quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

POVO GUARANI: VÍTIMA DE GENOCÍDIO

Alegro-me com o tom incisivo do posicionamento da CNBB em solidariedade com os povos Guarani e Kaiowá do Mato Grosso do Sul. "Consternada pelo vil assassinato do cacique Nísio Gomes e pelo sequestro de dois adolescentes e uma criança no dia 18 de novembro no acampamento Tekoha Guairiry", junto com a afirmação de "a ninguém, muito menos ao Estado, é permitido assistir passivamente a barbáries como essa", ela afirma: "é imprescindível tomar com urgência todas as medidas para impedir que esta absurda violência continue a ceifar vidas".

Para fundamentar sua exigência de medidas concretas em defesa dos direitos dos povos agredidos, ela lembra que, "para além de declarações oficiais de solidariedade, o momento e as circunstâncias exigem ações concretas, do contrário, pode-se estar contribuindo para a morte de um povo por omissão ou negligência. O não cumprimento dos parâmetros constitucionais, nesse caso, configura-se como genocídio".

O desafio está lançado: ou o governo abandona seu tradicional jogo de dar impressão que ouve os clamores do povo, sem ser eficaz nas ações, ou entrará na história como genocida. Estou pessoalmente envergonhado por presenciar práticas que julgava típicas do passado colonial: a invasão, saque e apropriação dos territórios de cada povo indígena, e agora com um agravante que, uma vez mais, revela o caráter de classe da democracia existente no país:  sem que o Estado, através de todas as suas instituições, defenda os seus direitos constitucionais. Ao omitir-se, age, na verdade, em favor dos agressores e assassinos. Ao contrário do que vai acontecendo na Bolívia, ainda impera entre nós o secular decreto de extermínio dos povos indígenas.

Em minha visão, a violência racista e genocida praticada pelos pretensos grandes proprietários das terras indígenas do Mato Grosso do Sul, e também em outros estados, não tem como motivação apenas o tradicional interesse de crescimento econômico; o que esses ladrões de terra não toleram é a presença de povos que conviveram de forma diferente com a Terra durante milênios, e que, agora, se apresentam como alternativa ao agronegócio, denunciando-o como uma das causas do aumento da temperatura da Terra e do agravamento das mudanças climáticas. E o governo federal, com tem origem em processos sociopolíticos populares, por que se acovarda diante da violência do agronegócio? Isso não teria origem em sua teimosa redução do desenvolvimento ao crescimento econômico a qualquer custo, inclusive com sacrifício dos direitos dos povos indígenas, bem como das comunidades quilombolas e demais comunidades tradicionais, e dos direitos da Terra, isto é, do seu direito de em relação aos bens naturais que constituem o bem comum da humanidade e de todos os seres vivos?

O Brasil é um país privilegiado em relação a fontes mais limpas de energia, a água, a espaços e conhecimentos técnicos para produzir alimentos agroecológicos, a possibilidades de economia solidária em todos os âmbitos da vida e da geração de renda, a riquezas e criatividades culturais e espirituais. O que falta ao Brasil é a coragem de romper com uma civilização centrada numa economia capitalista que agride a Terra e concentra renda e riqueza, transforma tudo em mercadoria e gera, por isso, pobreza e miséria e provoca graves mudanças climáticas. O que nos falta é um processo educativo e mobilizador das energias da grande maioria do povo brasileiro em favor do que deve ser mudado para que todas as pessoas, bem como a Terra, possam viver e conviver em harmonia.

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