terça-feira, 30 de novembro de 2010

PARA ACOMPANHAR A CONFERÊNCIA DO CLIMA EM CANCUM

Viajarei, como parte do grupo constituído pela Misereor, entidade alemã de solidariedade internacional, a Cancum, México, para participar do que for possível nas atividades oficiais - em que poderemos ser apenas observadores - e nas paralelas, em que a cidadania mundial se expressará. Pretendo enviar informações através deste blog, mas quero, hoje, indicar um dos endereços que acompanha especialmente a presença dos movimentos sociais em Cancum. São notícias em castelhano, e isso é oportunidade para ir melhorando o conhecimento desta língua, essencial para a comunicação na Pátria Grande.

Não deixem de acompanhar. Melhor ainda será se conseguirem organizar alguma iniciativa local para multiplicar a convocação da Via Campesina e outros Mivimentos em todo o mundo: ORGANIZAR MILHARES DE CANCUNS. É um convite para mobilizar-se em apoio às ações de pressão que serão realizadas em Cancum, exigindo dos governos avanços em acordos que estabeleçam o que cada país deve fazer para diminuir o aquecimento do planeta; e que estes acordos tenham com fundamento a justiça climática, isto é: que os que se enriqueceram depredando e contaminando a Terra assumam os custos das mudanças que devem ser feitas com urgência. Por outro lado, pressões também para que não se insista no caminho de querer corrigir os erros através de novas invenções tecnológicas; em vez de deixar de fazer o que modifica o ambiente da vida, deseja-se modificar o clima. É por isso que se insiste no grito: modificar o sistema, não o clima. Isto é: o que precisa ser mudado é o sistema de vida assentado no crescimento constante da economia, tanto na produção como na consumo e na especulação - pois isso já é impossível hoje para a Terra, tendo presente que já se usa 30% mais do que ela é capaz de repor.

Cobertura especial Cancún

Este domingo 28 de noviembre arrancan las caravanas hacia Cancún de cara
a la Conferencia sobre Cambio Climático (COP16), promovidas por la Vía
Campesina conjuntamente con otras organizaciones, como parte de las
movilizaciones que se llevarán a cabo en México, a la vez que en el
continente y el mundo, para exigir que los gobiernos asuman decisiones
contundentes frente a las causas de la crisis climática y exigir
justicia para sus víctimas.

La Minga Informativa de Movimientos Sociales está acompañando este
proceso con información desde México y el continente, desde la página:
http://www.movimientos.org/madretierra/milescancun

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Poema de Cecília Meireles

Hoje me limito a um poema, também porque o poema não se deixa prender a limites, ainda mais quando a artista é Cecília. Vejam:

No mistério do Sem-Fim equilibra-se um planeta
No planeta, um jardim
No jardim, um canteiro
No canteiro, uma violeta
E na violeta,
Entre o mistério do Sem-Fim e o planeta,
O dia inteiro,
A asa de uma borboleta.   

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

MUDANÇAS CLIMÁTICAS CAUSAM PERDA DE BILHÕES NA AMÉRICA CENTRAL

A matéria que publico a seguir refere-se aos bilhões de dólares perdidos na América Central por causa dos eventos extremos que caracterizam esse tempo de Mudanças Climáticas. São custos muito grandes para povos já sacrificados. Muitas pessoas não têm seus direitos básicos garantidos, e isso é fruto particularmente da dominação e exploração estrangeira, e especialmente estadunidense, que pesa sobre estes povos. Esses custos atingem de modos especial os já muito empobrecidos, e pesam sobre uma região que pouco tem a ver com o que causa o aquecimento que provoca mudanças do clima.

Poderíamos aproveitar esta notícia como oportunidade para refletir sobre duas questões:
1) quantos são, e quantos serão, os bilhões de dólares perdidos no Brasil por causa das mudanças climáticas?
2) quantas pessoas e comunidades perderam e perderão tudo que conseguiram por causa dos eventos extremos no Brasil, na América Central e no mundo?

Esses dados da realidade e os desafios que nascem deles serão inistentemente lembrados pelos movimentos sociais e outras forças da sociedade civil mundial aos governantes em Cancun, México, na 16a Conferência sobre o Clima, no início de dezembro próximo. E será grande a pressão para que assumam Acordos que definam compromissos de todos os povos, e especialmente dos que mais emitem gases de efeito estufa, para enfrentar as causas de tantos desastres socioambientais.

