no Facebook, ou twitter da plataforma, ou busque pela hastag #crowdfundgreece.
Já o pai da nouvelle vague, Jean-Luc Godard, que em 2013 recusou premiação em Cannes, em solidariedade ao povo grego, lembrou em entrevista ao The Guardian, que toda a humanidade está em dívida com a Grécia. “Os gregos nos deram a razão, devemos isso a eles. Aristóteles foi o primeiro a conceituar a palavra ‘portanto’, e usamos essa palavra milhões de vezes para tomar nossas principais decisões. É hora de começar a pagar por isso”. E concluiu: “Angela Merkel diz: ‘Nós te emprestamos dinheiro, portanto vocês terão de pagar’, mas ela é que deveria ser a primeira a pagar os direitos autorais por isso”.
Talvez o Syriza abrace o financiamento colaborativo para viabilizar o futuro do país. Talvez os credores e ministros europeus afrouxem as cordas que o estrangulam. Talvez essa história seja mais complicada que aprender grego. Mas é inegável que as atitudes introduzidas no jogo reoxigenam a democracia em busca de outras soluções, diferentes daquela que, está provado, só traz sofrimento: mais austeridade.
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