quinta-feira, 1 de novembro de 2012

PELA CONVIVÊNCIA HUMANA COM A AMAZÔNIA

Estou novamente na Amazônia, em atividades realizadas em Manaus e Ji-Paraná, em Rondônia. Em Ji-Paraná estarei com pessoas que buscam aprofundar sua capacitação para a prática da cidadania, na Escola Fé e Política. Querem ser cristãos, e para isso, descobriram que precisam ser cidadãos mais ativos. A prática política, quando não reduzida aos jogos partidários e ao prazer do poder de dominação, pode ser, e deve ser, segundo o papa Paulo VI, a melhor forma da vivência da caridade - isto é, do amor humano movido pelo espírito divino na relação com as pessoas, a começar das mais empobrecidas e excluídas de oportunidades, e na relação com todos os demais seres vivos e com a própria Mãe Terra.

A outra atividade, em Manaus, tem a ver com a disposição de uma articulação voluntária e informal de entidades pastorais e sociais de atuar em conjunto em favor da Convivência com a Amazônia. Esta decisão se assenta em dois fundamentos:
- a convicção de que o projeto político dominante no bioma Amazônia está voltado exlusivamente para a promoção do crescimento econômico capitalista, e ele tem a ver com o processo acelerado de espoliação dos bens naturais existentes na região e de destruição do equilíbrio do bioma criado pela Terra;
- a certeza de que já existem neste mesmo bioma povos, comunidades tradicionais e setores populares da sociedade que estão construindo outro projeto de vida humana na região, que pode ser caracterizado como Projeto de Convivência com a Amazônia.

O que une estas entidades é o desejo de contribuir com tudo que são capazes para que este Projeto dos povos amazônidas seja mais conhecido e reconhecido como adequado para a continuidade da vida no bioma Amazônia. Para todos que desejam que não se repitam na Amazônia os processos destruidores que afetaram os demais biomas brasileiros, é urgente que os povos da Amazônia tenham condições de disputar politicamente com o projeto econômico dominante. Para isso, é necessário reforçar, na pratica e na consciência, o Projeto de Convivência com a Amazônia, e possibilitar que a organização destes povos tenha força política para convocar a maioria da população regional a apoiá-lo, libertando-se da dominação do corpo e da alma realizada pelo projeto capitalista.

Trata-se de uma utopia? Certamente. Mas ela é necessária para que se caminhe em sua direção, mesmo sabendo que nunca se alcançará sua realização plena. Como nos ensina o mestre Eduardo Galeano,
"a utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar." Para quem procura seguir com fidelidade a Jesus de Nazaré, esta prática esperançosa é essencial, pois a meta sociopolítica de sua prática e de seu Evangelho, e a que mais aproxima a realidade histórica ao Reino de Deus, é esta: que todas as pessoas tenham vida e vida em abundância. Isso já é tecnicamente possível, mas depende de indiganação organizada e de vontade política majoritária para exigir uma distribuição justa do que é produzido pelo trabalho humano, bem como a reconstrução de relações de Convivência adequada com cada bioma da Terra.

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