O texto está em espanhol para que nos conveçamos de que na Pátria Grande todos devemos entender e falar pelo menos duas línguas, o castelhano e o português - uma vez que, infelizmente, mesmo reconhecendo o direito de cada povo ter sua cultura e comunicar-se em sua língua, será difícil ou impossível aprender e falar todas as línguas dos povos indígenas das Américas.

Actualizado a las 17:00 Política

Impacto del clima dejará US$10 mil millones en pérdidas en 4 años a CA

El impacto del cambio climático puede representar para Centroamérica unos US$10 mil millones en pérdidas entre 2010 y 2014, reveló este martes la Comisión Económica para América Latina y el Caribe  (CEPAL).

ACAN-EFE San Salvador, El Salvador
La experta de cambio climático de la CEPAL, Julie Lennox, explicó en San Salvador que se ha estimado en “US$10mil  millones de dólares a precios de 2002 el impacto de este fenómeno en el sector agrícola, de recursos hídricos, en la biodiversidad y por el aumento en la intensidad de huracanes, tormentas e inundaciones.
El director de la sede subregional de la CEPAL en México, Hugo Beteta, alertó que el impacto del cambio climático ya representó para la región entre 2002 y 2008 un estimado de US$15 mil millones.
Esto es sumamente significativo y distrae recursos de lo que es la reducción de vulnerabilidades, declaró Beteta.
Lennox detalló que, de mantenerse la tendencia actual, los costos por los daños en los ámbitos agrícola, de recursos hídricos, de biodiversidad y por huracanes, tormentas e inundaciones, podrían ascender a US$73 mil millones en 2100 a precios de hoy en día, un equivalente al 54 por ciento del Producto Interno Bruto  (PIB) de 2008 de los siete países del Istmo centroamericano.
Centroamérica sí es una región del mundo altamente vulnerable, afirmó Lennox en una conferencia de prensa.
Al presentar el informe La economía del cambio climático en Centroamérica, Lennox, quien coordinó este proyecto, explicó que la región registró entre 1930 y 2008 unos 248 eventos extremos grandes.
El Salvador, alertaron los expertos, sería el país con más afectaciones por el cambio climático, ya que se enfrenta a un estrés hídrico, y le seguirían Honduras y Nicaragua.
La funcionaria indicó que la demanda de agua podría crecer en la región un 300 por ciento en 2050, con una población de 30 millones de personas adicionales a las más de 40 millones que actualmente viven en Centroamérica, estimación que no toma en cuenta una estrategia de ahorro y los efectos del cambio climático.
Hay que concienciar a todos los productores, a los que usen riego en las casas, de ser mucho más conscientes en el uso del agua, sostuvo la experta, quien calculó que si se añade el cambio climático se puede aumentar un 20 o un 25 por ciento más el consumo.
Sostuvo, por otra parte, que, de mantenerse la tendencia actual, podría haber una baja en el índice agropecuario del nueve por ciento.
Lo que nos preocupa más es el maíz, fríjol y arroz. Esos son los granos básicos, advirtió Lennox, quien vislumbró un reto muy grande de seguridad alimentaria, pero también una posibilidad de coordinar entre los países, porque van a haber regiones menos impactadas o con más posibilidad de producción y otras con menos.
Según un comunicado del Ministerio de Medio Ambiente de El Salvador, que citó el informe, de mantenerse la tendencia actual de emisiones, la temperatura podría aumentar entre 3.6 y 4.7 grados centígrados, con variaciones por países, y con un promedio regional de 4.2 grados centígrados.
Beteta señaló que Centroamérica genera “menos del uno por ciento de las emisiones”  causantes del efecto invernadero “y sin embargo los embates del cambio climático se sienten con mucho más fuerza”  en la región.

[ Em nome de Norma Maldonado
Enviada em: quarta-feira, 24 de novembro de 2010 01:34
Assunto: Cambio climatico: US$ 10 mil millones en perdidas en Centroamerica ]

EMERGÊNCIAS SOCIOAMBIENTAIS

Publico, hoje, o documento do Seminário realizado na Câmara Federal, promovido pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias junto com entidades da sociedade civil, que fazem parte do Grupo de Trabalho sobre Desastres Socioambientais.
Foi um evento que lotou o Plenário destinado a ele, e todos os participantes tiveram oportunidade de refletir criticamente sobre a temática com ajuda de estudiosos e em especial com os depoimentos de representantes das pessoas e famílias atingidas por eventos extremos - por enchentes, concretamente - em Santa Catarina e em Pernambuco.
Assumam com a Comissão e os participantes a luta pelas propostas assumidas pelo Seminário.


COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E MINORIAS – CÂMARA DOS DEPUTADOS
Brasília, 18 de novembro de 2010.

DOCUMENTO DO SEMINÁRIO “EMERGÊNCIAS SOCIOAMBIENTAIS E DIREITOS HUMANOS”
Com presença de grande número de representantes de entidades envolvidas em atividades junto a pessoas e famílias atingidas por desastres socioambientais, o Seminário foi aberto pela presidente da Comissão, dep. Iriny Lopes, destacando de que formas a temática se liga com os direitos de todas as pessoas e estimulando a participação de todos na elaboração de propostas que tornem mais efetiva a política pública de Defesa Civil.
A partir dos debates, mediados por dois painéis, um sobre Emergências, Meio Ambiente e Direitos Humanos e outro sobre Políticas de Prevenção de Desastres e que contaram com exposições de estudiosos e com depoimentos de pessoas diretamente envolvidos em áreas de desastre, merecem destaque as seguintes propostas de políticas e de pistas concretas de ação:
- urgente monitoramento das ações destinadas ao atendimento e à reparação/restauração das condições de vida das populações atingidas que ainda aguardam soluções e garantias de prevenção de novas ocorrências;
- que o Governo se aproprie das propostas da Conferência Nacional de Defesa Civil na definição e implementação de sua política;
- que seja criada a Secretaria de Defesa Civil ligada à Presidência da República (que seja um Gabinete de Gestão de Risco);
- que se busquem sempre as causas estruturais das mudanças climáticas, que tornam extremos os eventos que provocam emergências socioambientais, incluindo seu enfrentamento nas ações preventivas, repensando o modelo de desenvolvimento em relação aos impactos socioambinetais;
- que seja feita avaliação e mapeamento de riscos em projetos do PAC2 – tendo presente que podem agravar as mudanças climáticas;
- que seja promovida formação permanente da Defesa Civil para a criação de uma cultura de prevenção;
- que seja garantida formação permanente de equipes da sociedade civil para atuação junto à defesa civil na prevenção de desastres socioambientais e nas situações emergenciais, seja de forma presencial e/ou à distância;
- criação de Conselhos de Defesa Civil, paritários, consultivos e deliberativos, nas esferas municipais, estaduais e no âmbito federal, que atuem especialmente em prevenção de emergências e contem com a participação da sociedade civil no gerenciamento de fundos da defesa civil;
- que seja introduzida temática da prevenção de desastres socioambientais no Conselho das Cidades;
- que se garanta a participação das organizações que representam e apóiam as comunidades atingidas;
- que, entre as representações, estejam incluídas as organizações/movimentos/associações que representam as mulheres, movimentos urbanos populares, comunidades quilombolas e demais comunidades tradicionais;
- que sejam adotadas medidas adequadas para a garantia de reparação e retomada da produção agrícola e outras atividades produtivas;
- que se adotem as providências necessárias para a prevenção de novas situações nas localidades cuja população aguarda soluções efetivas;
- fiscalização efetiva e ampla do uso dos recursos destinados ao atendimento às vítimas e reconstrução das condições de vida sem novos riscos, e que esta fiscalização inclua a escuta e participação da população atingida, seus representantes e entidades sociais que os apóiam; e que sejam divulgadas as informações de fiscalização;
- que sejam revistas e melhoradas as instâncias de articulação em todos os níveis, definindo a competência de cada setor/órgão público, superando a prática de ações paralelas e isoladas, o que as tornam menos dinâmicas e causam perda de recursos;
- que seja garantido o direito e acesso a informações corretas, confiáveis e suficientes para tomadas de decisão em situações de emergências - análise de risco e planos de contingência; que haja a acesso ao AVADAN – Avaliação de Danos – , e que, para isso, que haja divulgação das informações deste documento;
- que os gestores públicos sejam obrigados a fornecer informações sobre os recursos gastos, prestando contas;
- que após a constatação do diagnóstico de área de risco, sejam desenvolvidas ações emergenciais e de divulgação, visando assegurar a dignidade humana e a prevenção de desastres;
- responsabilizar os causadores dos desastres ambientais. Que sejam identificados e assumam os custos financeiros da reparação;
- responsabilização do poder público pelas novas áreas de risco identificadas, garantindo o direito de indenização do morador;
- instigar processos de cobrança frente aos casos de Decreto de Calamidade Pública;
- que as Secretarias de Assistência Social dos municípios possam garantir atendimento psicossocial para as vitimas pós-tragédias;
- que seja garantida assistência à saúde, em sua dimensão física, psicológica e emocional a todas as pessoas atingidas durante o tempo que for necessário;
- reconhecimento de iniciativas exitosas já existentes no território nacional no âmbito da prevenção e ações pós-enchentes;
- realização constante de campanhas de apoio a vítimas de catástrofes;
- aumentar o numero e a qualidade de abrigos (com segurança, privacidade, estrutura condizente) nas áreas que são consideradas de risco, evitando situações humilhantes e degradantes experimentadas em áreas de emergência socioambiental;
- garantir que os investimentos realizados em recuperação de infra-estrutura afetada por desastres, particularmente em habitação, sejam de boa qualidade e adequados para as necessidades da população afetada;
- verificar as reais condições de construção das empresas que ganham licitações para reconstrução de infra-estruturas afetadas por desastres.
Os participantes do Seminário apóiam as reivindicações apresentadas de forma direta por representantes de comunidades que ainda sofrem conseqüência de enchentes que as atingiram, instando as instâncias do Estado responsáveis pela garantia dos seus direitos que superem a prática das promessas não cumpridas e sejam eficazes em suas ações, sendo transparentes em relação ao uso dos recursos públicos e das doações solidárias da sociedade civil. Os direitos básicos das pessoas como os da vida, da saúde e da habitação, devem ter garantia imediata, e exigem prioridade absoluta na destinação de recursos públicos e na implementação das ações necessárias.
Na perspectiva da construção de uma sociedade efetivamente assentada na justiça e na solidariedade, o Seminário convoca todas as instâncias publicas a somarem forças com a sociedade civil organizada na definição de uma efetiva e eficaz política de Defesa Civil. E que, para isso, sejam organizados espaços de debate regionais sobre a temática, apostando no avanço e amadurecimento do processo aberto pela Conferência Nacional sobre Defesa Civil.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

