Estou em São Paulo para mais um dos Seminários promovidos pelo Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social em todas as regiões do Brasil. Neste ano, já aconteceu um em Petrolina, PE, aprofundando a temática Mudanças Climáticas e Bioma Caatinga. Dentro de uma semana, novo Seminário será realizado em São Paulo, abordando a relação entre a realidade das metrópoles e as mudanças climáticas. O que inicia hoje abordará mais a realidade do interior paulista, enfrentando a relação entre mudanças climáticas e agronegócio.
Seria injusto dizer que só existe agronegócio no interior de São Paulo. Há muita agricultura camponesa familiar, seja nas áreas conquistadas de reforma agrária, seja no setor de produção de hortaliças. Na verdade, o que o agronegócio produz dos alimentos dos paulistas e paulistanos? Quase nada! Os alimentos, como no restante do país, são cultivados em pequenas unidades, geralmente familiares. Infelizmente, não todas elas cultivam a terra com visão e cultura agroecológicas, mesmo sabendo que também esta agricultura está crescendo. De toda maneira, é pequena a contribuição deste setor agrícola ao processo de aquecimento do planeta, que causa mudanças climáticas cada dia mais extremas.
Não se pode dizer a mesma coisa do agronegócio paulista e brasileiro. Pelo contrário, toda sua forma de relação com a terra, toda sua submissão à agroindústria, todo seu método de monocultura extensa e de agricultura química, toda sua paixão pela produção e venda de commodities no mercado globalizado... tudo isso faz do agronegócio uma agressão ao meio ambiente, pois contamina os solos, os lençóis freáticos e os aquíferos, os córregos e rios, a atmosfera, os produtos e todos que com eles se alimentam. Basta ter presente o seu absurdo orgulho de transformar o Brasil em campeão de consumo de agrotóxicos! São principalmente os agentes do agronegócio, dos grandes laboratórios e da agroindústria os que fazem que cada brasileiro consuma por ano, em média, 5,2 quilos de agrotóxicos, como denuncia a campanha contra os agrotóxicos promovida por movimentos sociais. E faz que esse tipo de agricultura e de pecuária sejam grandes produtores e emissores de metano e de óxido nitroso, dois dos gases de efeito estufa da Terra, agravando o aquecimento e as mudanças climáticas.
Espero que o Seminário ajude a tomar consciência de que há muito a ser mudado na região de São Paulo se quisermos que a Terra tenha condições de se refazer de nossas agressões. Não bastará, contudo, mudar o tipo de agricultura, de pecuária ou de propriedade da terra agrícola. Isso é necessário, mas será preciso que seja parte de uma mudança mais profunda, que atinja a medula dos ossos, como desejava Che Guevara através da promoção do socialismo defendido por ele, bem latino-americano. A meta necessária é uma transformação cultural e civilizacional, que nos leve a mudar o modo de pensar, de sentir, de produzir, de consumir, de ser.
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