terça-feira, 18 de janeiro de 2022

 


Bilionários: o que os gera, como suprimi-los

Oxfam aponta: nova classe multiplicou sua riqueza durante a pandemia, favorecida por incentivos públicos aos mercados financeiros. Mas tudo pode ser revertido; sociedades e Estados têm meios para redistribuir riqueza e garantir direitos sociais

Imagem: Luke Barosky

Os dez homens mais ricos do mundo mais que dobraram suas fortunas, de US$ 700 bilhões para US$ 1,5 trilhão – a uma taxa de US$ 15 mil por segundo, ou US$ 1,3 bilhão por dia – durante os dois primeiros anos da pandemia de Covid-19. Por outro lado, a renda de 99% da humanidade caiu e mais de 160 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza, segundo o Banco Mundial.

“Se os 10 homens mais ricos do mundo perdessem 99,99% de sua riqueza amanhã, eles continuariam mais ricos do que 99% de todas as pessoas do planeta”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil. “Eles têm hoje seis vezes mais riqueza do que os 3,1 bilhões mais pobres do mundo.”

No Brasil, são 55 bilionários com riqueza total de US$ 176 bilhões. Desde março de 2020, quando a pandemia foi declarada, o país ganhou dez novos bilionários. O aumento da riqueza dos bilionários durante a pandemia foi de 30% (US$ 39,6 bilhões), enquanto 90% da população teve uma redução de 0,2% entre 2019 e 2021. Os 20 maiores bilionários do país têm mais riqueza (US$ 121 bilhões) do que 128 milhões de brasileiros (60% da população).

Imagem: Oxfam Brasil

“É inadmissível que alguns poucos brasileiros tenham lucrado tanto durante a pandemia quando a esmagadora maioria da população ficou mais pobre”, afirma Maia. “Milhões de brasileiros sofreram com a perda de emprego e renda, enfrentando uma grave crise sanitária e econômica.”

O relatório Desigualdade Mata, que a rede Oxfam lança hoje às vésperas do Fórum Econômico Mundial em Davos (Suíça), revela que as desigualdades estão contribuindo para a morte de pelo menos 21 mil pessoas por dia, ou uma pessoa a cada quatro segundos. Esta é uma conta conservadora, baseada nas mortes globais provocadas pela falta de acesso à saúde pública, violência de gênero, fome e crise climática.

A riqueza dos bilionários aumentou mais durante a pandemia de Covid-19 do que nos últimos 14 anos. Os US$ 5 trilhões são o maior acúmulo na riqueza dos bilionários desde que esses dados começaram a ser monitorados. Um imposto único de 99% sobre os ganhos obtidos pelos dez maiores bilionários do mundo durante a pandemia poderia, por exemplo, pagar por:

  • Vacinas suficientes para toda a população do mundo;
  • Providenciar saúde pública universal e proteção social;
  • Financiar ações de adaptação climática; e,
  • Reduzir a violência de gênero em mais de 80 países.
  • E esses dez bilionários ainda seguiriam com US$ 8 bilhões a mais do que tinham antes da pandemia.

“Ainda que os governos tenham injetado US$ 16 trilhões do nosso dinheiro nas economias dos países para salvar vidas e empregos, boa parte desses recursos acabaram nos bolsos dos bilionários, devido às grandes altas no mercado de ações. As vacinas deveriam acabar com a pandemia, mas a desigualdade na sua distribuição concentrando doses nos países mais ricos, está deixando milhões sem acesso. O resultado é que diferentes tipos de desigualdades devem aumentar no mundo. Estamos perdendo nossa humanidade de forma acelerada ao normalizar desigualdades extremas”, diz Maia.

As desigualdades extremas são uma forma de violência econômica, em que políticas públicas e decisões políticas que perpetuam a riqueza e o poder de um pequeno grupo de privilegiados, continuem a prejudicar a maioria das pessoas pelo mundo, além do próprio planeta.