MANIFESTO DO FÓRUM DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS E JUSTIÇA SOCIAL

Vejam em seguida o manifesto elaborado na reunião nacional do Fórum que articula entidades que desejam atuar com maior responsabilidade e criatividade no enfrentamento das causas do aquecimento global, que tem tudo a ver com as mudanças climáticas que vão agravando condições de vida especialmente das pessoas e famílias mais empobrecidas.
Boa leitura.
Se desejarem comunicar-se com o Fórum escrevam a fclimaticas@gmail.com

Desafios Imediatos das Mudanças Climáticas.
- Manifesto do Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social -

Diante das múltiplas e graves manifestações das mudanças climáticas que atingem a Terra e as populações, diante da Conferência Climática que haverá em Cancun, México, o Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social, reunindo organizações sociais e populares parceiras de Misereor no Brasil, com o apoio da CNBB, vê-se na obrigação de fazer algumas reflexões sobre questões extremamente importantes nesse momento.
Primeiro, é com extrema preocupação que acompanhamos a possível votação das modificações no Código Florestal Brasileiro pelo Congresso. Qualquer iniciativa de facilitar a derrubada de mais cobertura vegetal no Brasil e que promova a impunidade dos crimes ambientais cometidos, nos parece como um absurdo contrassenso. Enquanto o planeta pede mais cobertura vegetal para manter as condições de vida, o Brasil, através da flexibilização do Código Florestal, pode abrir possibilidades legais para um maior desmatamento, com conseqüências ambientais, sociais e econômicas imprevisíveis. Além disso, demonstrará um vazio imenso nos compromissos anunciados ao mundo em relação à redução da emissão de gases de efeito estufa pelo Brasil.
Outra preocupação é com o momento político que atravessamos, sobretudo a transição para um novo governo. Embora se fale em continuidade com o anterior, é do conhecimento comum que os problemas socioambientais brasileiros estão vinculados diretamente ao modelo de desenvolvimento adotado, baseado no agronegócio, na exploração mineral, na construção de grandes obras de infra-estrutura, que provocam intensos impactos ambientais e sociais. Entre esses impactos está uma maior emissão de gases provocadores do efeito estufa, pela derrubada e queima de florestas, maior consumo de energias fósseis, construção de lagos artificiais para produção de energia elétrica, maior uso de insumos agrícolas e a criação de gado.
Este modelo de desenvolvimento concentrador não leva em consideração as necessidades e a vida diversa do povo brasileiro, nem os recursos naturais e ainda ameaça a vida presente e futura, principalmente das populações mais vulneráveis, mas, a longo prazo, de todos os brasileiros e demais populações do planeta.
Nesse sentido, o Fórum alerta ao governo brasileiro, sobretudo ao Legislativo, sobre a necessidade de toda precaução em qualquer mudança em nossas leis. Sugerimos inclusive um posicionamento do nosso governo quanto ao encaminhamento de propostas mais consistentes e adequadas à vida do planeta e das gerações futuras. Convocamos a sociedade civil, particularmente os movimentos sociais, para perceberem e se posicionarem na gravidade desse momento.
O que está em jogo é o presente do país e a vida das futuras gerações.

