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AGROTÓXICOS
“O glifosato é o maior escândalo sanitário da história", diz documentarista
Marie-Monique Robin, que dirigiu "O mundo segundo a Monsanto", critica modelo baseado em veneno e monocultura
Resumen Latinoamericano/ La Mañana
Córdoba (ARG), 10 de Maio de 2016 às 11:38
Confira a íntegra do documentário ao final da entrevista / institutfrancais
A jornalista e documentarista francesa Marie-Monique Robin, autora do “O mundo segundo Monsanto”, esteve na cidade de Córdoba, no centro da Argentina, e visitou o acampamento de Malvinas Argentina, que resiste à instalação de uma empresa da Monsanto. Ela também conheceu o grupo de mães do bairro Ituzaingó, que lutam por justiça em relação aos casos de câncer na região que são atribuídos às fumigações.
Durante a sua estadia, Marie apresentou seu filme “Agroecologia: as coletas do futuro”, participou de uma roda de conversa na Universidade de Córdoba e declarou como testemunha da megacausa “La Perla”, em que se investigam delitos de lesa-humanidade durante a última ditadura na Argentina.
Em entrevista ao diário La Mañana, a jornalista opinou sobre o “modelo sojero” [termo usado para denominar o modelo de produção centrado no monocultivo de soja] e os impactos do uso de agrotóxicos na sociedade.
La Mañana - Após a visita ao acampamento Malvinas e o encontro com as Mães de Ituzaingó, que sensações você leva de sua visita a Córdoba?
Marie-Monique Robin - O que vejo é que a sociedade civil, os pesquisadores, os médicos e os cidadãos estão acordando da letargia que os acompanhava há 10 anos, quando vim fazer um documentário sobre o avanço da soja na Argentina. Naquele momento, ninguém se preocupava muito com o que estava se passando. Temos que levar em conta que em 2005, na Argentina, o cultivo de soja ocupava 16 milhões hectares. Hoje são 21 milhões [de hectares].
Quando estive com os vizinhos do bairro Malvinas, e as mulheres me diziam que tinham feito circular o documentário “A vida segundo a Monsanto”, me emocionei. Agora, acho que a luta tem que continuar. Gera-me muita dor olhar o estado em que se encontra o país, onde a poluição é muito forte e o glifosato está em todos os lados: na água, na chuva, no solo, nos alimentos…
Essa tomada de consciência de que está falando se aprofunda com a declaração da OMS [Organização Mundial de Saúde] de que o glifosato é cancerígeno…
A classificação da Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer (Iarc), que depende da OMS, é muito importante. Muitos não compreendem essa classificação, mas há três grupos, e o glifosato está no grupo 2. Significa que todos os estudos realizados em animais demonstraram que ele é cancerígeno. Isso é muito sério.
Normalmente, os governos proibiriam sua utilização. Atualmente, estou preparando um novo documentário sobre o glifosato e, entre suas características, ele é cancerígeno. Além disso, é um perturbador endógeno e atua como um hormônio. Por isso, há tantos casos de crianças que nascem com malformações congênitas e tantos abortos espontâneos. E, por último, o glifosato absorve os metais do corpo. Ou seja, por um lado te intoxica com metais pesados e, por outro, absorve os bons metais, como o ferro, que precisamos para ajudar a aumentar a imunidade do corpo.
Por isso, penso (e não sou a única) que o glifosato é o maior escândalo sanitário de toda a história da indústria química. Não é comum que um agrotóxico tenha todos esses efeitos. Depois da decisão da OMS, tomou-se a decisão de proibir sua venda livre na França, porque se utilizava glifosato até no quintal das casas.
É uma primeira etapa, mas estamos aguardando que se proíba absolutamente (como se fiz com o DDT), porque ele atua até em doses muito baixas. Há que erradicá-lo, porque não se pode controlar nem dosar.
A Argentina está preparada para dar esse passo e proibi-lo num futuro próximo?
As pessoas têm a consciência de que o modelo “sojero” e os transgênicos são um problema à saúde pública e à ecologia. Falta os governos criarem políticas ao respeito e, para isso, há que repensar as políticas de agricultura.
Dificilmente o glifosato será proibido de um dia para o outro. De todo jeito, encontrei com vários “sojeros” [produtores de soja] em Rosário que já não querem utilizá-lo, porque têm problemas com o mato resistente ao glifosato.
