Judiciário, o mais reacionário dos poderes brasileiros
Roberto Malvezzi (Gogó)
Desde a década de 80, pelo trabalho na Comissão Pastoral da Terra, temos
nos defrontado com o poder Judiciário Brasileiro. E praticamente só
temos más recordações. De 1985 a 2016 foram registrados 1834
assassinatos no campo, somente 112 foram levados a julgamento
e, desses, somente 31 mandantes foram condenados e oito já foram soltos
(Banco de Dados da CPT).
O Barão de Jeremoabo, escravista, tão autoritário quanto sagaz,
adaptando Maquiavel à realidade sertaneja de seu tempo, já dizia: “aos
amigos tudo, aos inimigos a lei”.
O Judiciário Brasileiro é o mais classista e reacionário dos poderes
brasileiros. Aqui pelo Nordeste, além de prefeitos, deputados,
senadores, governadores, as famílias tradicionais sempre controlaram o
judiciário com seus advogados, juízes, desembargadores
e ministros. Portanto, um instrumento de preservação do poder das
classes dominantes.
Hoje, com concurso para ingressar na carreira, temos alguns juízes que
vieram de outros extratos sociais, mas continuam exceções. A única
instância do Judiciário mais próxima dos trabalhadores era a Justiça do
Trabalho, exatamente por isso está sendo extinta.
Aprendemos rapidamente que quem faz as leis é o poder econômico, embora
sob a máscara do Legislativo. Mas, também, “quem aplica a lei é o juiz”.
Numa cidade, a maior autoridade é o juiz. Se ele decidir lhe prender
arbitrariamente, você não tem a quem recorrer,
a não ser a instâncias superiores, espaço de seus amigos e colegas. Por
isso, nosso povo morre de medo dos juízes. Somos capazes até de
questionar Deus, mas não o juiz.
Esse poder de aplicar a lei ficou evidente agora no julgamento de Lula
no TRF4. O caso de Lula passou à frente de 257 outros casos que estavam
pendentes. O desembargador quis, funcionou.
Além do mais, o Judiciário é uma casta de privilegiados. Não são
eleitos, são inalcançáveis para o cidadão comum e ganham nababescamente.
O salário de cada um dos juízes que condenou Lula ultrapassa 30 mil
reais líquidos (bruto chega a 40 ou até 50 mil reais),
muitas vezes ultrapassando esse teto. Portanto, com essa remuneração,
em dez meses qualquer um deles pode comprar um tríplex que a OAS teria
dado a Lula.
Enfim, precisamos saber que atravessamos um golpe de estado, não um
passeio na praia no final de semana. Porém, está claro que já passou da
hora de montarmos uma estratégia de desmascaramento do judiciário, assim
como fazemos com os outros poderes. Caso contrário,
sempre estaremos a mercê de suas arbitrariedades.
OBS: Rosângela Morro celebrou o impedimento de Lula ir à Etiópia para um evento da FAO de combate à fome com a seguinte frase:
“A liberdade tem limites que a Justiça impõe”.
Acontece que o programa brasileiro de combate à fome é referência no
mundo, assim como o do combate à sede construído aqui no Nordeste pela
Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA). Aqui reside o abismo que nos
separa, isto é, enquanto algumas pessoas estão
preocupadas em resolver a fome e a sede no mundo, outras celebram o
boicote em nome da lei e da justiça.
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