Brasília, 17 de novembro de 2010.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E EMERGÊNCIAS SOCIOAMBIENTAIS

Aconteceu no dia de ontem um seminário sobre esse desafio na Câmara Federal. Foi promovido pela Comissão de Deireitos Humanos e Minorias, organizado por um GT que trata desse imenso desafio. Apesar de algumas dificuldades e de pouca presença de deputados da Comissão, o evento foi positivo. Contou com presença de entidades da sociedade civil que atuam junto a populações atingidas por enchentes e outros eventos climáticos extremos, certamente causados pelo aquecimento do planeta.

Em breve disponibilizarei aqui o Documento do seminário, mas quero destacar, hoje, o impacto causado pelos depoimentos das mulheres que vieram falar da situação em que se encontram as comunidades atingidas em Santa Catarina e no Pernambuco. É triste e envergonhador o que elas apresentaram, tanto em relação ao modo como foram e continuam sendo tratadas, mas especialmente pelo fato de ficarem tanto tempo sem ações que garantam seus direitos. No caso de Santa Catarina, o desastre socioambiental que as atingiu está completando dois anos e a maioria absoluta das famílias ainda se encontra sem nenhuma recuperação de seus direitos ligados à moradia, saúde, trabalho; sem direitos básicos à vida, em resumo.

É triste constatar que a situação de tantas pessoas e comunidades esteja ausente dos meios de comunicação e que haja tão poucas e frágeis entidades atuando em apoio a elas. Não está na hora de mobilizar a cidadania para exigir que os meios de comunicação estejam de fato ligados ao direito à comunicação, seuperando a situação atual em que só se noticia o que dá ibope?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Solidariedade em economia capitalista?

Antes da recente reunião do grupo de países mais ricos, chamado G20, os Estados Unidos lançaram no mercado mundial mais 600 bilhões de dólares. O objetivo dessa medida é mais do que clara: criar condições favoráveis aos produdos estadunidenses através de uma guerra cambial. É o que já se vê no Brasil, por exemplo, com a valotização do real em relação ao dólar. Com isso, muitos empresários, que sempre buscam as melhores oportunidades de ganhar mais, preferem comprar produtos em dólar, aumentando dificuldades para os produtos brasileiros.

Tudo aparentemente normal na relação entre sociedades capitalistas. Afinal a regra de ouro no capialismo é usar a concorrência para vencer. Mas, na reunião do G20, alguns governantes, e entre eles Lula e Dilma, reclamaram da falta de solidariedade do governo dos Estados Unidos, tanto em relação aos países do grupo como aos demais. De fato, Obama não deve ter pensado em solidariedade ao aprovar o derrame de bilhões de dólares no mundo. Ele agiu assim para criar oportunidades para o seu país, e se isso implica cobrar a conta dos demais, que cada um enfrente os problemas com as armas que tem. No caso dos Estados Unidos, como ainda é dono da moeda de conversão mundial, por que não faria uso dela?

A reflexão que cabe aqui é essa: se alguém quer pensar em relações internacionais assentadas sobre o valor solidariedade, deve evitar grupos formados para defender o mercado capitalista neoliberal. O lugar em que é possível vivenciar essa qualidade humana será entre países que decidem abandonar o mau hábito de buscar oportunidades para explorar os demais, abrindo caminhos práticos de cooperação e complementaridade; além disso, entre países decididos a defender os direitos da Terra, para que continue sendo um planeta para todos os povos e para todos os seres vivos, relacionando-se também com ela de forma solidária e não exploradora.