Eles também estão preocupados com a saúde, mas apontam que, para isso, faz falta apoio do setor público. Nos Estados Unidos, foi criada uma empresa para apoiar os “sojeros” que querem deixar os transgênicos. Será preciso aprender tudo de novo.
Por 20 anos, a única coisa que se fez foi fumigar, semear e coletar. Aliás, a maioria das pessoas que hoje estão vinculadas aos cultivos de soja não é formada por agricultores, mas empresários que não moram onde se fumigam. Quem tem que dar o primeiro passo para pôr um freio às fumigações com agrotóxicos: a Justiça ou o governo?
Os dois. Ambos são importantes porque é preciso acabar com o modelo. Tudo é importante: a pressão da sociedade civil, a Justiça que toma medidas para convencer os políticos que este modelo é um suicídio coletivo. É preciso pensar não só a curto prazo, mas também ao médio e longo prazo, porque neste momento o que está em risco é a soberania alimentar da Argentina. Hoje temos produtos de exportação que servem para alimentar animais de outros países, e não pessoas. Isso é vergonhoso.
Ultimamente surgiu uma movimentação de pequenos produtores que fomentam a alimentação orgânica, ainda que seja difícil ter acesso a eles e que o custo seja elevado.
Há muitas maneiras de ter acesso aos alimentos orgânicos. É uma questão de organização. Sempre falo que as alternativas existem, mas o consumidor tem um papel muito importante: tem que ser mais consciente do que está comendo e promover as hortas orgânicas, domiciliarias e comunitárias.
Esse é um movimento mundial que hoje em dia está crescendo. Na França, fomenta-se o cultivo em tetos e em terraços. Na Argentina, há um exemplo muito bom na cidade de Rosário [província de Santa Fé], mas o que vejo que aqui está em falta um Sistema de Certificação. Falam-me das feiras francas, mas a gente não sabe se efetivamente são alimentos orgânicos ou não. Por isso, é preciso trabalhar na certificação.
Assista o documentário "O Mundo segundo a Monsanto"
A jornalista e documentarista francesa Marie-Monique Robin, autora do “O mundo segundo Monsanto”, esteve na cidade de Córdoba, no centro da Argentina, e visitou o acampamento de Malvinas Argentina, que resiste à instalação de uma empresa da Monsanto. Ela também conheceu o grupo de mães do bairro Ituzaingó, que lutam por justiça em relação aos casos de câncer na região que são atribuídos às fumigações.
Durante a sua estadia, Marie apresentou seu filme “Agroecologia: as coletas do futuro”, participou de uma roda de conversa na Universidade de Córdoba e declarou como testemunha da megacausa “La Perla”, em que se investigam delitos de lesa-humanidade durante a última ditadura na Argentina.
Em entrevista ao diário La Mañana, a jornalista opinou sobre o “modelo sojero” [termo usado para denominar o modelo de produção centrado no monocultivo de soja] e os impactos do uso de agrotóxicos na sociedade.
La Mañana - Após a visita ao acampamento Malvinas e o encontro com as Mães de Ituzaingó, que sensações você leva de sua visita a Córdoba?
Marie-Monique Robin - O que vejo é que a sociedade civil, os pesquisadores, os médicos e os cidadãos estão acordando da letargia que os acompanhava há 10 anos, quando vim fazer um documentário sobre o avanço da soja na Argentina. Naquele momento, ninguém se preocupava muito com o que estava se passando. Temos que levar em conta que em 2005, na Argentina, o cultivo de soja ocupava 16 milhões hectares. Hoje são 21 milhões [de hectares].
Quando estive com os vizinhos do bairro Malvinas, e as mulheres me diziam que tinham feito circular o documentário “A vida segundo a Monsanto”, me emocionei. Agora, acho que a luta tem que continuar. Gera-me muita dor olhar o estado em que se encontra o país, onde a poluição é muito forte e o glifosato está em todos os lados: na água, na chuva, no solo, nos alimentos…
Essa tomada de consciência de que está falando se aprofunda com a declaração da OMS [Organização Mundial de Saúde] de que o glifosato é cancerígeno…
A classificação da Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer (Iarc), que depende da OMS, é muito importante. Muitos não compreendem essa classificação, mas há três grupos, e o glifosato está no grupo 2. Significa que todos os estudos realizados em animais demonstraram que ele é cancerígeno. Isso é muito sério.
