quarta-feira, 23 de março de 2011

DESTINO DE UMA CASA DIVIDIDA

O que sucede quando os responsáveis por uma casa defendem posições contrárias? Como expressa o povo, a casa cai. E quando um ministro de um governo federal defende posição contrária ao que está definido em lei e é anunciado como compromisso público pelo governo? No mínimo, se não houver correções, o governo se desmoraliza.

É o que está acontecendo nos últimos dias em nosso governo federal. Como se sabe, existe um Lei de Mudanças do Clima, e nela consta o compromisso, aliás alardeado internacionalmente, de diminuir seriamente o desmatamento da Amazônia e do Cerrado. Em pronunciamento público, contudo, o Ministro da Agricultura desprezou o compromisso em relação ao Cerrado, dizendo que nele não há nada... só cerrado (ver em http://congressoemfoco.uol.com.br/noticia.asp?Cod_Canal=14&Cod_Publicacao=36359). Por isso, em sua visão, esse é um território disponível para o agronegócio.

Afinal, qual será a política real do governo federal em relação ao Cerrado? Pelo que se nota do poder dos representantes do agronegócio na base política do governo, é provável que a visão do ministro seja predominante. E assim, tudo que foi colocado na lei e tudo que foi propalado pelo governo irá para o ralo, e o Cerrado continuará a ser devastado.

Uma vez mais, coloca-se a questão: quando será que o governo, com todos os seus integrantes, começará a redefinir suas políticas, dando-lhes a qualidade necessária para o século XXI? A afirmação do ministro faz parte da visão de desenvolvimento centrada no crescimento econômico a qualquer custo, mas isso podia ser aceitável no século dezenove ou vinte. Por isso, a possibilidade de que seja implementada efetivamente uma política de defesa do que resta do Cerrado, diminuindo ou impedindo a continuidade de seu desmatamento, está a depender de uma redefinição de toda a política econômica do governo federal, ancorada e a serviço do PAC, um Programa que não leva em conta a situação em que se encontra a Terra justamente por causa de atividades econômicas idênticas à maioria das promovidas por ele. Ou conseguimos forçar o governo a mudar sua visão e o tipo de economia a ser promovida, ou o Brasil aumentará ainda mais sua responsabilidade em relação aos desastres socioambientais que se multiplicarão por causa do aumento do aquecimento global.

O Cerrado é o primeiro bioma brasileiro a se estabilizar e a oferecer excelentes oportunidades de vida aos humanos que migraram para o planalto central há doze mil anos. Com uma das mais ricas biodiversidades do Planeta, com um solo esponjoso por causa do enraizamento profundo de sua vegetação, o Cerrado tem sido pródigo fornecedor de água para todos os demais biomas. Até quando terá condições de prestar esse tipo de serviço, para o qual foi preparado em milhões de anos pela Terra? Ele já está seriamente fragilizado, com aproximadamente 80% de sua vegetação e biodiversidade modificadas. Se a fala e o poder do Ministro da Agricultura pautarem a ação política do governo federal, que contará com apoio festivo do governo liberal conservador de Goiás, o futuro próximo do Cerrado não é nada alentador: compactação do solo, diminuição de água disponível, aumento da temperatura, desertificação.

Para salvar o que resta do Cerrado, é mais do que urgente a necessidade de juntar a força política da cidadania que ouve os clamores e a profecia da Terra. Você faz parte desta frente? Será uma forma de colocar em prática a Campanha da Fraternidade deste ano, que tem como lema Fraternidade e Vida do Planeta, e como lema A Criação sofre em dores de parto.

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