Apenas para provocar a reflexão autocrítica: relações internacionais solidárias podem ser construídas sem que os países envolvidos pratiquem esta qualidade humana nas relações socioeconômicas e socioambientais em seu interior? Se examinamos a realidade brasileira, por exemplo, em que políticas sociais diminuem um pouco a miséria de milhões mas, ao mesmo tempo, aumenta uma das mais escandalosas concentrações e renda e riqueza do planeta, pode-se dizer que é uma sociedade assentada sobre a solidariedade entre os seres humanos e com a Terra? E se não é praticada em casa, com que força pode lutar por maior solidariedade internacional?

sábado, 13 de novembro de 2010

Um mergulho na história

Em rápida viagem ao México, em que tive oportunidade de marcar presença numa reunião oficial da igreja católica do país, contribuindo na tomada de consciência em relação ao aquecimento global e às mudanças climáticas provodas por ele, bem como sobre a responabilidade dos cristãos em relação a estes fenômenos, amigos me possibilitaram visitar, nas poucas horas de que dispunha, um lugar mágico chamado Teotihuacán.

Trata-se de um conjunto de pirâmides construídas há mais de 1.500 anos por povos indígenas que desapareceram por causa de eventos sociais e ambientais que os atingiram. Teotihuacán significa lugar dos deuses. Não apenas os deuses de um povo, e sim lugar sagrado em que foram reunidos deuses de diversos povos. A pirâmide maior era local de adoração do Sol. Perto dela, outra pirâmide ligava com a deusa Lua. As pirâmides estão localizados num conjunto arquitetônico que impressiona, mesmo se muitas das construções se encontram em ruínas. Na verdade, foi uma verdadeira cidade sagrada, com avenidas, ruas, muitas construções, tudo ligado às visitas e cultos.

Não tive tempo para visitar tudo, menos ainda para buscar informações que me ajudassem a compreender a riqueza desta civilização. Mas foi oportunidade para sentir-me ligado às riquezas culturais dos povos indígenas, tão desprezadas e até aniquiladas pela cultura trazida pelos colonizadores europeus. Senti como faz falta a presença destas culturas, religiões e espiritualidades tão ligadas aos fenômenos naturais da Terra. As formas religiosas trazidas pelo catolicismo estavam entrelaçadas com os interesses colonizadores, e preferiram levar o povo a desligar-se de tudo que constitui o ambiente da vida no Planeta, orientando-o para cultos ligados a esperanças espiritualizadas, válidas mais para depois da morte do que para a vida cotidiana. Mesmo com esta orientação institucional, contudo, o povo encontrou maneiras de expressar sua religiosidade cristã de forma mais ligada ao dia-a-dia da vida, interligando cultos dos povos de longa história com os promividos pela igreja oficial do poder dominante.

Não resta nenhuma dúvida de que um dos desafios típico dos tempos atuais, marcados pela urgente necessidade de mudar as estruturas ligadas ao progresso que causa desequilíbrios climáticos da Terra, está ligado com a revalorização das práticas culturais, políticas, econômicas e religiosas dos povos indígenas sobreviventes. A humanidade precisa deles para encontrar caminhos que corrijam a dependência quase cega à ciência, à razão, à economia geradora de mercantilização de tudo, que marca a civilização dominante em nosso Planeta.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Debatendo sobre Mudanças Climáticas

Retorno ao México nos próximos dias para um novo seminário sobre Mudanças Climáticas. Na primeira oportunidade, em agosto, participei do Seminário Nacional organizado pelo setor de pastorais sociais da conferência episcopal mexicana. Havia mais de 250 pessoas presentes, e todo o conteúdo foi disponibilizado em âmbito nacional via internet. Agora, o diálogo acontecerá com a própria conferência, em sua reunião anual.

A situação em que se encontra a Terra exige ações de todas as pessoas e de todas as instituições. Não creio ser necessário citar eventos climáticos que se tornaram extremos e que, por isso, desalojam milhares de pessoas em todos os continentes. As notícias diárias dão conta do aumento tanto do número quanto da intensidade desses fenômenos. Agora mesmo, por exemplo, a Amazônia sofre com mais uma terrível seca e a América Central e o Caribe estão sendo atingidos pelo furacão "Tomás" - e com isso, o alfabeto, que determina o início dos nomes dados a eles, está chegando ao fim!

