Fiquei impressionado com as imagens apresentadas numa
reportagem de TV sobre o aumento dos focos de incêndio no Mato Grosso, por ser
o estado mais afetado. Ao mostrar uma extensa plantação de milho queimada, foi
dada a palavra a um produtor, que não conseguiu reter as lágrimas ao falar dos
prejuízos que a seca e o fogo causaram à sua família.
Eu também tive dificuldade de segurar o choro. Não tanto
pelos prejuízos financeiros, mas por tudo que percebi nas imagens. Em primeiro
lugar, entrevistado e entrevistador estavam no meio de um terreno sem nenhuma
árvore, um solo nu numa extensão a perder de vista. Um terreno para o plantio
na forma de monocultura, podendo ser de milho, soja, algodão, cana-de-açúcar,
eucalipto. Por isso, logo surgiram algumas perguntas: há quanto tempo este solo
está sem a sua cobertura vegetal natural, criada pela Terra, para ser usado
desse jeito? Quantas vezes foi corrigido com uso de calcário, preparado com produtos
químicos para garantir que as sementes transgênicas germinem, envenenado pelos
produtos químicos que matam todos os seres vivos que não sejam resistentes como
a semente programada em laboratório?
Ao ver a monocultura de milho com espigas estragadas pela
seca ou queimadas pelo fogo, mais perguntas perturbaram minha mente: como
estará o subsolo nesta área de monocultura? Haverá ainda algum dos seres vivos microscópicos
que mantinham fértil o solo do Cerrado? Haverá ainda água para garantir a
umidade natural do solo? Ou ela está longe da crosta endurecida que não deixa
penetrar as águas de chuva, e ainda assim, totalmente contaminada pelos
produtos químicos e venenos? Como estará o aquífero Guarani, no subsolo mais
profundo: contaminado também? Reabastecido e com seu nível normal, ou cada vez
com menos água?
Em outras palavras, a diminuição do tempo
das chuvas do Cerrado e, por isso, a intensidade da seca que atinge a região
central do país, não está sendo causada por tudo que foi feito na área mostrada
na reportagem? Como a resposta correta é que a seca está aumentando por causa
do desmatamento quase total do Cerrado em nome de um progresso imediato gerado
com plantios de monoculturas sem fim e com uma produção cada vez mais química,
então o as lágrimas devem ser derramadas por causa desse desastre geral, e não
apenas pelos focos de incêndio e pela perda de uma safra. Na verdade, novas e
mais fortes secas e incêndios virão, se teimarmos seguindo pelo caminho de
agressão a natureza em busca de uma riqueza sem futuro. Precisamos mudar nossa
relação com a Mãe Terra se quisermos que ela apoie a nossa vida.
[conteúdo do programa de rádio de hoje, que pode ser acessado em www.fmclimaticas.org.br]
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