segunda-feira, 22 de setembro de 2014

OS CANDIDATOS A PRESIDENTE E A POLÍTICA ENERGÉTICA

VEJAM O QUE ESTÁ NOS PROGRAMAS DE GOVERNO - ALGUNS NÃO SÃO BEM ISSO! - SOBRE POLÍTICA ENERGÉTICA. INFELIZMENTE, OS QUE PROPÕEM MUDANÇAS SÃO CANDIDATOS(AS) QUE NÃO ESTÃO NO GOVERNO, POIS DILMA APENAS DEIXA CLARO QUE A ATUAL POLÍTICA ESTÁ TÃO BOA E CORRETA, QUE SÓ PODE TER CONTINUIDADE.  E QUEM CONHECE O ATRASO E OS EFEITOS NEFASTOS DA POLÍTICA ENERGÉTICA ATUAL SÓ PODE ENTRISTECER-SE COM TANTA TEIMOSIA E DESRESPEITO AOS DIREITOS DOS POVOS E COMUNIDADES E AOS DIREITOS DA TERRA.

QUE A SÍNTESE ELABORADA POR JOILSON, QUE NOS AJUDA NA DINAMIZAÇÃO DA CAMPANHA "ENERGIA PARA A VIDA!", SIRVA PARA QUALIFICAR O VOTO QUE DAREMOS, JÁ QUE NINGUÉM DEVERIA CONFIAR PODER DE PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA SEM CONHECER O QUE FARÁ AO ASSUMIR. POR OUTRO LADO, SABENDO O QUE FARÁ, SÁBIO É CONFIAR SÓ QUANDO SE CONCORDA COM O PLANO ANUNCIADO.



A questão energética nos programas do(a)s presidenciáveis 2014

Joilson José Costa[1]

            Aproxima-se o primeiro turno das eleições e um tema que gostaríamos que fosse discutido com mais frequência e seriedade pelos candidato(a)s a Presidência da República é a energia, dada a sua importância para o desenvolvimento do país e sua emergência em tempos de mudanças climáticas – que têm na forma como o mundo produz energia uma de suas principais causas.

Por isso, a fim de compreender melhor o que tais candidatos pensam e propõem a respeito o presente texto destina-se a apresentar e comentar de forma sintética as propostas dos mesmo(a)s a partir do que consta em seus programas eleitorais disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral[2].

Aécio Neves

A energia é tratada especificamente como um subtema da nona diretriz do programa (sustentabilidade), mas outras diretrizes também apresentam propostas nesta área. Como exemplos podemos citar a implantação de um Programa Nacional de Parques Tecnológicos contemplando, entre outros, a bioenergia; a melhoria constante da infraestrutura necessária aos serviços relacionados à energia e o apoio à energia alcoolquímica e aos projetos de melhorias de gestão de energia, em especial na indústria e no setor de serviços.

A energia é citada ainda, sem muitos detalhes, como um dos aspectos a serem ampliados e dinamizados nas organizações (sic) internacionais das quais o Brasil faz parte. A dúvida que fica aqui é em quê consistiria tal ampliação e dinamização.

Já o item específico sobre energia apresenta como uma espécie de “base” para as diretrizes da área o estímulo a uma economia de baixo carbono e a reorientação da matriz energética com o fortalecimento do tripé Planejamento, Gestão e Regulação. Não apenas aqui, mas em boa parte das diretrizes a linguagem utilizada parece ter como único destinatário o setor privado.

Dada a extensão do item, segue abaixo apenas algumas das 32 diretrizes apresentadas (algumas com teor repetitivo, inclusive) com alguns comentários a respeito.

No que diz respeito à configuração da matriz elétrica (algumas vezes tratada como energética) o programa propõe que a mesma contemple as várias fontes de energia, com a valorização da diversidade de fontes e das características regionais na redefinição da matriz; a ampliação do uso das energias solar e eólica e o incentivo à microgeração distribuída.

O programa denota um forte apoio ao setor de biocombustíveis em geral e parece buscar estabelecer (ou seria fortalecer?) um estreito relacionamento entre o setor de energia e o agronegócio brasileiro.

O programa também propõe várias ações visando a reconquista da autossuficiência do Brasil na produção de petróleo e seus derivados como o estabelecimento de um calendário para leilões de petróleo e gás natural – não deixando de visar uma maior previsibilidade para as empresas interessadas em “investir” no Brasil; planejamento e regulação do setor de gás natural visando o aumento da oferta de tal insumo; a criação de condições de competitividade para que o gás natural venha a se configurar como combustível de transição para um consumo energético mais limpo (mais adequado seria o assumir como menos sujo).

Aqui chama a atenção o fato do programa não citar explicitamente a exploração do pré-sal, mas dado o conjunto de propostas nesta área a ausência nos parece mais inteligência estratégica do que convicção política em não investir recursos em tal exploração.

O programa defende também a implementação de programas de eficiência energética e conservação de energia em todos os setores com o emprego, por exemplo, de instrumentos que estimulem padrões rigorosos de eficiência energética e a inclusão de critérios de sustentabilidade nos projetos habitacionais, com o objetivo de estimular habitações sustentáveis em termos de eficiência energética e conservação de água.

No subitem sustentabilidade e meio ambiente o programa fala na construção de edifícios sustentáveis, no uso da energia solar e na possibilidade de venda da energia gerada excedente, o que não podemos deixar de reconhecer que representaria um avanço em relação à nossa atual legislação que permite apenas um sistema de compensação de energia, em que os ganhos financeiros são advindos da energia economizada e não diretamente da venda da energia gerada.

Por fim, no quesito planejamento energético o programa defende que o mesmo seja feito com a participação dos Estados da Federação, esquecendo que em tal planejamento é necessário também a participação da sociedade civil.

Dilma Rousseff

É lamentável constatar que o programa da atual presidente trate da energia mais como propaganda do que já foi feito do que como área a ser ainda melhorada. Ao longo de todo o programa é possível identificar, não sem um pouco de esforço, apenas duas propostas claras para o setor: a manutenção da matriz elétrica hidrotérmica, complementada por eólica, solar e biomassa; e a continuidade do processo de expansão do parque gerador e transmissor para garantir a segurança do suprimento e a modicidade tarifária, com prioridade à ampliação e modernização do parque instalado de transmissão de energia.

Com tal mediocridade é óbvio que o programa perde a oportunidade de tratar com mais seriedade a questão e deixa claro que, caso seja reeleita seu próximo governo continuará apostando numa matriz concentrada e tratando como irrelevantes alternativas que poderiam alçar o Brasil à posição de verdadeiro líder no campo das energias do futuro.

Eduardo Jorge

O programa relaciona desenvolvimento humano com consumo per capita de energia, indicando a necessidade do crescimento médio deste consumo para que o Brasil alcance patamares de desenvolvimento semelhantes aos países da Europa, por exemplo. Aqui não se pode deixar de observar que tal visão, além de controversa, corrobora o atual planejamento energético brasileiro altamente ofertista, na qual seria sempre necessário aumentar a oferta de nova energia sem considerar com mais seriedade outras possibilidades como a eficiência energética, a modernização de antigas instalações e sistemas de transmissão e distribuição, entre outras.

O programa reconhece os problemas ambientais e sociais causados pela expansão do sistema elétrico, em especial em direção à Amazônia, sugerindo como uma das possibilidades de resolução dos conflitos a implantação das compensações ambientais e sociais antes do início da construção de novas usinas hidroelétricas, o que logicamente é insuficiente para tratar adequadamente os problemas advindos da expansão do sistema.

O programa aponta ainda os leilões para construção de novas usinas para geração de eletricidade, a renovação das concessões e a administração dos preços de venda de derivados do petróleo como os principais problemas na área da energia elétrica, o que também não pode deixar de ser considerada uma análise insuficiente diante de questões tão ou mais importantes do setor[3].

Aponta o esgotamento da capacidade de investimentos da Petrobrás como um dos riscos do investimento prioritário na exploração do Pré-Sal, sugerindo em seguida que a mesma reduza seus custos e riscos através de parcerias com outras empresas petrolíferas mundiais com experiência nesta área. Por outro lado aponta como alternativa à sua exploração o aumento no uso dos biocombustíveis, o gás de xisto, o aumento da eficiência dos motores atualmente utilizados e os automóveis elétricos e híbridos.

Ao defender uma diminuição da concentração do poder em Brasília o programa propõe a fusão do Ministério de Minas e Energia com os Ministérios de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Cidades. Tal proposta parece dialogar com o discurso da diminuição do Estado, travestido da necessidade de “diminuir a burocracia” ou “aumentar a eficiência” estatal.

Por fim, o programa também defende a eficiência energética, a ampliação da oferta de energia sem ampliação das emissões de gases de efeito estufa, aponta o tráfego ferroviário eletrificado como uma opção ao setor de transporte e, como não podia deixar de ser dada a essência do partido, reassume posição contrária à energia nuclear, defendendo a desativação das usinas Angra 1 e 2.

Levy Fidélix

Defende basicamente o aproveitamento da capacidade total do potencial hidráulico da região amazônica; a implantação de 10 novas usinas nucleares, espalhadas de norte a sul do país; o avanço no aproveitamento das energias solar e eólica com redução de impostos para tais e a expansão tanto das energias renováveis como da exploração do gás natural e do petróleo.

Observam-se aqui duas propostas insanas. A primeira é o aproveitamento da capacidade total do potencial hidráulico da região amazônica (estimado em mais de 106 GW)[4], o que sem dúvida poderia causar um dos maiores desastres ambientais da história do Brasil. E diga-se de passagem, absolutamente desnecessária haja vista outras possibilidades viáveis tecnicamente.

A segunda proposta é a implantação de 10 novas usinas nucleares no país (!). Apesar de ser considerada ‘limpa’ por alguns por não emitir gases de efeito estufa em sua fase de operação, de vez em quando um incidente teima em lembrar a humanidade dos enormes riscos que tais usinas oferecem, com a inexistência de soluções definitivas não apenas no tratamento de incidentes, mas também na destinação dos resíduos gerados. Sem falar na alta probabilidade de contaminação que a cadeia de exploração do urânio oferece, entre outros problemas.

Marina Silva

O tema é tratado como um subitem de um dos cinco grandes eixos do programa e neste aspecto inicia fazendo uma crítica à concentração da matriz na fonte hídrica e apontando alguns desafios a serem superados no setor, que podem ser entendidos como os compromissos do programa:
·         Ampliação da participação de energia renovável na matriz energética brasileira, através da energia eólica, solar, biomassa (principalmente da cana-de-açúcar).
·         Aceleração da implementação de sistemas distribuídos de geração de energia, estimulando investimentos mediante incentivos tributários e tarifários.
·         Realização de avaliação ambiental estratégica e integrada para os novos aproveitamentos hidroelétricos, particularmente os localizados na bacia Amazônica, com ampla divulgação e participação social.
·         Criação de incentivos e metas para a melhoria da eficiência energética em todas as etapas, principalmente entre as indústrias energo-intensivas.
·         Instituição de um Painel de Especialistas para discutir a tecnologia de segurança utilizada na exploração de petróleo na camada do pré-sal e a que será utilizada para exploração do gás de xisto.
·         Destinação de parte dos recursos obtidos a partir da exploração do pré-sal para o desenvolvimento de tecnologia de geração elétrica a partir de fontes renováveis de energia.
·         Articulação entre universidades, agências de fomento à ciência e tecnologia e centros de pesquisa públicos e privados para aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de equipamentos de geração de energia a partir de fontes renováveis.

O programa propõe ainda a criação de “empregos verdes” na geração de energias limpas e investimentos pesados em infraestrutura, com ênfase em energia renovável, entre outros setores.

Mauro Iasi.

Após fazer uma análise de como o capital se apropria do Estado (e consequentemente da energia), o programa defende a propriedade social sobre a produção e distribuição de energia, assim como sobre outros setores importantes. Por isso, mais adiante propõe a imediata reversão das privatizações e estatização de setores estratégicos como energia, comunicação, mineração, recursos naturais, transporte e logística de distribuição e produção.



Pastor Everaldo

Propõe a revisão do modelo de partilha para a exploração de petróleo (provavelmente em favor do setor privado); a desestatização e abertura do mercado para produção e distribuição de energia (mais privatização); a diversificação da matriz utilizando especialmente as fontes solar, hidrelétrica, eólica, nuclear e biomassa; e demais ações (sem maiores detalhamentos) em defesa do aumento da produção, distribuição e consumo de energia barata para os brasileiros.

Dada a “sutileza” com que o(a)s demais candidatos tratam o tema, creio que um único parágrafo seja necessário para apresentar o que se consegue inferir como propostas.

Luciana Genro defende o controle público de áreas estratégicas, entre elas, a energia. O programa de José Maria Eymael cita a energia uma única vez, de forma genérica, como uma das prioridades para o adensamento da infraestrutura nacional, ao lado de estradas, ferrovias e sistema portuário. Zé Maria propõe o monopólio estatal sobre a exploração do petróleo – inclusive com anulação do leilão do Pré-Sal, e a anulação de todas as privatizações, o que pode ser entendido como a reestatização das distribuidoras de energia, por exemplo. Já o programa de Rui Costa Pimenta infelizmente não apresenta nenhuma proposta específica para o setor de energia.

Por fim, observa-se que apenas três (Aécio, Eduardo Jorge e Marina) dos 11 candidato(a)s falam de eficiência energética, por exemplo, o que denotaria puro esquecimento, desconhecimento ou negligência por parte do(a)s demais acerca desta questão tão importante, dado o enorme potencial nesta área que poderia contribuir muito para a diminuição da demanda de energia – e consequentemente para a diminuição da necessidade de oferta.

Observa-se também que a maior parte dos programas defende a diversificação da matriz elétrica brasileira. No entanto, vale dizer que o problema desta matriz não é a diversidade em si de fontes utilizadas. Atualmente nossa matriz já faz uso de cerca de 10 fontes diferentes (considerando a variedade de combustíveis para as termelétricas).

A grande questão é a quantidade em que cada uma destas fontes é aproveitada, o que revela uma enorme concentração nas hidrelétricas e termelétricas e uma absurda subutilização das demais fontes. Falar em diversificação ou ampliação sem falar concretamente em números e metas para tais pode parecer pura retórica que não compromete com mudanças significativas.

Concluo lembrando que no último dia 9 de agosto, por ocasião do Fórum Social Temático “Energia: para quê? Para quem? Como?”, foi promovido um debate[5] entre o(a)s presidenciáveis justamente sobre suas proposições para a área de energia. Acredito que o posicionamento dos presentes também deva servir para aquele(a)s que desejarem balizar seu voto a partir também deste aspecto tão importante para a sociedade.


[1] Engenheiro Eletricista.
Assessor da Campanha “Energia para a Vida”: www.energiaparavida.org / www.umagotanooceano.org
[3] Falta de participação da sociedade no planejamento, matriz altamente concentrada, impactos ambientais e sociais, alto índice de perdas e desperdício, entre outros.
[4] Atlas de Energia Elétrica do Brasil – 3ª Edição. ANEEL: Brasíllia, 2008.
[5] Estiveram presentes os candidatos Eduardo Jorge e Zé Maria e foram representadas a candidata Marina Silva e Luciana Genro. Link: http://fst-energia.org/noticias/fst-energia-promove-dialogo-com-presidenciaveis/

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