Algumas pessoas ainda insistem que esses eventos são naturais. Quando se diz que são eventos extremos, afirma-se que são fenômenos naturais agravados por algum novo causante. O IPCC, com a responsabilidade de ser um Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas contituído por 2.800 cientistas de todo o Planeta, afirmou em seu 4º Relatório que isso se deve a causante antrópico. Isto é, são ações humanas que causaram e continuam causando o desequilíbrio da Terra, que se manifesta nesses eventos climáticos extremos.

Basta lembar, por agora, o tanto que as emissões de gases de efeito estufa aumentaram nas últimas décadas, junto com a diminuição das florestas e das algas marinhas, seres capazes de absorever parte desses gases e liberar oxigênio. Avança o consenso de que esta tem sido e continua sendo a principal causa do aquecimento da Terra, e dos demais fenômenos climáticos extremos que têm sua origem no aquecimento global.

No final deste mês e no início de dezembro acontecerá, em Cancun, México, a 16ª COP da ONU, que tem o objetivo de avançar na definição de compromissos de todos os povos em favor de mudanças estruturais que diminuam o que causa desequilíbrio à Terra, evitando um aquecimento que torne impossível o ser humano continuar vivendo neste Planeta.

Espero que esta viagem contibua na geração de consciência em relação à nossa responsabilidade comum. Em breve, nos comunicaremos sobre a riqueza dos debates em que participarei, e sempre com o desejo de que todos nos comprometamos a agir em favor da recuperação do ambiente geral da vida no pequeno planeta Terra.

domingo, 7 de novembro de 2010

ORFANDADE PARTIDÁRIA, CRIATIVIDADE CIDADÃ



Olá, amigos e amigas!

Segue uma reflexão sobre a situação de muitos cidadãos depois das últimas eleições, com destaque para o povo de Goiás.

Boa leitura!



Passadas as eleições, conhecidos os resultados, é tempo de avaliação crítica. Não no sentido negativo da palavra, mas na dimensão de ir além das aparências, identificar contradições, perceber novas potencialidades. Só assim a história continua fonte de sabedoria.

Quero analisar somente uma das realidades que o processo político recente tem revelado: a morte dos partidos políticos como mediadores de deferentes projetos de sociedade. Como expressou com lucidez Fábio Comparato em entrevista à Caros Amigos, todos os partidos renunciaram ao enfrentamento com a oligarquia; em sentido inverso, todos entraram em aliança com a oligarquia. O resultado só poderia ser esse: o reforço do caráter oligárquico da sociedade e do estado brasileiros.

Examinemos o que se passou em Goiás, tomando-o como um caso paradigmático. Os partidos que representam a oligarquia tradicional, o Democratas e o PSDB, saíram vitoriosos; os grupos de poder oligárquico estão tranquilos e felizes. Mas esses mesmos grupos se sentiriam ameaçados no caso da vitória da candidatura encabeçada pelo PMDB? Em nada, certamente, mesmo com a presença do PT como aliado. O que pode acontecer, então, é apenas que alguns grupos oligárquicos goianos sejam privilegiados pelo governo eleito.

Qual o principal motivo de tanta tranquilidade? Com toda certeza, a resposta está na voluntária submissão do PT aos comandos da política oligárquica goiana, comandada ora pelo PMDB, ora pelo Democratas, ora pela PSDB, ora pelo PP. Os partidos denominados radicais não assustam; seu restrito peso eleitoral serve como uma das demonstrações de que a democracia seria ampla, respeitadora até de propostas socialistas... Ao contrário deles, o PT de antes dessas eleições sempre foi combatido como uma ameaça, como uma força que devia ser derrotada.

De fato, durante algumas décadas o PT se apresentou como um partido de massas, uma proposta de transformação estrutural da sociedade através da participação democrática da cidadania no exercício do poder. Foi isso que assustou as oligarquias. A possibilidade de que a população descobrisse seu poder soberano numa sociedade democrática causava sensação de perigo. E de fato, se o PT tivesse seguido com fidelidade sua proposta inicial, a cidadania brasileira poderia ter avançado muito na participação efetiva nas decisões políticas; não apenas nos processos eleitorais, mas nas decisões em relação à definição das prioridades, à destinação dos recursos do orçamento, à definição, execução e monitoramento das políticas públicas.

