quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

CÚPULA DOS POVOS E COP DA ONU

Peru, 8 de dezembro de 2014

Foi realizada, no fim da tarde desse primeiro dia, a Abertura festiva da Cúpula dos Povos, com presença de algo mais do que quatro mil pessoas. A maior parte são peruanos, mas é significativa a presença de povos de outros países, de modo especial da América do Sul.

Foi uma cerimônia em que se misturaram músicos e cantores, apresentando canções típicas dos povos do Peru, e palavras de representantes das entidades, movimentos e redes que organizaram o evento. Justo que assim tenha sido, pois cabia a eles e elas acolherem a todos os que aceitaram o convite e estão dispostos a fazer desta Cúpula mais um acontecimento de afirmação dos povos em relação aos processos que estão agravando as mudanças climáticas.

Na verdade, antes mesmo da Abertura, foram realizadas muitas atividades autogestionadas, única forma de organizar espaços para tantas inscrições e tanta vontade de debater e elaborar propostas sobre diferentes dimensões da temática do aquecimento e mudanças climáticas.

Tristes são as notícias que chegam da COP 20, a Conferência oficial da ONU. Alguém, e talvez de forma mais criativa, afirmou que se tratava da consolidação de uma trampa, isto é, de uma solene armadilha por parte de tantos representantes de governos, empresas e grandes ONGs. Em que sentido, essa trampa? É que tudo indica que se abandonará a obrigação de colocar em prática compromissos que efetivamente enfrentem o que causa das mudanças climáticas, e serão anunciados compromissos voluntários de cada país, sem nenhuma garantia de que serão colocados em prática. Tem sido até agora, nas 19, e agora, nas 20 Conferências do Clima, um solene jogo de faz de conta. E quem ri e celebra com champanhes tudo isso são as grandes empresas, que nunca aceitaram e continuam fazendo tudo que podem para impedir que sejam assumidos compromissos efetivos de mudanças profundas e estruturais no sistema de produção e no modo de vida consumista.

Tudo indica que os participantes da Cúpula dos Povos não poderão limitar-se a apresentar propostas aos membros da COP oficial, e mesmo a fazer pressão pública sobre eles. Para serem efetivos e realizar o que desejam os membros dos movimentos populares indígenas, camponeses e urbanos, de jovens e de mulheres, bem como das entidades que muitos aqui representam, será necessário definir ações de mobilização e pressão sobre os governos antes da COP que será realizada no final do próximo ano e Paris, para que, finalmente, assumam compromissos sérios e efetivos, enquanto ainda é tempo. Mais ainda, deverão retornar aos seus territórios e comunidades comprometidos a ir realizado o que é possível fazer com autonomia em relação ao Estado e às grandes empresas.

                        Ivo Poletto, do FMCJS


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