O que fazer para que o Brasil aprenda com o exemplo do pequeno Butão? Em comparação, temos tantas condições, alternativas e oportunidades, que é simplesmente inaceitável que continuemos com iniciativas econômicas tão destrutivas.
Abraços.
Ivo
IHU - 4/11/2011 | |
''Tsunamis de montanha'' ameaçam o reino de Butão | |
O derretimento das geleiras do Himalaia tem criado o risco de um escoamento catastrófico dos lagos de altitude para os vales. Um desafio assustador para esse pequeno país que vive da ajuda da alta montanha. Ameaçado pelo aquecimento climático, o reino do Butão, espremido entre a Índia e a China nos sopés do Himalaia, está sofrendo as consequências da industrialização do resto do planeta. A reportagem é de Julien Bouissou, publicada pelo jornal Le Monde e reproduzida pelo portal Uol, 04-11-2011. No norte do país, as geleiras da cadeia himalaia derretem em média de 20 a 30 metros por ano, a um ritmo que vem se acelerando a ponto de os especialistas temerem por seu desaparecimento até 2035. As águas provenientes do derretimento das geleiras, quando rompem os diques naturais que as cercam, podem se transformar em inundações devastadoras, como foi o caso em 1994, quando uma torrente de lodo matou dezenas de habitantes e aniquilou vilarejos inteiros. Com 24 de seus 2.674 lagos glaciais, considerados perigosos, o país se prepara para enfrentar “tsunamis de montanha” ainda mais fatais ao longo dos próximos anos. O Butão é um dos primeiros países no mundo a ter de se proteger de inundações glaciais. Em 2005, o governo recebeu uma ajuda do Fundo Global para o Meio Ambiente, financiado em parte pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), a fim de evacuar parte das águas do lago glacial de Thorthormi e de elevar seus diques naturais. Mas em alta altitude, onde o relevo é acidentado, os helicópteros pousam com dificuldade e representam uma solução custosa. Então, 350 habitantes andaram durante 10 dias para armar seu acampamento a mais de 5 mil metros de altitude. Estudantes, soldados aposentados e moradores de roupas tradicionais se apresentaram como voluntários. Com suas poucas ferramentas e equipamentos, eles costumam trabalhar com as próprias mãos e as pernas na água gelada, para tentar abrir um canal de drenagem e construir muros de pedra. Todo ano, seu trabalho é interrompido pela chegada do inverno. “É possível, graças às imagens por satélite, identificar os lagos glaciais perigosos, mas é impossível dizer quando e onde ocorrerá a catástrofe”, afirma Pradeep Mool, engenheiro do Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado de Montanhas (Icimod), com sede em Katmandu, no Nepal. Diversos fatores são levados em conta para calcular a periculosidade das inundações, como a topografia dos arredores, as avalanches que ameaçam fazer o lago transbordar, a solidez dos diques naturais e o volume de água contido, bem como sua progressão. As causas dessas inundações glaciais são inúmeras e difíceis de se avaliar. Em alta altitude, sob condições climáticas extremas, a coleta de informações científicas pode se revelar perigosa. “No lago de Thorthormi, os cientistas não conseguiram terminar de medir o nível de água como eles queriam. Os ventos, extremamente fortes, ameaçavam derrubar sua embarcação”, conta Dowchu Dukpa, um engenheiro do ministério butanês do Meio Ambiente. As autoridades identificaram zonas de risco onde as construções são proibidas, e elas pretendem implantar um sistema de alerta por SMS. Detectores colocados nos lagos glaciais informarão sobre o avanço do nível da água. Os moradores das zonas de risco, longe de tudo com exceção das torres de antenas, poderão em poucos minutos se proteger, graças a seus telefones celulares. Os “tsunamis do céu” são somente um dos perigos, os mais imediatos, que o Butão deve enfrentar. Isso porque, a longo prazo, o derretimento das geleiras pode diminuir a vazão dos inúmeros rios do país. Ora, a água é seu recurso mais precioso. Ela é no Butão aquilo que o petróleo é para o Kuwait. Ela irriga os campos em média altitude, dando o sustento a milhares de agricultores, e alimenta as usinas hidrelétricas que geram sozinhas 40% das riquezas produzidas a cada ano no país. A baixa da vazão dos rios terá consequências em toda a região, bem além das fronteiras do Butão. As geleiras do Himalaia servem de “caixa d’água” para o Sul da Ásia. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) calculou que seu derretimento afetaria o abastecimento de água de 750 milhões de pessoas. Vítima a contragosto do aquecimento climático, o Butão quer estar à frente do desenvolvimento sustentável. O país é um dos poucos no mundo a absorver, e não emitir, gases de efeito estufa graças a suas florestas que cobrem 82% de sua superfície. O Butão se comprometeu, em sua Constituição, a proteger suas florestas em um mínimo de 60% de seu território. “Nós estamos sendo ameaçados pelo derretimento das geleiras, mas não podemos exercer nenhuma pressão sobre os países industrializados. Dar o exemplo é a única solução que nos resta”, explica Ugyen Tshewang, dirigente da comissão nacional sobre o meio ambiente. A proteção ao meio ambiente é um dos quatro pilares da felicidade nacional bruta, a doutrina que rege a política de desenvolvimento do país. O Butão sacrifica pontos de crescimento para preservar sua floresta, se recusa a abrir minas em nome da preservação do meio ambiente e constrói “estradas ecológicas”, sem guindastes, ao longo de pontos protegidos. “O desenvolvimento sustentável nos custa caro, mas também precisamos da ajuda do Ocidente, sobretudo em nível tecnológico”, diz Ugyen Tshewang. Ciente do perigo à espreita, o reino já começou a proteger suas espécies. A biodiversidade que ele abriga é uma das mais ricas do planeta, com 5.600 variedades de plantas e 600 espécies de pássaros registradas. Já se encontram em vias de extinção 40 espécies de pássaros e de mamíferos. No Butão, uma nova era já começou, a do aquecimento climático. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário