segunda-feira, 4 de maio de 2015

TUPINAMBÁ: QUANTOS MAIS DEVERÃO MORRER, SENHOR MINISTRO DA JUSTIÇA?

JUNTO COM A ENTREGA DO PAÍS À SANHA DO CAPITAL FINANCEIRO, O BRASIL REGRIDE AOS TEMPOS COLONIAIS EM RELAÇÃO AOS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS. COMO PODE UM MINISTRO DA JUSTIÇA DEFENDER QUE A DECISÃO DE RECONHECER - A PALAVRA CONSTITUCIONAL É ESTA: RECONHECER - O DIREITO ANCESTRAL AOS TERRITÓRIOS DEPENDA DE CONSULTA AOS QUE INVADIRAM ESSES TERRITÓRIOS E CONTINUAM MATANDO LIDERANÇAS PARA IMPOR SUA VONTADE?  

É TRISTE DIZER QUE O GOVERNO DILMA E SEU MINISTRO DA JUSTIÇA ESTÃO ENTRANDO NA HISTÓRIA COMO RESPONSÁVEIS POR ESSE CRIME CONTRA OS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS E CONTRA A CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PODEM AINDA RECUAR DE SUAS POSIÇÕES E AGIR DE FORMA DIFERENTE. DARÃO ESTE PASSO EM FAVOR DA JUSTIÇA E PARA EVITAR O AVANÇO DE NOVO GENOCÍDIO? A RESPOSTA DEVE SER DADO POR ELES!

Liderança Tupinambá é assassinada por pistoleiros na aldeia Serra das Trempes, BA
Depois de quatro dias da morte de indígena Ka’apor, Adenilson da Silva Nascimento, liderança do povo Tupinambá, foi assassinado por pistoleiros em emboscada
 
Por Carolina Fasolo,
Assessoria de Comunicação Cimi

O Agente Indígena de Saúde Adenilson da Silva Nascimento, o "Pinduca", 54 anos, foi assassinado por pistoleiros na sexta-feira (1), numa estrada que liga Ilhéus ao município de Una, nas proximidades da aldeia Serra das Trempes, Terra Indígena Tupinambá de Olivença. O assassinato de Adenilson ocorreu apenas quatro dias depois de Eusébio Ka’apor, no Maranhão, morrer numa emboscada semelhante. Dois homens encapuzados cercaram e atingiram Eusébio com um tiro nas costas (Leia mais).

O secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Cleber Buzatto, denunciou, na última quinta-feira (29) ao Fórum Permanente para Questões Indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU), a insegurança das lideranças indígenas que lutam por seus territórios e pediu providências pela retomada das demarcações das terras indígenas no Brasil, dever constitucional que está sendo preterido em nome de interesses políticos. (Leia o pronunciamento)

Protesto

Em protesto pelo assassinato de Adenilson, cerca de 300 indígenas Tupinambá fecharam, na manhã desta segunda-feira (4), a ponte que liga o distrito de Olivença a Ilhéus (BA). Os caciques e lideranças decidiram pela manifestação depois de reunirem-se durante toda a manhã numa aldeia em Olivença. O cacique José Sinval disse que a ponte só será liberada quando chegarem representantes do Ministério da Justiça, da  Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Governo do Estado da Bahia. “A única linguagem que o governo entende é a pressão. Então só sairemos daqui quando enviarem pessoas que possam nos dar garantias sobre a investigação desse crime e a demarcação das nossas terras. Adenilson era uma das nossas principais lideranças. Os fazendeiros estão matando a gente e nada acontece”, afirmou o cacique.
O Conselho dos Caciques Tupinambá, em documento divulgado após a morte de Adenilson, questionou o governo sobre a paralisação nas demarcações, processo que tem promovido ações violentas contra os indígenas. Os Tupinambá aguardam desde 2009 a publicação da Portaria Declaratória de seu território, pelo Ministério da Justiça.  “Perguntamos, até onde vai essa situação? Pois já são mais de 24 lideranças indígenas Tupinambá assassinadas pela luta da demarcação do território Tupinambá. Por que o governo não assina a carta declaratória do território Tupinambá de Olivença? Vai esperar morrer mais gente inocente?”. 

Emboscada

Adenilson voltava de uma pescaria com a esposa, o filho de um ano e outra filha de 15, quando foram emboscados por três pistoleiros armados, que estavam encapuzados. Ele morreu na hora e sua esposa, Zenaildes, foi gravemente ferida, baleada na perna e nas costas. A filha adolescente conseguiu fugir entrando na mata e manteve contato por celular com caciques e lideranças indígenas, que avisaram as autoridades competentes.

Ninha, como é conhecida a esposa de Adenilson, conseguiu proteger o filho e carregá-lo por cerca de 600 metros depois da fuga dos assassinos, até ser encontrada pelos agentes da Funai, que chegaram ao local avisados pelos caciques. A criança encontra-se hospitalizada, mas passa bem. Zenaildes ainda passará por cirurgia, pois uma bala ficou alojada na perna.

O sepultamento de 
Adenilson ocorreu no domingo (3), às 11h30, no Cemitério Nossa Senhora da Escada, em Olivença, com muita comoção e revolta da comunidade. “Nós estamos de luto por Pinduca e por todos nossos parentes que tombaram em mãos assassinas do infame poder que corrói as mentes avarentas. Continuamos cada vez mais firmes em nossos propósitos e nunca desistiremos de lutar pelos nossos direitos. Cada vez que assassinarem um de nós nascerão milhões para nos dar força e coragem”, disse a liderança Katu Tupinambá.

Haroldo Heleno, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) regional Leste, alertou para a ineficiência das “Mesas de Diálogo” promovidas pelo Ministério da Justiça, que muitas vezes acirram ainda mais o conflito na região, e lembrou que a última reunião ocorreu no dia 29 de abril, entre representantes da Justiça Federal, Ministério da Justiça, lideranças indígenas e pequenos agricultores. “A tal mesa de diálogo só serve para aumentar o clima de violência. Sempre que alguma autoridade visita a região acontece um fato grave envolvendo os Tupinambá. Desta vez foi o assassinato de Adenilson. A demora na assinatura da Portaria Declaratória da TI por parte do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, rega mais uma vez de sangue a terra do povo Tupinambá e deixa a comunidade de luto e extremamente revoltada por mais um assassinato”, ressalta Haroldo.

A liderança Cazé Tupinambá afirmou, em desabafo: “O governo desavergonhado, cara de pau, tem o despautério de dizer às organizações internacionais que nós, indígenas, somos bem assistidos e contemplados, e nesse joguinho de faz de conta continuamos órfãos da ganância de uma cultura predadora”.

‘Acho que vou realizar! Vou ter o documento dizendo que a terra é minha. Aí vou ser mais feliz ainda’ (foto). Este era o sonho de Pinduca, que tombou na terra que tanto esperou pela homologação. “Assim como outras lideranças, que regaram este chão de sangue aguardando a resolução definitiva sobre suas terras”, disse o cacique José Sinval.

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