segunda-feira, 15 de outubro de 2012

PERTO DOS POBRES... PERTO DE DEUS

É com alegria que coloco em suas mãos o documento final do Congresso Continental de Teologia da Libertação. Vejam porque ela continua e é fonte de energia espiritual para todos e todas que amam os empobrecidos da sociedade do desperdício e lutam com eles por sua libertação. A melhor das boas notícias de Jesus de Nazaré é esta: só está com Deus e é amado por Ele quem ama os empobrecidos como seu próximo.




Adital - 15.10.12 - América Latina
Perto de Deus... perto dos pobres – Documento final do Congresso Continental de Teologia


Participaram 750 pessoas entre jovens e adultos, laicas e laicos, religiosas e religiosos, sacerdotes e bispos e irmãs e irmãos de outras denominações cristãs. Provenientes dos diferentes países da América Latina e do Caribe, da América do Norte e da Europa. Temos vivenciado um verdadeiro kairós e mobilizado a comunidade teológica do Continente.

Primeiramente queremos comunicar que saímos fortalecidos em nossa esperança, uma esperança que nos impulsiona a colocar nossa vida a serviço do Reino de Deus. Oramos evocando a caminhada eclesial desde o início do Concílio Vaticano II e dos 40 anos de teologia da libertação. Refletimos criativamente em painéis e oficinas sobre aspectos importantes do povo de Deus e que desafiam a nossa tarefa teológica e pastoral.

Constatamos e assumimos nossas diferenças e diversidades históricas, geográficas, culturais, de processos sociais e eclesiais. Nos enriquecemos com elas, muito especialmente quando lembramos e celebramos o testemunho de martírio de quem nas últimas décadas tem dado amostras extraordinárias de fidelidade ao Deus da vida, dentro de nosso povo, sobretudo entre os pobres.

Recordamos especialmente a figura iluminada e cativante do Papa João XXIII, de quem evocamos o gesto de abrir portas e janelas para que a Igreja católica aprendesse que para ser mãe e mestra necessitava tornar-se filha e discípula. 

Recordamos, também, a Paulo VI que acertou em colocar lucidez e audácia nos trabalhos do Concílio e na caminhada do povo de Deus do imediato pós-concílio. Esta recordação nos transmitiu com emoção e força Mons. José M. Pires de 94 anos; ele foi padre conciliar.

Reafirmamos nossa convicção de que o caminho que iniciamos em Medellín, continuará sendo nosso caminho neste tempo. Tomamos consciência, também, das exigências que supõe o novo contexto cultural, social, político, econômico, ecológico, religioso e eclesial, agora globalizado, depredado e excludente.

Confirmamos que a Teologia da Libertação está viva e continua inspirando as buscas e os compromissos das novas gerações de teólogos. Mas às vezes as brasas se escondem por debaixo das cinzas. Neste sentido, esse congresso se converteu em um sopro que se reacendeu o fogo desta teologia que quer continuar sendo fogo que acende outros fogos na Igreja e na sociedade.

Conscientes de que a "Igreja deve escutar os signos dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho” (GS 4), queremos passar aos tempos dos signos e fazer um processo de construção coletiva que articule nosso pensar, sentir e atuar. Este processo supõe um esforço de escuta atenta de diferentes testemunhos e experiências, convicções e olhares, em uma ação que nos desafia hoje de nossos diferentes contextos e nos leva a apostar por um presente que tenha futuro.

Os tempos mudaram. Isto nos levou a fazer uma pausa e articular nossa teologia latino-americana com realidades e saberes que não estiveram presentes nos trabalhos do Vaticano II, nem nos primeiros momentos da Teologia da Libertação. Para nós são novos clamores que vêm dos migrantes, das mulheres, dos povos originários e afro-descendentes, das novas gerações e de todos os novos rostos de exclusão que emergem desde a invisibilidade.

Estes gemidos são frutos de um sofrimento, que buscamos compartilhar com paixão com os que são privados de uma vida digna, de um "bem viver” (Sumakausai) como Deus quer.

Acreditamos que este Congresso marque o começo de uma nova etapa. Para isso está sendo organizado. Algo novo está brotando e cada vez nos damos mais conta (Is. 43,13). Queremos que esse futuro esteja marcado pela fidelidade, fecundidade, a criatividade e a alegria. Na nossa tarefa teológica deve acertar a assumir os novos desafios em plena sintonia com a Palavra de Deus, sob a ação do Espírito e em profunda comunhão com os pobres que para nós são os preferidos de Jesus. Tem que ser assim já que "todo o que tem a ver com Cristo, tem a ver com os pobres e tudo o que é relacionado com os pobres chama a Jesus Cristo” (DA 393).

Durante o congresso olhamos para adiante e olhamos distantes, até o futuro; nos deixa com sonhos e com vontade de torná-los realidade. Um dos mais importantes é estimular teólogos e teólogas jovens que amparam a herança dos teólogos da primeira geração da Teologia da Libertação. Esta herança transmitiu Gustavo Gutiérrez ao lembrar com emoção aos teólogos jovens que em sua tarefa teológica sejam rigorosos, profundos, próximos das comunidades inseridas no mundo e que deem sua vida pelos pobres. Com sua frase "Perto de Deus, perto dos pobres” evocou a todos os participantes o melhor da teologia latino-americana. Com isso reunimos o melhor deste Congresso.

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