  • A miséria e a fome explodiram no Brasil durante a pandemia. Em dezembro de 2020, 55% da população brasileira se encontrava em situação de insegurança alimentar (116,8 milhões, o equivalente à soma das populações de Alemanha e Canadá) e 9% se encontravam em situação de fome (19,1 milhões, superior à população dos Países Baixos). Trata-se de um retrocesso aos patamares verificados em 2004. O vírus da fome afeta mais duramente mulheres e pessoas negras no Brasil11,1% dos lares chefiados por mulheres e 10,7% dos chefiados por pessoas negras estavam passando fome no fim de 2020, frente a 7,7% dos lares chefiados por homens e 7,5% dos lares liderados por pessoas brancas.
  • A pandemia atingiu grupos raciais de maneira desigual. Durante a segunda onda da pandemia na Inglaterra, pessoas provenientes de Bangladesh tinham cinco vezes mais chances de morrer de Covid-19 do que a população branca britânica. Nos Estados Unidos, 3,4 milhões de pessoas negras poderiam estar vivas hoje se suas expectativas de vida fossem iguais às de pessoas brancas. Mesmo com o avanço recente da vacinação no Brasil, resultado de um sistema universal de saúde cujo papel foi fundamental na resposta à pandemia (mesmo sob um governo que minimiza a doença), a maior parte das mortes de Covid-19 seguem se concentrando nas periferias de grandes cidades. Segundo a OCDE, no Brasil pessoas negras tem 1,5 vezes mais chances de morrer de Covid-19 do que pessoas brancas, um risco letal agravado que se verifica até no topo da pirâmide social. Isso tem relação direta com o racismo histórico e colonialismo.
  • A desigualdade entre países deve aumentar pela primeira vez em uma geração. Países em desenvolvimento, que tiveram acesso negado às vacinas devido à proteção dos monopólios das corporações farmacêuticas por parte dos governos dos países ricos, foram forçados a cortar gastos sociais à medida que seus níveis de endividamento aumentaram, e agora enfrentam severas medidas de austeridade.
  • A proporção de pessoas com Covid-19 que morrem devido à doença em países em desenvolvimento é quase o dobro do total dos países ricos.

Apesar do alto custo de enfrentar a pandemia, nos últimos dois anos os governos de países ricos não conseguiram aumentar impostos sobre a riqueza dos mais ricos e continuam a privatizar bens públicos como a ciência das vacinas. Eles encorajaram os monopólios de corporações farmacêuticas de tal maneira que o aumento da concentração de mercado no período da pandemia pode ser maior do que a ocorrida entre 2000 e 2015.

A desigualdade está também no coração da crise climática, já que o 1% mais rico do mundo emite mais do que o dobro de CO2 do que os 50% mais pobres do mundo, intensificando as mudanças climáticas em 2020 e 2021, o que contribuiu para grandes incêndios florestais, enchentes, tornados, secas e fome.

“As desigualdades têm solução, porque elas são fruto de escolhas políticas. Do jeito que a economia global está estruturada, os mais ricos continuarão se beneficiando e lucrando, enquanto bilhões de pessoas – principalmente mulheres e população negra e de etnias minoritárias – ficarão no final da fila, sujeitas à pobreza extrema, violência e morte”, afirma Maia.

A Oxfam recomenda que os governos:

  • Recuperem os ganhos obtidos pelos bilionários durante a pandemia tributando essa enorme nova riqueza por meio de impostos sobre o capital;
  • Invistam os trilhões que podem ser arrecadados com essas taxas em saúde pública universal e proteção social, adaptação climática e prevenção contra violência de gênero;
  • Enfrentem leis sexistas e racistas que discriminam mulheres e diferentes grupos raciais e étnicos, e crie novas leis de igualdade de gênero para acabar com a violência e a discriminação;
  • Acabem com leis que minam os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras se sindicalizarem e fazerem greve, e estabeleçam padrões legais mais robustos para sua proteção.