Imaginemos apenas uma dimensão da realidade brasileira e goiana: a estrutura da propriedade da terra. Através da prática da participação real no exercício do poder político, a cidadania poderia exigir seu direito de participar da definição das leis que regulam a apropriação e o uso da terra, usando, por exemplo, o plebiscito, através do qual a cidadania se manifesta com soberania, isto é: quando a decisão por maioria só pode ser modificada por outro ato soberano, um referendo. Fácil perceber quanto essa possibilidade causava pesadelos nos grupos acostumados a legislar e a governar a partir de acertos entre eles próprios, poucos e bons, mantendo e reproduzindo, com atualizações, com modernizações conservadoras, ao passar do rural ao urbano, a política oligárquica.

Pois bem, o que aconteceu nos últimos anos? Para surpresa geral, uma maioria de “petistas novos” respaldou a incrível proposta de o PT aliar-se ao partido e ao candidato que o havia derrotado quatro anos antes, no segundo turno de uma candidatura à reeleição. Renunciou, com isso, sua relação com os cidadãos e cidadãs que haviam confiado nele como uma força política diferente, nas propostas e nas práticas administrativas, autônoma e em oposição franca à política tradicional goiana, geneticamente oligárquica. Ao aliar-se a um dos blocos da oligarquia deixou a sociedade goiana sem alternativas partidárias para a construção de algo novo em relação ao avanço real da democratização das relações sociais, da administração pública e da própria economia.

Não se sabe se houve petistas goianos que festejaram as derrotas experimentadas no recente embate eleitoral; é possível que sim, uma vez que alguns deles demonstravam sentir-se à vontade junto e promovendo seus anteriores “inimigos”. Uma coisa é certa, porém: tantos os oligarcas vencedores quanto os derrotados tiveram um motivo forte de celebração: o desaparecimento, a morte do PT como portador de uma proposta de exercício de poder com participação da cidadania, especialmente das forças sociais populares.

Aliás, a maior façanha das forças oligárquicas nos tempos recentes foi essa: colocar sob controle o potencial mobilizador e transformador do PT, levando-o a governar de forma tradicional, com arranjos e alianças institucionais, por cima; e isso vale, agora, para todo o país, também para o governo federal. E isso parece ter sido facilitado pelo próprio PT, uma vez que, quando assumiu responsabilidades de governo, promoveu processos participativos sem consequências reais na definição de suas prioridades e na sua implementação; exemplo magnífico disso têm sido as inúmeras conferências nacionais, já que seria muito fácil garimpar quantas e quais das suas propostas influíram no exercício de governo. Outro sinal dessa facilitação tem sido dado na busca de alianças com partidos claramente comprometidos com o agronegócio, com o capital industrial, comercial e financeiro, tudo em nome da governabilidade, e de um governo que, por não ter oposição real, não sente grande conflito ao implementar políticas limitadas de enfrentamento da pobreza e da miséria.

Há estudos acadêmicos que demonstram o descrédito dos partidos políticos junto à cidadania. No caso brasileiro, em seu lugar afirma-se o que se tem denominado “lulismo”: uma prática política de governo que recebe aprovação, ao mesmo tempo, de amplos setores dos mais empobrecidos e dos setores do grande capital. É o que leva Fábio Comparato afirmar que a sociedade brasileira está diante de um populismo muito mais efetivo do que o praticado por Getúlio Vargas.

A questão que fica é essa: quem responderá pelo descrédito da Política construtiva de uma sociedade em processo permanente de democratização? Quem responderá pelo prolongamento e aprofundamento da política oligárquica? Quem, de outra forma, assumirá a responsabilidade de aprofundar a exploração das energias da Terra, através de uma aceleração do crescimento econômico que mantém e aprofunda a desigualdade e a injustiça institucionalizadas?

O que resta esperar é que os órfãos desta experiência política precocemente transmutada em ferramenta de reforço à oligarquia avancem na consciência de que a democratização de uma sociedade é obra da cidadania, articulada através de muitas mediações, e não apenas por partidos políticos. E desejar que os petistas que ainda têm compromissos com a transformação democrática da sociedade brasileira se rebelem, exigindo mudanças no exercício de poder no interior do próprio partido, se isso for possível; se não o for, que se somem aos cidadãos e cidadãs que trilham outros caminhos de construção de uma sociedade realmente democrática.