De toda forma, será a primeira prática de uma Cúpula, ou
Conferência, internacional autônoma em relação aos governos dos países que
constituem a ONU, e autônoma, por isso, em relação à própria ONU. Como as
decisões ou embromações da Rio+20 serão tomadas por representantes de governos
submetidos e a serviço dos grupos econômicos que controlam e usam do mercado
capitalista globalizado, é praticamente certo que nada de novo e sério será
definido, repetindo os circos a que foram reduzidas as muitas conferências realizadas
a parir de ECO´92. Se os avanços seguirem a lógica e os rumos das anteriores, a
Rio+20 promoverá a proposta de Economia Verde elaborada e vista como
indispensável pelas grandes corporações capitalistas. Será mais uma tentativa
de tapar o sol com a peneira: dizer que com a incorporação dos bens naturais ao
mundo das mercadorias será possível manter o crescimento econômico de forma
ambientalmente equilibrada.
Diante da constatação de que a ONU não consegue ser espaço
de articulação mundial independente dos grupos e países capitalistas
dominantes, não será tarefa e desafio da Cúpula dos Povos abrir um processo
constitutivo de uma Assembleia dos Povos permanente, democrática, sem donos?
Esse processo poderia ser realizado no período de um ano, com dinâmica e
metodologia participativa, encerrado com uma Cúpula dos Povos com o objetivo específico
de definir a missão, os princípios, os valores em que se fundará a Assembleia
Permanente dos Povos, bem como o planejamento inicial de suas ações e as
mediações organizativas necessárias.
Se a Cúpula dos Povos não assumir este desafio, quem dará
este passo absolutamente necessário para evitar que a humanidade siga para o
abismo criado e recriado pelo capitalismo liberal e neoliberal? Para quem leva
a sério o que já se conhece das causas e das conseqüências socioambientais do
aquecimento e das mudanças climáticas, é absolutamente urgente dar um passo
capaz de despertar o senso crítico e a esperança dos povos da Terra, gerando uma
energia política soberana capaz de exigir democraticamente as transformações
estruturais que devem ser feitas para reconstruir relações de cooperação e
cuidado com a Terra, única mãe da vida que conhecemos.
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