Quantos participantes da Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental serão pessoas afetadas por desastres socioambientais provocados pelas mudanças climáticas geradas pelo aquecimento global? Serão muitos, com certeza. A começar pelos membros dos povos indígenas que têm seus territórios na Cordilheira dos Andes, e que já sentem os efeitos do avanço constante do degelo das até pouco tempo "neves eternas". Haverá camponeses que convivem com secas e enchentes cada vez mais intensas e prolongadas. Entre os que vivem em cidades, muitos sofrem por causa de enchentes, desmoronamentos, que agravam a falta de habitação digna e a já precária condição de vida. Haverá certamente, junto com os que migram por causa da falta de terra e condições de trabalho e vida, migrantes e refugiados climáticos, expulsos de suas terras e até de seus territórios ou países por diferentes fenômenos climáticos extremos.
Entre os movimentos sociais brasileiros, fará parte da Cúpula dos Povos o MONADES - Movimento Nacional de Afetados por Desastres Socioambientais. É uma articulação recente e está em processo de consolidação. A oportunidade inicial para seu nascimento foi gestada pelo Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social, ao possibilitar um primeiro Seminário Nacional em setembro de 2011, e foi se consolidando no Seminário promovido pelo Conselho Federal de Psicologia em novembro do mesmo ano. A partir dai, uma comissão provisória vem dando os passos na direção de uma assembleia nacional, que será realizada nos primeiros dois dias da Cúpula dos Povos.
Haverá protagonistas mais autorizados para enfrentar as políticas governamentais e as práticas das grandes empresas capitalistas que agravam o já avançado desequilíbrio ecológico da Terra?
Se compreendermos que os membros do MONADES dão ao substantivo "afetados" um alcance que inclui as pessoas e comunidades que sofrem junto com os que foram diretamente "atingidos" por desastres, bem como as que se encontram em áreas de risco, que vivem na iminência de serem atingidos, os Afetados são, com certeza, os cidadãos e cidadãs portadores da crítica mais contundente, bem como da exigência de mudanças profundas no modo como estão organizadas as sociedades comandadas pelo mercado capitalista. Para começar, por terem perdido tudo, exigem o direito a um lugar, em terreno urbano ou em terra agrícola, colocando em questão o absoluto da propriedade privada capitalista, um princípio claramente discriminatório e elitista, que nega a igualdade real entre os membros da espécie humana.
Pode-se dizer, em resumo, que os Afetados por Desastres Socioambientais são os primeiros entre todos os "afetados pelo desastre socioambiental do capitalismo". Eles atestam com sua vida e sofrimento que aquecimento e mudanças climáticas não são ameaças futuras; são realidade atual, e em processo constante de agravamento. Por isso, a Cúpula dos Povos precisa assumir o grito dos Afetados, dando a ele foro político e alcance mundial, e assumir suas exigências de mudanças profundas já, mudanças no modo de produção e de consumo das sociedades capitalistas, e mudanças na destinação dos recursos públicos, exigindo que sejam priorizadas as atividades de produção que respondem às necessidades dos seres humanos e demais seres vivos e que são realizadas em cooperação com a Mãe Terra.
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