quarta-feira, 4 de maio de 2016

O DIREITO DOS ELEITORES EM RELAÇÃO ÀS PRÁTICAS DOS REPRESENTANTES

PODEM SENADORES MUDAR DE PARTIDO E DECIDIR APOIAR O IMPEACHMENT SEM CONSULTAR SEUS ELEITORES? POR OUTRO LADO, PODEM OS ELEITORES USAR DE VIOLÊNCIA CONTRA REPRESENTANTES QUE, EM SUA VISÃO, TRAÍRAM A RELAÇÃO CRIADA ATRAVÉS DO VOTO?

ESTE É O CONTEÚDO DO ARTIGO QUE SEGUE. COM CERTEZA, FAZ FALTA EM NOSSA CONSTITUIÇÃO MECANISMO JURÍDICO E POLÍTICO PARA GARANTIR O DIREITO DOS ELEITORES DE PEDIR DE VOLTA O VOTO DE CONFIANÇA DADO A SEUS REPRESENTANTES NOS CASOS GRAVES DE MUDANÇA DE POSIÇÃO E DE PARTIDO. SEM ISSO, OS REPRESENTANTES SE AFASTAM CADA VEZ MAIS DA FONTE DE SEU PODER TEMPORÁRIO, DECIDINDO A PARTIR DE SEUS INTERESSES PARTICULARES OU DE GRUPOS ECONÔMICOS DE QUE FAZEM PARTE OU A QUEM DEVEM FAVORES - COMO ESTÁ ACONTECENDO, COM EVIDÊNCIA ABSOLUTA, NAS PRÁTICAS DO CONGRESSO ATUAL, E NÃO APENAS EM RELAÇÃO AO IMPEACHMENT SEM CRIME DE RESPONSABILIDADE, MAS EM RELAÇÃO AO CÓDIGO FLORESTAL E MUDANÇAS DA CONSTITUIÇÃO... 

Votação do impeachment no Senado expõe cobranças e ressentimentos

martasuplicy
Ela tem um voto somente. Mas é a notícia em pessoa. (Foto: Agência Senado)
De escracho indevido contra Cristovam Buarque à perplexidade diante das novas companhias de Marta Suplicy, vive-se raro momento de memória em relação ao voto
Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
Diante do número superlativo de deputados na Câmara, e de uma certa amnésia coletiva em relação aos votos em 2014, está do lado côncavo do Congresso – o Senado – o acompanhamento mais estreito da posição e coerência dos parlamentares. Nos últimos dias, tanto Marta Suplicy como Cristovam Buarque foram alvo dessas cobranças de eleitores. Em alguns casos, abusivas. Em outros, não só legítimas, como saudáveis. Como se homenageássemos a democracia aos 43 minutos do segundo tempo de seu jogo de despedida.
A senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) costuma ser um mata-borrão de diatribes. Sejam da própria lavra, sejam contra ela. Até dramalhão familiar compõe a saga midiática da senadora, que pediu “respeito” ao ex-marido Eduardo Suplicy (PT-SP) após ele sugerir que ela consultasse os eleitores sobre seu voto – declarado – a favor do impeachment de Dilma Rousseff. (A palavra respeito vem do latim “respicere”, particípio passado de “respectus”. Significa “olhar outra vez”.)
Em nome do respeito ao voto, dezenas de mulheres fizeram neste domingo um ato em frente da casa da senadora, em São Paulo. Disseram que nunca votariam no PMDB (Marta foi eleita pelo PT). E deram este recado: “Marta, traidora! Somos mulheres brancas, negras, indígenas, jovens, velhas, filhas e avós. Travestis, lésbicas, bissexuais, transexuais. Estudantes e trabalhadoras. Somos todas feministas. Batemos em sua porta para lembrar sua história”.
Em Brasília, na fila de uma livraria, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) também ouviu gritos de “traidor“, no sábado. Neste caso, a atitude do eleitor lembra muito a violência fascista de manifestantes de direita que impediram Eduardo Suplicy de falar em São Paulo, na mesmíssima Livraria Cultura. (A cada vez que ouvem as palavras “livraria cultura” os intolerantes sacam suas pistolas.) Depois, Cristovam diria: “Episódios como esse acabam me empurrando em direção ao voto favorável pelo impeachment”.
E qual seria o limite entre um protesto legítimo e um escracho violento? O Levante Popular da Juventude tem feito protestos pelo país contra políticos que apoiam o impeachment, desde o dia 21 de abril – em referência a Tiradentes e ao traidor Joaquim Silvério dos Reis. Por exemplo, contra o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), o ex-governador mineiro que fez pedaladas fiscais e relata o processo contra Dilma Rousseff no Senado.
Coerência não é o forte dos políticos brasileiros. Mas não se trata somente de algo relativo à razão. Em alguns casos, salta aos olhos o ressentimento embutido nas posições adotadas. De Marta Suplicy a Cristovam Buarque, de Fernando Gabeira a Hélio Bicudo, multiplicaram-se nos últimos anos os políticos que estiveram nas fileiras petistas e hoje engrossam o coro a favor do impeachment de Dilma. Mesmo que este seja comandado por golpistas de quinta categoria.
E mesmo que Marta tenha de sorrir ao lado do deputado Paulinho da Força (PDT-SP), em pleno dia do trabalhador. Sob vaias. O que mostra como a política significa menos uma ladeira (no caso, uma ladeira abaixo) linear, entre uma posição e outra, e mais uma corda de equilibrista. O que afeta mais a senadora? A vaia ignóbil da Força Sindical na Praça Campo de Bagatelle, em Santana (não muito longe das senhoras de Santana) ou os rostos perplexos das feministas em frente de sua mansão nos Jardins? O Brasil e suas contradições.
Publicado em 2 de maio de 2016
http://outraspalavras.net/alceucastilho/2016/05/02/votacao-do-impeachment-no-senado-expoe-cobrancas-e-ressentimentos/

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