Fontes: onde são obtidos os dados desta matéria

Os cálculos da Oxfam são baseados nas fontes mais atuais e abrangentes disponíveis: 

Os dez mais ricos do mundo

Os dados sobre os mais ricos do mundo vêm da lista de bilionários da revista Forbes 2021. Os dados sobre a parcela de riqueza vêm do Global Wealth Databook 2021 do Instituto de Pesquisa do Credit Suisse. Os dados sobre os ganhos dos 99% da população global são do Banco Mundial.

De acordo com a Forbes, as dez pessoas mais ricas do mundo viram suas fortunas aumentarem em US$ 821 bilhões entre março de 2020 e 30 de novembro de 2021. Os dez homens mais ricos do mundo são: Elon Musk, Jeff Bezos, Bernard Arnault & família, Bill Gates, Larry Ellison, Larry Page, Sergey Brin, Mark Zuckerberg, Steve Ballmer and Warren Buffet.

Desigualdade e gênero

De acordo com o ‘Global Gender Gap Report 2021’, a pandemia ampliou o fosso de paridade de gênero de 99 anos para 135 anos.

A crise do covid-19 custou às mulheres pelo mundo uma perda de renda de pelo menos US$ 800 bilhões em 2020, o equivalente a mais do que o PIB combinado de 98 países do mundo. Além disso, 67 mil mulheres morrem todos os anos devido à mutilação genital feminina e assassinadas por seus ex ou atuais parceiros.  

Desigualdade e raça

De acordo com o England’s Office of National Statistics, durante a segunda onda da pandemia na Inglaterra, pessoas com origem em Bangladesh tinham cinco vezes mais chances de morrer do covid-19 do que a população branca britânica.

De acordo com a OCDE, pessoas negras no Brasil têm uma vez e meia mais chance de morrer de covid-19 do que as pessoas brancas do país.

Nos Estados Unidos, 3,4 milhões de negros poderiam estar vivos hoje se sua expectativa de vida fosse igual a das pessoas brancas.

Desigualdade e mudanças climáticas

O 1% mais rico do mundo é responsável por mais do que o dobro da emissão de CO2 do que 3,1 bilhões de pessoas que estão na metade mais pobre durante um período crítico de 25 anos de aumento sem precedentes de emissões.

A pegada de carbono do 1% mais rico do mundo será 30 vezes maior do que o nível compatível com a meta global de 1,5°C estabelecida no Acordo de Paris para 2030. A metade mais pobre da população global ainda emitirá bem menos do nível estabelecido.

Impostos sobre grandes fortunas

Apesar das recomendações expressas do FMI e OCDE, poucos países ricos têm intenção de introduzir ou aumentar impostos sobre riqueza.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

MUITA ESTUPIDEZ E POUCA INTELIGÊNCIA CONDENAM O BRASISL

 O Brasil não tem salvação: é muita estupidez e pouca inteligência

Roberto Malvezzi (Gogó)

O que era uma piada do Papa Francisco, agora virou profecia. Não pela cachaça, nem pela pouca oração, mas pelo tamanho da estupidez que tomou conta do Brasil.

O relatório do IPCC nos diz que já estamos mergulhados nas mudanças climáticas: secas, enchentes, ondas de calor, ondas de frio, furacões, tempestades, com o consequente impacto nas comunidades e países mais pobres e vulneráveis, com aumento de doenças, fome, sede e miséria. O que antes era esperado para o fim do século, depois para a metade do século, agora já se confirma e deve chegar ao ápice já em 2030.

O `Pantanal já perdeu 75% de suas águas desde 1985. Uma grande vitória do agronegócio brasileiro, com sua soja, seu milho, seu gado e todas as suas monoculturas. 

No geral o Brasil perdeu 15% de suas águas doces em 30 anos. Vitória complementar dos devastadores da Amazônia e do Cerrado. A Mata Atlântica já tinha sido destruída. E Caatinga vai sendo destruída a conta gotas, assim como cada gota de chuva que cai sobre nós.

O desmatamento da Amazônia cresceu 51% em relação ao mesmo período anterior. Portanto, a política de devastação de Bolsonaro/Sales vai atingindo plenamente a sua meta, mas o processo já vinha desde a década de 70 do século passado com a ocupação da Amazônia nos padrões de desenvolvimento do Regime Civil-Militar. 

Um deserto do tamanho da Inglaterra avança sobre o Semiárido Brasileiro. Resultado do desmatamento para a agricultura e pecuária extensivas. Cerca de 13% do território do Semiárido já estaria desertificado e a perspectiva é de ampliação desse processo de extinção da vida, segundo o mesmo IPCC (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-58263344).

A maior seca dos últimos 91 anos se abate sobre a região Sudeste e os sulistas e sudestinos insistem em levar seu modelo de desenvolvimento para a Amazônia, para o Pantanal, para o Cerrado e para o Oeste Baiano.

Um Senhor de cabeça branca, vice-governador da Bahia, em um vídeo exalta uma empresa no Oeste Baiano por “suprimir a vegetação de 25 mil hectares” e implantar um projeto de irrigação no município de Barra, onde estão os Brejos, verdadeiros “oásis” em território brasileiro.

Hoje se fala em múltiplas inteligências, inclusive a emocional. Olhe para o presidente da República e dê uma nota de zero a dez para sua inteligência emocional, sem falar na capacidade de raciocínio. 

Para completar, cinco ex-presidentes vão perguntar aos generais se eles estão querendo dar um golpe ditatorial no Brasil. É o avesso do avesso, do avesso, do avesso.

Parafraseando o Papa Francisco, o Brasil não tem salvação, é muita estupidez e pouca inteligência.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

O "PÃO" QUE BOLSONARO AMASSOU

 O pão que Bolsonaro amassou

Roberto Malvezzi (Gogó)

As Pastorais do Campo sabem muito bem por qual razão o governo federal colocou um jagunço armado em homenagem ao Dia do Agricultor. Porque é assim que o agronegócio trata quem lhe atravessa pela frente, seja posseiro, quilombola, índio ou pequeno agricultor. Nossas estatísticas de assassinatos e conflitos no campo, registrados desde 1985, são também um retrato da violência contra o povo do campo por quem é pop, tech e fogo.

Informações atuais dizem que o agronegócio brasileiro produz comida suficiente para alimentar 1,6 bilhão de pessoas no mundo. Os números são um espanto!

Entretanto, outras informações nos dizem que o Brasil atual tem 110 milhões de pessoas em insegurança alimentar, isto é, não sabem se comem a cada dia e não têm garantia de ter os nutrientes necessários para alimentar uma pessoa. Pior, 26 milhões estariam na miséria absoluta, situação de fome.

Esse é o Brasil dos ufanistas e esse é o Brasil real. Facilmente se esconde a realidade trágica de milhões de famílias atrás de estatísticas e números, mesmo que outros números digam exatamente o contrário do que alardeiam.

Matérias de jornal dizem que o povo faz filas para comprar um osso no Mato Grosso, onde existem dez cabeças de vaca para cada ser humano. Mas, que nada, não existe paradoxo e estamos felizes nessa ilha de prosperidade chamada Brasil.

Fui ver o IDH de Cuba comparado ao Brasil. Pois bem, a ilha tem um Índice de Desenvolvimento Humano (0,783 em 2019) superior ao do Brasil (0,765 em 2019). E o IDH é um índice formulado pela ONU. Até a Renda per Capita de Cuba, pasmem, é superior à Brasileira: 8.821,82 USD (2018) de Cuba e a do Brasil 8.717,19 USD (2019). O problema é que lá essa renda é melhor distribuída e no Brasil ela é concentrada.

Então, a tal ilha comunista, pobre, que dizem miserável, tem educação, longevidade e renda per capta superior a essa maravilha capitalista chamada Brasil. Uruguai, Argentina e Chile também estão melhores que o Brasil em seu IDH.

