sexta-feira, 18 de novembro de 2011

CRISE FINANCEIRA: UMA AÇÃO CRIMINOSA CONTRA A VIDA E A TERRA?



Há uma pergunta que me persegue nos últimos tempos: essa crise financeira, que se agrava cada dia mais, não poderia ser uma estratégia dos grupos dominantes com múltiplos objetivos – entre eles: forçar a transferência de recursos públicos para os bancos; aumentar a dívida pública dos Estados com o objetivo de controlá-los e aumentar as taxas de juros dos “empréstimos” para enfrentá-las; fragilizar os Estados dos países ricos para que, em favor da indústria do petróleo, estejam justificadas as negativas em relação à redução de emissão de CO2 compatível na atmosfera; impedir que a população exerça seu poder soberano e decida se aprova ou não esse conjunto de medidas de manutenção do capitalismo neoliberal globalizado?
A partir de tudo que li sobre o que se passa no mundo nas últimas semanas, estou convencido de que os estrategistas do capital financeiro buscam todos estes objetivos ao mesmo tempo. Todos eles estão centrados em dois: concentrar ainda mais a riqueza nas mãos do capital financeiro e impedir que a democracia seja exercida de forma plena.

Explico: é evidente que há casamento estreito entre os interesses da indústria do petróleo e dos bancos e financeiras, e isso os leva a agir em conjunto para fragilizar os Estados e impedir a democracia, pois só assim podem garantir que não progridam as negociações globais sobre as mudanças climáticas. Por outro lado, quanto mais os Estados estão enterrados em dívidas, maior a capacidade de controle sobre eles, aumentando a transferência de recursos e de poder para o ultrapoderoso setor financeiro.

Em recente artigo, Pablo Solon, negociador sobre o clima pela Bolívia, denuncia que nem mesmo o “compromisso” de evitar que o clima aumente mais do que 2ºC, definido em Cancum em 2010, está sendo levado a sério. Ao contrário, se a emissão de CO2 se mantiver com a irresponsabilidade empresarial e política atual, sabe-se que o clima pode aumentar em 4ºC ou mais em pouco tempo. Com isso, o número dos atingidos e mortos por falta de segurança alimentar e por causa dos ventos climáticos extremos aumentará dramaticamente.

Por outro lado, o que se tem visto nas medidas políticas de enfrentamento da crise das dívidas públicas na Europa é a fim da democracia em favor da ditadura do capital financeiro. É isso que se percebe nos dois países mais ameaçados pelas dívidas, Grécia e Itália: depois de impor ao governo da Grécia que desistisse do referendo sobre o “pacote de socorro”, o novo Primeiro Ministro deste país e o da Itália são tecnocratas nomeados pelos bancos e aprovados pelos Congressos dos dois países. Em outras palavras: os bancos se impuseram como soberanos, sacrificando o único soberano das sociedades democráticas: o conjunto do povo. E com isso a Europa – decantada como seu berço - enterra a democracia, ou revela que ela só pode existir formalmente, prometendo o que não realiza, submetida aos interesses do setor dominante do capital.
E os Estados Unidos da América, o que revelam com a repressão aos indignados contra o domínio de Wall Street e contra o comprometimento do sistema político institucional com ele? Por aqui também democracia não rima com livre iniciativa cidadã, com desejo de democracia real, em que as decisões são tomadas pela maioria do povo, mesmo e principalmente sobre as escolhas econômicas; “livre” mesmo, só a iniciativa capitalista, mesmo quando comandada por menos do que 1% da população, e de forma pouco ou nada concorrencial, cada vez mais oligopólica.

O que resta a nós, simples mortais, que somos 99% da espécie humana? Mesmo enfrentando a má vontade ou o comprometimento do sistema judiciário, cabe-nos lutar para que os agentes do sistema financeiro e os políticos que os apóiam sejam submetidos à Justiça e responsabilizados pelos diferentes tipos de vítimas, muitas delas fatais, dos processos de geração de miséria e de aquecimento da Terra. Houve um tempo em que práticas de caçar, vender, comprar e explorar pessoas escravizadas eram negócios dos setores dominantes e tinham fachada de atos legais e legítimos; mas chegou o tempo também em que se declarou a escravidão um crime contra a dignidade da vida humana, e se passou a judicializar quem a praticasse. Cabe-nos a difícil luta para definir como crime contra a humanidade e a Terra as práticas oligopólicas dos grupos econômicos que nunca se saciam com o que concentram em suas mãos, tornando-se ética e juridicamente responsáveis pelas mortes provocadas pela miséria e pelas mudanças climáticas. E isso só poderá vingar, neste século XXI, por meio da conquista da democracia real, em que só existe um soberano, o povo, e ele faz valer seu poder contra todas as formas de falsa democracia e de ditadura.



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