segunda-feira, 1 de agosto de 2011

VIDA PARA O CERRADO

O Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social realizou na semana passada, em conjunto com a Comissão Pastoral da Terra, um Seminário sobre a relação entre Mudanças Climáticas e o bioma Cerrado. Com participantes dos estados em que há Cerrado, todos constataram que a destruição das condições naturais deste bioma continua avançando a passos largos. E com isso, as possibilidades de vida humana se tornam mais críticas já nos próximas décadas.

A pesquisa tem demonstrado que o Cerrado é um bioma antigo, com mais de 70 milhões de anos. Por causa da relativa pobreza de seu solo, a cobertura vegetal desenvolveu estratégias de vida únicas: para cada centímetro de sua exposição externa, criou um enraizamento de dois; para cada metro de presença na atmosfera, dois metros escondidos no solo. E com um enraizamento formado por muitas raízes, da tal forma que foi transformando o solo em um tipo de esponja, capaz de guardar água das chuvas, possibilitando que escorressem lentamente aos veios da terra, alimentando lençóis freáticos e aquíferos mesmo no período anual em que não chove; possibilitando que seja fornecedor gratuito de água para os demais biomas.

Como se sabe, a Terra é um organismo vivo e fonte de vida. Surge daí a pergunta: quais serão as respostas da Terra à ação humana que modificou, em pouco mais de 30 anos, em torno de 80% do que a Terra levou 70 milhões de anos para construir na forma de Cerrado?!

De algumas coisas já se tem notícias: córregos e até rios estão secando; a temperatura dá sinais de aquecimento; a imprevisão das chuvas aumenta; solos já parecem desertificados; a umidade do ar diminui. Mas a teimosa decisão dos proprietários, das empresas e dos políticos de tirar o máximo proveito do Cerrado para seu enriquecimento continua firme. Presos ao curto prazo e ao desejo de lucros e poder crescentes, estão cegos e surdos em relação aos sinais de que sua teimosia pode levar seus negócios e toda a população da região ao desastre. E para justificar-se contam, infelizmente com a colaboração de alguns técnicos que elaboram textos carregados de equívocos, mas que são aceitos como "científicos".

O que foi assumido pelos participantes como compromisso foi: trabalhar a consciência crítica da população do Cerrado; promover alternativas adequadas de convivência e recuperação deste bioma; reforçar a luta pelo reconhecimento constitucional do Cerrado como patrimônio nacional; e gestar iniciativas para que a população brasileira se dê conta dos prejuízos que terá com a destruição do Cerrado, pois deixará de ser fornecedor gratuito de água para grande parte das bacias hidrográficas de todas as regiões, e passe a reforçar as lutas que visam o fim imediato da sua destruição e a implementação de iniciativas que tornem possível sua recuperação em tudo que for ainda possível.

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