O fato é que a fome voltou ao Brasil com a voracidade de séculos passados, para desespero de Dom Hélder Câmara, Betinho, Josué de Castro e nosso também.

Estamos comendo o pão que Bolsonaro amassou e não amassou sozinho.

quarta-feira, 21 de julho de 2021

SORAIA MENDES: CANDIDATA ALTERNATIVA AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

 MARAVILHOSA CARTA DE SORAIA MENDES AO APRESENTAR SUA CANDIDTURA. MERECE TODO O APOIO POSSÍVEL DE TODAS AS PESSOAS QUE AMAM O DIREITO E A DEMOCRACIA.

https://www.cartacapital.com.br/politica/contra-andre-mendonca-jurista-soraia-mendes-se-candidata-ao-stf/?utm_campaign=novo_layout_newsletter_-_21072021&utm_medium=email&utm_source=RD+Station 

CAMPANHA CONTRA O 'TERRIVELMENTE EVANGÉLICO'

Contra André Mendonça, jurista Soraia Mendes se candidata ao STF

Se nomeada, a pesquisadora seria a 1ª mulher negra a atuar como ministra da mais alta Corte do País

 por VICTOR OHANA 20 DE JULHO DE 2021 - ... Leia mais em https://www.cartacapital.com.br/politica/contra-andre-mendonca-jurista-soraia-mendes-se-candidata-ao-stf/?utm_campaign=novo_layout_newsletter_-_21072021&utm_medium=email&utm_source=RD+Station. O conteúdo de CartaCapital está protegido pela legislação brasileira sobre direito autoral. Essa defesa é necessária para manter o jornalismo corajoso e transparente de CartaCapital vivo e acessível a todos

segunda-feira, 19 de julho de 2021

PERIGO: FAZER DA PARÓQUIA UM INFERNO!

 Quando a paróquia vira um inferno!

Roberto Malvezzi (Gogó)

Um dos demônios alimentados pelos fundamentalistas religiosos é que nos países comunistas não há liberdade religiosa. Lá seriam proibidas missas, celebrações, procissões, assim por diante. Aqui, no Brasil, muito pelo contrário, a liberdade religiosa é total e completa.

Talvez, se fôssemos perguntar aos terreiros de candomblé e outras expressões religiosas de origem africana, eles nos diriam que nem sempre têm liberdade religiosa. Antigamente a Igreja Católica se sentia no direito de perseguir os cultos afros no Brasil, até pichados como coisas do demônio. Na verdade, foi um comunista chamado Jorge Amado que introduziu na Constituição Brasileira de 1946 a liberdade religiosa para os cultos afros. Hoje, muitos pastores e igrejas evangélicas se sentem no direito de perseguir os cultos afros.

O mesmo com os povos indígenas. Como me dizia um jovem indígena num dos preparativos do Sínodo para a Amazônia: “o pastor vai lá na tribo, a gente o acolhe bem, ele diz que nossa religião é coisa do demônio. A gente escuta, quando ele vai embora, a gente faz os nossos ritos”.

Mas, alguma coisa de pior está acontecendo. A Paróquia da Paz, em Fortaleza, está sendo invadida por “católicos” durante as celebrações, que se sentem no direito de berrar, atacar o padre, criar confusão e divisão durante a própria celebração da Eucaristia. Não são os perseguidores dos cultos afros e nem dos índios, são católicos, os que se julgam verdadeiros intérpretes do Evangelho e da doutrina da Igreja Católica. Não são comunistas, muito ao contrário, são militares, defensores da pátria, da família, dos “Deus acima de todos”, inclusive da liberdade religiosa. Enfim, são os bolsonaristas, os fascistas de estilo brasileiro.

