quinta-feira, 17 de outubro de 2019

CARTA PÚBLICA DA FRENTE POR UMA NOVA POLÍTICA ENERGÉTICA PARA O BRASIL

O FÓRUM MUDANÇAS CLIMÁTICAS E JUSTIÇA SOCIOAMBIENTAL É ENTIDADE MEMBRO DESTA FRENTE, E ASSUME O CONTEÚDO DESSA CARTA, APROVADA NA RECENTE PLENÁRIA NACIONAL


CARTA PÚBLICA

A Frente por uma Nova Política Energética para o Brasil vem por meio desta carta chamar a atenção das autoridades e da sociedade em geral para os problemas e oportunidades que envolvem a nossa matriz energética atualmente.

Neste momento o povo brasileiro começa a experimentar uma mudança positiva com a instalação da mini e micro geração de energia elétrica conectada à rede, em especial através da fonte solar, que gera benefícios para as famílias e impactos positivos para a economia e para a produtividade. Ao mesmo tempo, entretanto, identificamos o risco de retrocesso no planejamento e na expansão do sistema elétrico.

A própria mini e micro geração solar distribuída sofre ameaças (às quais nos opomos) com a atual revisão da resolução normativa nº 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que pode reduzir sua atratividade, enquanto o planejamento de grandes obras do setor elétrico avança sem o devido processo de consulta à sociedade e às populações atingidas. E agora o governo está avaliando a construção de usinas nucleares no Nordeste e de grandes hidrelétricas na Amazônia, replicando um modelo que já se mostrou nocivo do ponto de vista da justiça social e da responsabilidade socioambiental.

O plano de construir grandes hidrelétricas nos rios Tapajós e Trombetas, no Pará, e no rio Branco, em Roraima, e ainda centenas de usinas menores em vários estados do país, ameaçam não apenas a Amazônia, mas todos os biomas do Brasil, especialmente o Pantanal, cada vez mais impactado pela construção de barragens. Entendemos que o Brasil não necessita mais destes grandes projetos com elevados impactos sociais, econômicos e ambientais porque, atualmente, diversas fontes de energia já se encontram maduras, com preços competitivos e eficácia comprovada. Ao invés de construir novas hidrelétricas e usinas nucleares é hora de avançar na instalação de fontes de energia com menores danos socioambientais e maiores benefícios sociais.

É também preocupante a ampliação do uso de combustíveis fósseis nas usinas termelétricas e aumento da exploração de petróleo em regiões sensíveis. A perspectiva de exploração de petróleo nas bacias dos rios Solimões, Amazonas e sua foz, coloca em risco as florestas, os rios e vastas regiões de nosso litoral. Consideramos grave que estes projetos avancem sem que os povos indígenas e comunidades tradicionais dessas áreas participem do processo de planejamento e decisão sobre a implantação destes projetos, desrespeitando o direito à consulta livre, prévia e informada garantido na legislação brasileira.

O governo federal pretende construir um grande parque nuclear, às margens do rio São Francisco, em Itacuruba (PE), também sem a participação/consulta pública adequada as sociedades locais. O Brasil não precisa de novas usinas nucleares para produzir eletricidade, porque o país pode ter segurança energética com uso integrado de outras fontes de energia. Neste momento o mais adequado seria planejar o descomissionamento das usinas de Angra 1 e 2, e interromper a construção de Angra 3, um projeto caro, envolto em corrupção, com Plano de Emergência falho, e que não contempla as medidas emergenciais obrigatórias após a tragédia de Fukushima, no Japão.

A exploração do Uranio, em Caetité (BA), tem aumentado o número de casos de câncer nos moradores, fato comprovado por diversas pesquisas. É extremamente injusto que o Nordeste, região mais rica do país em energia do sol e do vento, e que já convive com o impacto de grandes projetos hidrelétricos, térmicos e eólicos, seja também o local escolhido para conviver com os riscos da expansão da energia nuclear no Brasil.

Afirmamos também que a logística dos transportes tem potencial para alcançar um modelo mais sustentável do ponto de vista econômico e ambiental, reduzindo progressivamente sua emissão de poluentes, estimulando a interação dos modais e o uso de ferrovias para transporte de cargas e passageiros, e adotando medidas de mobilidade urbana e de ampliação do transporte público de qualidade.

É inspirador avançar neste debate no momento em que a comunidade sul-americana acompanha com esperança a realização do Sínodo da Amazônia, no Vaticano, que discute as graves mazelas que assolam a região, como o desmatamento, as queimadas, a poluição e a pobreza, mas também as oportunidades de promover um modelo de desenvolvimento na Amazônia que respeite a sua diversidade natural e valorize a sabedoria dos seus povos.

Nosso país apresenta todas as qualidades para ser uma potência na área da produção energética renovável, que pode ser expandida de modo democrático e participativo, com geração de empregos e oportunidades para toda a sua população, e consolidando sua posição de nação responsável e engajada na busca por um futuro sustentável para o planeta.

Brasília (DF), 10 de outubro 2019.




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