Normalmente, os governos proibiriam sua utilização. Atualmente, estou preparando um novo documentário sobre o glifosato e, entre suas características, ele é cancerígeno. Além disso, é um perturbador endógeno e atua como um hormônio. Por isso, há tantos casos de crianças que nascem com malformações congênitas e tantos abortos espontâneos. E, por último, o glifosato absorve os metais do corpo. Ou seja, por um lado te intoxica com metais pesados e, por outro, absorve os bons metais, como o ferro, que precisamos para ajudar a aumentar a imunidade do corpo.
Por isso, penso (e não sou a única) que o glifosato é o maior escândalo sanitário de toda a história da indústria química. Não é comum que um agrotóxico tenha todos esses efeitos. Depois da decisão da OMS, tomou-se a decisão de proibir sua venda livre na França, porque se utilizava glifosato até no quintal das casas.
É uma primeira etapa, mas estamos aguardando que se proíba absolutamente (como se fiz com o DDT), porque ele atua até em doses muito baixas. Há que erradicá-lo, porque não se pode controlar nem dosar.
A Argentina está preparada para dar esse passo e proibi-lo num futuro próximo?
As pessoas têm a consciência de que o modelo “sojero” e os transgênicos são um problema à saúde pública e à ecologia. Falta os governos criarem políticas ao respeito e, para isso, há que repensar as políticas de agricultura.
Dificilmente o glifosato será proibido de um dia para o outro. De todo jeito, encontrei com vários “sojeros” [produtores de soja] em Rosário que já não querem utilizá-lo, porque têm problemas com o mato resistente ao glifosato.
Eles também estão preocupados com a saúde, mas apontam que, para isso, faz falta apoio do setor público. Nos Estados Unidos, foi criada uma empresa para apoiar os “sojeros” que querem deixar os transgênicos. Será preciso aprender tudo de novo.
Por 20 anos, a única coisa que se fez foi fumigar, semear e coletar. Aliás, a maioria das pessoas que hoje estão vinculadas aos cultivos de soja não é formada por agricultores, mas empresários que não moram onde se fumigam. Quem tem que dar o primeiro passo para pôr um freio às fumigações com agrotóxicos: a Justiça ou o governo?
Os dois. Ambos são importantes porque é preciso acabar com o modelo. Tudo é importante: a pressão da sociedade civil, a Justiça que toma medidas para convencer os políticos que este modelo é um suicídio coletivo. É preciso pensar não só a curto prazo, mas também ao médio e longo prazo, porque neste momento o que está em risco é a soberania alimentar da Argentina. Hoje temos produtos de exportação que servem para alimentar animais de outros países, e não pessoas. Isso é vergonhoso.
Ultimamente surgiu uma movimentação de pequenos produtores que fomentam a alimentação orgânica, ainda que seja difícil ter acesso a eles e que o custo seja elevado.
Há muitas maneiras de ter acesso aos alimentos orgânicos. É uma questão de organização. Sempre falo que as alternativas existem, mas o consumidor tem um papel muito importante: tem que ser mais consciente do que está comendo e promover as hortas orgânicas, domiciliarias e comunitárias.
Esse é um movimento mundial que hoje em dia está crescendo. Na França, fomenta-se o cultivo em tetos e em terraços. Na Argentina, há um exemplo muito bom na cidade de Rosário [província de Santa Fé], mas o que vejo que aqui está em falta um Sistema de Certificação. Falam-me das feiras francas, mas a gente não sabe se efetivamente são alimentos orgânicos ou não. Por isso, é preciso trabalhar na certificação.
Assista o documentário "O Mundo segundo a Monsanto"
Assista o documentário "O Mundo segundo a Monsanto"
Tradução: Maria Julia Gimenez
Tradução: Maria Julia Gimenez
Ivo, bom dia.
ResponderExcluirHá muita confusão no relato acima. O glifosato continua classificado pelas agências de risco do jeito que sempre foi, inclusive com atualizações recentes: ele tem uma pequena probabilidade de ser carcinogênico. O que aconteceu ano passado foi que um instituo de pesquisa julgou estar errada a classificação de risco. Acontece que os pesquisadores em geral não estão treinados para avaliação de risco que, embora dependa de ciência, tem sua metodologia própria. Então, para fins regulatórios, vale a opinião das agências de risco.
Sugiro que você leia com atenção o mecanismo de ação do glifosato e dos subprodutos gerados pela sua dregradação por plantas e microrganismos. Você vai perceber porque a probabilidade dele ser carcinogênico é muito remota,
Também pode ler a avaliação mais recente sobre os riscos do glifosato no site da EFSA, está tudo lá.
Cordialmente,
Paulo Andrade