Assim será se permitirmos que se instale no Brasil uma ditadura religiosa, uma teocracia, sempre a pior de todas as ditaduras, porque feitas em nome de Deus, ou o tal do “cristofascismo”. Sei lá o que quer dizer “terrivelmente evangélico”, ou “terrivelmente católico”, o certo é que que estas pessoas se sentem no direito de infernizar a vida dos outros, de ofender o Papa Francisco, ofender padres, bispos e leigos que tem um mínimo de fidelidade ao Evangelho. Enfim, querem impor suas ideias religiosas ao resto do país na estupidez e brutalidade.

Ou esse país acorda, ou até nossas paróquias e comunidades vão se tornar um inferno.

Toda solidariedade aos padres Lino, Ermanno e Luís Sartorel, italianos no Brasil, nossos amigos desde a década de 80, que saíram do conforto do primeiro mundo para estar a serviço dos setores mais descartados da sociedade brasileira.

quarta-feira, 7 de julho de 2021

O QUE O PERÍODO BOLSONARO PODE NOS AJUDAR?

 

Roberto Malvezzi (Gogó)

Em primeiro, um alerta aos ingênuos e mal-intencionados: quem muito fala de corrupção pode ser tão ou mais corrupto que aqueles que denuncia. Falamos de corrupção no sentido amplo, “cor ruptum”, coração rompido. Prestem atenção em Moro, Dallagnol e Bolsonaro.

Segundo, a pior das democracias sempre é melhor que qualquer ditadura. Se a ilusão com as ditaduras for derrotada nesse momento, será um grande saldo positivo dessa tragédia.

Terceiro, boa parte dos militares que foi ao poder logo mostrou toda sua ganância por propinas e corrupção. Que se acabe de uma vez por todas o mito que militar é sinônimo de incorruptibilidade. Bolsonaro é o ícone maior dessa ilusão.

Quarto, todas as vezes que os militares saíram de sua tarefa constitucional e foram para a política, foi uma tragédia nacional. Dessa vez não foi diferente. No poder político, muitos se mostraram eticamente falhos, politicamente comprometidos com ditaduras, e tecnicamente uma lástima, como é o caso do especialista em logística. Quem sabe dessa vez os militares aprendam que não têm que se meter em política.

Quinto, a elite só é contra a corrupção dos pobres, não contra a própria. Em outras palavras, a corrupção também é propriedade privada das elites. Aqueles que querem mudar esse país também devem aprender essa lição.

Sexto, a destruição do Estado Brasileiro é, na verdade, um ataque aos bens comuns, é a destruição de uma legislação que garante direitos básicos à população e a proteção do ambiente. A elite nunca erra seu voto e sempre promove a luta de sua classe, sempre protege seus interesses, por mais mesquinhos e nefastos que sejam.

Sétimo, dessa vez não conseguiram corromper e cooptar todas as instituições brasileiras de peso. A Lava-Jato mexeu nos brios do Supremo, alguns que pediram ditadura e tortura foram presos, espalhadores de fake News andam bem menos aguerridos. Como já se dizia antes, fascista só é corajoso enquanto está protegido. Depois, todos são covardes.

Oitavo, a religião pode ser manipulada para qualquer lado. Esses pastores, padres, bispos, leigos, defensores da família, dos bons costumes, da pátria, são o exemplo da religião cooptada e servil aos interesses dos poderosos e de seus chefes. A crítica das religiões como ópio do povo deve ser retomada, aprofundada e popularizada. Louvemos todos os setores eclesiais que ajudaram a fazer essa resistência positiva contra o pior governo de nossa história.

Nono, estamos sendo salvos pelas vacinas. Infelizmente, famílias como a minha, mais de 500 mil, perderam seus entes queridos para o Covid19, graças a uma campanha sistemática de descredibilização das vacinas, da ciência e a corrupção na compra das vacinas. Os fundamentalistas, tanto os religiosos como os do mercado, têm que ser combatidos permanentemente.

Décimo, enfim, estamos do lado certo da história. Com todos aqueles que resistiram a essa tragédia, sairemos desse pesadelo mais pobres, mais machucados, mais mortos, porém, com a consciência limpa que não temos as mãos mergulhadas nesse mar de sangue.